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Publicado em 6 de janeiro de 2025 às 08:06
Os municípios de Muniz Freire e Presidente Kennedy, no Sul do Espírito Santo, gastaram mais do que arrecadaram em todos os cinco primeiros bimestres de 2024. É o que indicam os dados do Painel de Controle do Tribunal de Contas do Espírito Santo (TCES), disponíveis neste link. Os dados do sexto e último bimestre do ano não estão disponíveis porque o período ainda está em andamento. >
O indicador do TCES faz um balanço entre as despesas e as receitas. Quando o resultado do bimestre ultrapassa 100%, significa que o município gastou mais do que arrecadou. No caso de Muniz Freire, o primeiro bimestre ficou em 110,27%; o segundo ficou em 110,81%; o terceiro registrou 110,91%; o quarto, 106,87%; e o quinto fechou em 107,79%. Apesar disso, até o momento, o município gastou menos em 2024 do que em 2023, apresentando uma queda de 2,48%.>
O cenário é semelhante em Presidente Kennedy, cidade conhecida por figurar, anualmente, na lista dos maiores recebedores de royalties e participações especiais do petróleo no Espírito Santo. Lá, no primeiro bimestre, o indicador ficou em 101,78%; no segundo, foi de 100,35%; no terceiro bimestre, ficou em 105,73%; no quarto foi de 111,08%; e no quinto, ficou em 118,85%. A cidade também foi a que mais aumentou as despesas correntes até o momento em relação a 2023, com alta de 17,07%.>
A Gazeta procurou os dois municípios para que se posicionassem sobre o assunto, mas não obteve resposta.>
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O secretário-geral de Controle Externo do TCES, Alexsander Binda, explica que o indicador diz respeito às receitas e despesas correntes, que são diferentes das receitas e despesas de capital. “São as duas naturezas de receita e despesa. A receita corrente é a que gera aumento do patrimônio, por exemplo, quando entra uma receita de IPTU (Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana). Já a receita de capital não altera o patrimônio. É quando, por exemplo, a prefeitura vende um veículo, vende um carro para gerar caixa”, detalha.>
Da mesma forma, as despesas correntes são as que alteram o patrimônio, como os gastos com pessoal. Já as despesas de capital não alteram – é o caso da compra de um carro, por exemplo: a administração deixa de ter o dinheiro em caixa, mas acrescenta um bem ao patrimônio. “Com essas duas naturezas, no geral, não deve ser gasto mais do que se arrecada. Se a previsão de arrecadação não for cumprida em um bimestre, por exemplo, o artigo 9º da Lei de Responsabilidade Fiscal diz que a prefeitura precisa limitar as despesas”, exemplifica Binda.>
Ele destaca que, ainda que o município tenha sobra de caixa de anos anteriores, a longo prazo, esse tipo de situação não é sustentável. “Basta pensar como cidadão comum. Se você arrecada menos do que gasta, uma hora a sobra que você tem desaparece e você entra em situação deficitária. Se continuar nessa rotina, vai se endividar, se descapitalizar, pegar empréstimos, afundar a situação cada vez mais”, disse o secretário.>
A economista Tânia Villela, sócia-diretora da Aequus Consultoria Econômica e Sistemas, que elabora o anuário Finanças dos Municípios Capixabas, considera que a situação atual dos entes públicos deve ser analisada a partir de um resgate histórico, iniciado com a pandemia de Covid-19. “Ela causou uma situação muito diferente. Os municípios receberam muitos auxílios financeiros do governo federal, existia um temor de caos nas finanças públicas. E esse caos não ocorreu, porque os entes públicos também gastaram menos”, lembra. >
“Houve, então, uma redução das despesas, e um aumento de receita vindo dos auxílios financeiros. Os municípios deixaram de gastar em várias frentes: a paralisação das escolas, de eventos culturais, com atividades presenciais de órgãos públicos. Em parte até na saúde, muitos procedimentos eletivos deixaram de ser feitos. O gasto com pessoal foi congelado. E isso proporcionou aos municípios uma disponibilidade financeira, dinheiro em caixa”, analisa a especialista.>
Tânia afirma que, para ver se o município tem déficit ou superávit fiscal, é preciso olhar a disponibilidade de caixa. "Ele pode ter um volume tão grande de dinheiro em caixa que pode fazer um déficit fiscal, porque será facilmente coberto pelo dinheiro que está sobrando”, avalia. >
No caso de Presidente Kennedy, por exemplo, a última edição do anuário Finanças dos Municípios Capixabas indica que a cidade teve a segunda maior disponibilidade de caixa de recursos não vinculados do Estado, com R$ 425,2 milhões em 2023. Já Muniz Freire terminou o ano passado com disponibilidade de R$ 1,2 milhão. >
Tânia Villela ainda lembra que os prefeitos que assumirão mandatos em 2025 precisam dar atenção especial ao tema. “A gente vem alertando que é um ano para que os novos gestores tomem ciência da situação. É um momento que vai exigir mais cuidado com as contas públicas. O cenário de bonança que ocorreu até 2024 não vai se repetir. Então, é o momento de rever despesas, gastos, contratos e melhorar a eficiência”, afirma.>
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