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Nova Previdência pode ter capitalização para contornar efeitos da pandemia

Nova Previdência pode ter capitalização para contornar efeitos da pandemia

Regime ainda está em debate, mas ideia é possibilitar um sistema para que trabalhadores de empresas privadas possam acumular recursos para a aposentadoria. Medida pode atingir quem ganha acima de três salários mínimos

Publicado em 18 de junho de 2020 às 06:00

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Paulo Tafner defende a implantação do sistema de capitalização na Previdência
Paulo Tafner defende a implantação do sistema de capitalização na Previdência. (Divulgação)

Um assunto que chegou a ser debatido no Congresso durante a reforma da Previdência pode voltar à pauta. A criação de um sistema de capitalização para as aposentadorias está sendo discutida para tentar reduzir o impacto do coronavírus na economia nacional. A ideia de técnicos da equipe econômica seria criar um sistema complementar, fazendo com que o sistema de repartição do Regime Geral de Previdência - quando ativos contribuem para pagar os inativos - continue existindo.

Pela ideia, ainda embrionária, o trabalhador que receber acima de determinado valor – em torno de três salários mínimos – passaria a fazer parte do sistema capitalização. Já os empregados que recebem menos que este valor a ser determinado continuam apenas no regime de repartição – modelo que funciona atualmente no Instituto Nacional de Seguro Social (INSS).

Um dos idealizadores do regime de capitalização para a Previdência é o economista e doutor em Ciência Política Paulo Tafner. Ele, porém, defende a capitalização para todos os empregados, não apenas para quem está acima de determinada faixa salarial.

“Limitar a capitalização para quem ganha acima de determinado salário é uma das ideias, mas a capitalização pode ser estendida para todos os trabalhadores – não necessariamente para quem ganha acima de X salários mínimos. Mas é óbvio que precisa ter uma garantia do pagamento de um salário mínimo para aqueles trabalhadores que não conseguirem juntar o dinheiro ao longo da vida laboral”, avalia Tafner.

O economista explica que com esse modelo previdenciário a geração de empregos vai ficar mais barata, ajudando o país enfrentar a recessão que está por vir. “Muita gente vem perdendo o emprego com a pandemia. Mudando o sistema você reduz o custo para as empresas contratarem, o que pode facilitar para que essa pessoa que ficou desempregada recupere seu trabalho”, projeta.

O aumento do desemprego no país pode ser visto no crescimento dos pedidos de seguro-desemprego. No Espírito Santo, desde a segunda quinzena de março, 36.780 trabalhadores solicitaram o benefício, segundo dados da Secretaria do Trabalho, do Ministério da Economia. O período coincide com o início da crise econômica provocada pelo avanço da Covid-19 no território capixaba.

E como fazer para ajudar essas pessoas a recuperar o emprego? Segundo Tafner, a saída é reduzir a contribuição previdenciária das empresas. “Hoje paga-se em torno de 20% sobre a folha salarial. Um percentual menor, em torno de 8,5%, aumentaria a possibilidade de emprego, já que você reduz o custo do emprego”, diz.

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O que trabalhador mais quer é emprego, mas com o custo atual é difícil, sobretudo com a pandemia. Basta uma lei para a gente mudar essa realidade. Vejo que o sistema de capitalização é melhor para a empresa porque reduz o custo e melhor para o empregado, porque permite a criação de empregos

Paulo Tafner
Economista e doutor em Ciência Política
Aspas de citação

Tafner lamenta que durante as discussões da reforma da Previdência o assunto tenha sido rechaçado. Para ele, um dos motivos que fez a proposta não ir à frente foi a falta de explicações de como funcionaria o novo modelo.

“O [ministro da Economia, Paulo] Guedes propôs um sistema que retiraria contribuição do empregador. Mas já se sabe que é possível ter uma contribuição de 8,5% de cada parte – empregado e empregador – para se ter os benefícios desse sistema. É preciso conduzir bem o debate, despolitizar essa questão e tirar o véu de ignorância que tem sobre o assunto”.

O economista até destaca que o modelo de capitalização já existe – principalmente no setor público. “Se você pegar um funcionário do Banco do Brasil ele tem um fundo de previdência do banco que faz a capitalização. BNDES tem, Petrobras tem… Para quem ainda não existe capitalização? Para os trabalhadores de renda mais baixa e é necessário dar opção para essas pessoas”, pondera.

“Há vantagens de entrar na capitalização. Uma pessoa poupa mais vai ter uma aposentadoria maior. Você é o dono da sua poupança, não divide com ninguém. Isso reduz a pressão das contas públicas e é possível fazer a capitalização e ter um ganho fiscal”, defende Tafner.

Apesar de defender o tema e acreditar que ele será favorável para o país, Paulo Tafner não acredita que o assunto seja definido durante a pandemia. “Durante a pandemia não, mas pós-pandemia, com medidas para reequilibrar a economia, é uma pauta que seria muito bem-vinda”, conclui.

CORONAVÍRUS RETARDA EFEITO DA ATUAL REFORMA

A recessão econômica provocada pelo coronavírus tem retardado o efeito da reforma da Previdência, em vigor desde o ano passado, nas contas públicas. No ano passado, o rombo do Regime Geral (RGPS) ficou em R$ 213,2 bilhões. Para 2020, a Lei Orçamentária Anual já previa um déficit maior, de R$ 241,2 bilhões – equivalente a 3% do Produto Interno Bruto (PIB).

No entanto, o rombo pode ser ainda maior. Segundo cálculo da pesquisadora Vilma Pinto, da área de economia aplicada do FGV Ibre, a queda pode chegar a 3,8% do PIB, por conta da recessão, somado ao aumento do desemprego e à falência das empresas.

Dados oficiais do governo também indicam tendência de ampliação do rombo. No relatório bimestral de receitas e despesas divulgado em maio, o Ministério da Economia reduziu as estimativas de arrecadação do RGPS neste ano em R$ 34 bilhões.

Apesar da pandemia retardar os efeitos da reforma, o secretário especial adjunto de Previdência e Trabalho do Ministério da Economia, Bruno Bianco, vê a mudança como sendo essencial para o país enfrentar os desafios causados pelo coronavírus.

“O Brasil sem a reforma estaria próxima do caos. O governo só está conseguindo entregar as proteções sociais para a pandemia porque tivemos a possibilidade de fazer a reforma da Previdência. Seria muito difícil fazer o que estamos fazendo e estaríamos numa trajetória fiscal muito mais difícil”, disse Bianco na terça-feira (16) em live com o deputado federal Evair de Melo.

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“A reforma nos proporcionará uma saída da pandemia mais simples, mais fácil. O Brasil tem uma trajetória econômica correta e protetiva tanto no social quanto no fiscal”, avaliou o secretário.

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