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Retomada do emprego no ES exclui mulheres em 85% das vagas

Retomada do emprego no ES exclui mulheres em 85% das vagas

Dados do Caged apontam que o movimento de contratação, após o período mais crítico da pandemia, tem sido focado na admissão de homens. No entanto, elas foram as que mais perderam postos de trabalho

Publicado em 10 de novembro de 2020 às 21:28- Atualizado há 3 anos

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Desigualdade salarial e discriminação podem aumentar no mercado de trabalho
Desigualdade salarial e discriminação podem aumentar no mercado de trabalho. (Pch.vector/Freepik.com)

Espírito Santo caminha no momento para uma recuperação em V, segundo analistas. As atividades estão sendo retomadas com mais fôlego após o baque profundo da crise provocada pelo novo coronavírus, e, com isso, as empresas já voltam a contratar. Entre julho e setembro, foram criados 16.091 novos postos de trabalho no Estado, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério da Economia.

Essa retomada, entretanto, tem excluído as mulheres, que foram as mais prejudicadas durante a crise. Entre os postos de trabalho fechados no Estado neste ano, 9 em cada 10 vagas eram de mulheres, como A Gazeta mostrou com exclusividade. Já entre as vagas reabertas no terceiro trimestre, 85% ficaram com os homens. 

Os motivos variam. Um deles é que as áreas que habitualmente contam com maior participação masculina foram as que mais criaram novos postos de trabalho. Na construção, por exemplo, foram 4.149 vagas para homens, e 187 para mulheres. Na indústria, foram 5.496 chances para eles, e 808 para elas.

Por outro lado, mesmo em áreas em que usualmente há grande participação feminina é observado um desequilíbrio. Das 3.239 vagas criadas no segmento de serviços, por exemplo, 495 foram destinadas às trabalhadoras e 2.744 à população masculina. No comércio, a participação deles (2.134) alcançou mais que o dobro da participação feminina (1.051).

O único segmento em que a participação de mulheres foi superior é a agropecuária, que, ainda assim, apresentou saldo negativo no período. Foram extintas 192 vagas ocupadas por mulheres, contra 781 vagas masculinas fechadas.

“A gente realmente tem a questão da predominância masculina em algumas áreas. Mas também temos que considerar que a mulher sofre ainda com as obrigações do lar, principalmente as que são mães. Sonho que um dia a gente vai ter isso ainda mais equalizado, mas hoje, é uma situação difícil”, observou o diretor de comunicação da Associação Brasileira de Recursos Humanos no Espírito Santo (ABRH-ES), Fernando Piva.

A necessidade de conciliar a rotina da casa com a vida profissional ficou mais intensa na pandemia, já que as escolas ficaram fechadas por meses, situação que se mantém em escolas municipais e creches sem previsão para mudança, embora as atividades presenciais tenham voltado em colégios particulares e estaduais.

Piva destaca que, para que uma mãe busque emprego, precisa ter alguém que dê suporte, que fique com a criança ou adolescente enquanto ela trabalha. As escolas tiveram a reabertura autorizada, mas ainda com algumas limitações, e nem todas as famílias se sentem seguras o bastante para mandar os filhos de volta à sala de aula.

Fernando Piva, diretor da ABRH-ES
Fernando Piva, diretor da ABRH-ES. (DivulgaçãoABRH-ES)

“Acaba sendo uma preocupação a mais. Além disso, geralmente também cabe à mulher acompanhar parentes idosos, entre outros grupos de risco. Esse cuidado familiar ainda fica por conta delas, e isso acaba dificultando buscar a recolocação”, destaca.

A especialista em carreiras Eliana Machado, da Center RH, pontuou ainda que diversas empresas têm certo receio em contratar mulheres no momento, pois consideram que o surgimento de imprevistos, justamente ligados à família, podem se tornar mais frequentes no atual cenário. “Em tese, não pode haver discriminações, mas, infelizmente, acontece.”

Ela frisa, entretanto, que mesmo nos segmentos em que houve maior número de contratações, a oferta de vagas em cargos que geralmente são mais buscados pelas mulheres, em áreas administrativas, principalmente, ainda não ganharam fôlego. A busca maior tem sido por profissionais de nível operacional.

Neste contexto, as oportunidades que surgiram, em grande parte, no terceiro trimestre deste ano são para profissões de nível médio, justamente onde os homens têm maior participação. Eles ocuparam 10.670 das 13.076 vagas criadas no período.

A presença feminina é superior, principalmente, nas áreas que exigem maior nível educacional. Mas embora tenham mais chances, são maioria em áreas para as quais há menos vagas.

Foram criadas 1.017 chances de nível superior incompleto no período, das quais elas ocuparam 524 colocações. Já para o nível superior completo, tanto mulheres quanto homens tiveram 392 novas oportunidades.

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