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Subconsumo: entenda movimento que ganha força na geração Z

Subconsumo: entenda movimento que ganha força na geração Z

Diferente da ostentação e do consumismo desenfreado que marcaram outras gerações, essa tendência prega um estilo de vida mais minimalista, consciente e econômico

Publicado em 25 de maio de 2025 às 07:29

Comprar menos agora é moda na internet
Comprar menos agora é moda na internet Crédito: Freepik

Nos últimos anos, a geração Z — jovens nascidos entre 1997 e 2010 — tem redefinido padrões de consumo, e um novo movimento vem ganhando força nas redes sociais: o subconsumo. Diferente da ostentação e do consumismo desenfreado que marcaram outras gerações, essa tendência prega um estilo de vida mais minimalista, consciente e econômico.

No TikTok, vídeos com a hashtag #subconsumo ou #underconsumptioncore acumulam milhares de visualizações, mostrando jovens que evitam compras impulsivas, reaproveitam itens e buscam alternativas sustentáveis para o dia a dia.

O fenômeno reflete uma mudança de mentalidade impulsionada por fatores como crise econômica, preocupação ambiental e a valorização de experiências em detrimento de bens materiais. Além disso, gastar menos para muitos funciona como uma maneira de poupar mais para o futuro.

A líder do comitê de Economia do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças no Espírito Santo (Ibef-ES) e doutora em Administração e Ciências Contábeis, Flávia Raposo, explica que o movimento do subconsumo tem como características dos adeptos a esse conceito, por exemplo, a utilização de carros e roupas usadas e apartamentos menores, numa ideia minimalista, que vai na contramão de uma sociedade consumista, que responde aos apelos da propaganda e do consumo por impulso.

"Dois pilares são motivadores do movimento: as questões ambientais, tendo em vista que o consumo em excesso traz impactos para a sustentabilidade do planeta. E, por outro lado, a questão econômica, por meio de compras mais conscientes e estímulo de práticas como 'faça você mesmo', visando redução de despesas. O cerne da ideia é gastar menos do que se ganha, utilizando formas criativas e sustentáveis de consumo", detalha Flávia.

Os jovens adeptos do subconsumo procuram marcas que se alinham a seus valores, com ética, diversidade, responsabilidade social. Quem é adepto ao subconsumo costuma estar preocupado com o meio ambiente

Flávia Raposo

Líder do comitê de Economia do Ibef-ES e doutora em Administração e Ciências Contábeis

Hábitos de subconsumo

  • Comprar somente o que é essencial, principalmente itens de segunda mão, de carros a roupas em brechós
  • Práticas como reciclagem de resíduos e conserto de equipamentos em vez de descarte
  • Compartilhamento de itens, que vai desde uma churrasqueira no condomínio, passa por assinatura de streaming e até carros, com deslocamento compartilhado
  • Reformar roupa para novos usos ou novos estilos, em vez de descartar
  • Adotar a prática do "entra um, sai um" ao comprar algo
  • Cozinhar as refeições com mais frequência para evitar gastos com comida fora de casa ou delivery

Consumo muda nas gerações

Marina Farias, especialista em planejamento financeiro da Me Poupe, lembra dos hábitos de consumo das gerações anteriores à Z. A geração X, por exemplo, dos nascidos entre 1965 e 1981, prioriza preço e qualidade. Já a Y, que engloba quem nasceu de 1981 a 1996, leva em consideração a experiência do cliente.

“Com esse comportamento do subconsumo, a gente cada vez mais entende que não precisa provar para a sociedade que venceu na vida com o consumo. Gerações anteriores precisavam ter o melhor carro; e as mais jovens, hoje, prezam pela experiência e valores. O subconsumo nada mais é quem consome menor de forma intencional, escolhendo ter menos sapatos no guarda-roupa e também não gastar o dinheiro”, explica Marina.

Para ela, entre os pontos para o motivo dessa tendência crescer entre os jovens estão a consciência e a sustentabilidade ambientais. Outro fator é o hábito de poupar para o futuro e para conquistar bens maiores, como uma casa, visto que os imóveis foram ficando mais caros nos últimos anos.

Marina acredita, ainda, que há influência do movimento minimalista, com muita repercussão em streamings. Há também um outro fator, chamado por ela de "revolta positiva", quando os jovens se veem numa posição em que não querem ser como os pais, com mais hábitos de consumo recorrente.

Estudante de olho no tema

Juliana Indami é adepta do subconsumo Crédito: Acervo pessoal

A estudante universitária Juliana IndamI, de 20 anos, conta que conheceu o tema nas redes sociais e começou a pensar mais sobre o assunto, passando a levar algumas das características dessa comportamento para sua vida.

Tenho 20 anos e cresci num meio muito tendencioso ao consumo. Gosto de consumir, mas de uns tempo para cá, até mesmo pensando no lado econômico, passei a procurar coisas mais baratas. Gosto muito de moda, mas não tenho sempre tanto dinheiro para comprar roupa. Aí, quando comecei a ganhar meu dinheiro, passei a buscar opções em bazar

Juliana IndamI

Estudante universitária

Uma das características do subconsumo presentes na vida de Juliana é o hábito de reutilizar roupas ou customizá-las para dar outra utilidade a um item que já tem.

Para ela, essas mudanças na rotina são importantes para poupar mais dinheiro, mas também acabam refletindo em benefícios para o meio ambiente. “Costumo customizar as minhas roupas e usar saia como blusa, por exemplo”, detalha.

A arte de dar uma nova vida a materiais que seriam jogados fora se destaca com propósito de consumo sustentável e de modelo de negócio.

Reflexos nas empresas

Toda essa mudança nos hábitos de consumo tem impacto no início da cadeia de produção, que, muitas vezes, tem que se  adaptar para o novo público consumidor.

Para Flávia Raposo, essas ideias tendem a aumentar a consciência das pessoas e das empresas para buscar novos formatos de produção, dado que durante muitos anos as indústrias focaram na produção, sem levar em conta o efeito que as externalidades negativas de seu processo traziam para o meio ambiente.

"Assim sendo, para se manterem competitivas no mercado, será necessária que quebrem paradigmas institucionais que perduram há séculos e que, por vezes, tem como foco o lucro a qualquer custo", pondera.

Flávia ressalta que a tecnologia e o avanço das redes sociais vêm impactando a sociedade e as empresas. Por isso, ela lembra que é preciso estar atento a novas tendências.

As organizações podem encarar esse tipo de movimento como um simples modismo, porém o que se observa é que, seja por consciência, seja por pressão da escassez, será necessário buscar formas alternativas de produção

Flávia Raposo

Líder do comitê de Economia do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças no Espírito Santo (Ibef-ES)

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