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Codesa é privatizada por R$ 106 milhões para fundo de investimentos

Codesa é privatizada por R$ 106 milhões para fundo de investimentos

Além do bônus de outorga, consórcio também assumirá a concessão do Porto de Vitória e do Terminal de Barra do Riacho (Aracruz), num contrato de 35 anos, em que estão previstos investimentos de mais de R$ 850 milhões; saiba mais

Publicado em 30 de março de 2022 às 12:38- Atualizado há 2 anos

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Companhia Docas do Espírito Santo (Codesa) foi vendida por R$ 106 milhões a Quadra Capital, representada pela FIP Shelf 119 Multiestratégia, em leilão realizado nesta quarta-feira (30). O projeto de privatização havia recebido duas propostas, sendo a outra do Consórcio Beira Mar . É o primeiro leilão de uma estatal do setor portuário no país e servirá como um tipo de “teste” para privatização de outros portos, inclusive o de Santos (SP).

Além de arrematar a Codesa, a empresa também assumirá a concessão do Porto de Vitória e do Terminal de Barra do Riacho (Aracruz), num contrato de 35 anos, em que estão previstos investimentos de R$ 850 milhões, sendo R$ 335 milhões na ampliação dos portos. No certame, o consórcio ganhador foi representado pela corretora Necton.

Complexo Portuário de Vitória, Companhia Docas do Espirito Santo, (Codesa)
Privatização da Codesa servirá de teste para outras desestatizações no setor portuário. (Fernando Madeira)

FIP Shelf 119 ofereceu o maior ágio sobre a outorga mínima — estabelecida em R$ 1. Já o consórcio Beira Mar, representado pela XP, ofereceu R$ 101 milhões.

Com a desestatização, a Codesa deixa de ser uma empresa pública e torna-se de capital privado após o pagamento de R$ 326 milhões por suas ações. O fundo de investimentos também assume os compromissos e o endividamento existente na companhia. Optou-se por um modelo híbrido de administração portuária, pioneiro no país. A licitante também teve que pagar pelo direito de exploração dos portos de Vitória e Barra do Riacho. Ou seja, no mesmo leilão, arrematou os dois ativos.

O modelo é diferente daquele aplicado nos aeroportos, por exemplo, em que apenas as concessões foram tratadas nos processos. Naquele caso, a Infraero seguiu uma empresa pública, mas não mais administra as unidades concedidas. No caso da Codesa, o governo federal fez uma opção por inclui-la na venda.

Codesa é privatizada por 106 milhões de reais para fundo de investimentos

O Porto de Vitória tem um portfólio de cargas consolidado e uma posição favorável de acessos rodoviário e ferroviário. Segundo o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), os estudos indicam potencial para dobrar a movimentação de cargas, de 7 milhões de toneladas para 14 milhões de toneladas por ano ao longo da concessão. São 500 mil metros quadrados e 14 berços de atracação disponíveis.

Já o Terminal de Barra do Riacho, no Norte do Espírito Santo, é especializado no embarque de celulose, e conta com uma movimentação atual de 8 milhões de toneladas por ano. De acordo com o banco, dos 860 mil metros quadrados de área total disponível, 522 mil metros quadrados são greenfield - ou seja, para projetos que começam do zero - e poderão ser destinadas a novas atividades na zona portuária.

Além da cifra desembolsada no processo de aquisição da companhia e de autorização para exploração dos portos, a futura concessionária deverá realizar alguns investimentos obrigatórios.

De imediato, o arrendatário deverá aportar R$ 55 milhões na recuperação estrutural de todo o complexo portuário, R$ 34 milhões na recuperação dos berços dos terminais Peiú e de São Torquato e mais de R$ 270 milhões na modernização do canal de acesso, segundo informações do Ministério da Infraestrutura.

Também estão previstos R$ 10 milhões como contrapartida na reforma de armazéns e em melhorias urbanas no acesso ao porto. “Esse contrato pioneiro tem o potencial de mudar todo o cenário do nosso setor portuário”, afirmou o secretário nacional de Portos e Transportes Aquaviários, Diogo Piloni.

Estudos preveem que, com a desestatização, as receitas dos portos quadrupliquem durante o período de concessão. O BNDES estima que a receita líquida da Codesa deve saltar de cerca de R$ 170 milhões no primeiro ano, para R$ 710 milhões ao final de 35 anos.

PROGRAMA DE DEMISSÃO VOLUNTÁRIA

A desestatização também prevê a vedação de demissões do atual quadro de funcionários sem justa causa por 12 meses e apresentação de um Programa de Incentivo ao Desligamento Voluntário (PIDV).

No dia 30 de março, o MInfra informou que o programa seria custeado por até 10% das ações vendidas pela União (cerca de R$ 32,6 milhões).  Posteriormente, entretanto, esclareceu que o PIDV será custeado pelo novo controlador da Codesa. Quem aderir ao PIDV, abre mão da estabilidade temporária.

Complexo Portuário de Vitória, Companhia Docas do Espirito Santo, (Codesa)
Empresa também terá concessão dos portos de Vitória e Barra do Riacho (Aracruz) por 35 anos. (Fernando Madeira)

ENTENDA AS FUNÇÕES DA NOVA CODESA

O porto é um condomínio de infraestrutura para movimentação multimodal de cargas e suas operações dependem de cada tipo de carga, equipamentos necessários, modalidades envolvidas, entre outros fatores. Essas operações costumam acontecer em terminais portuários. O Terminal Portuário de Vila Velha (TVV), por exemplo, é um terminal para operação de contêineres.

Via de regra, a gestão de um porto é composta por cinco funções básicas:

  • Provedor de infraestrutura: acesso ferroviário, rodoviário, dutoviário, acesso marítimo, rede de energia, sistema de esgoto, de água, infraestrutura de cais, rodovias internas, etc.; 
  • Provedor de serviços: manutenção de infraestruturas, segurança, rebocadores, praticagem, sinalização, radares, limpeza, monitoramento ambiental, plano de contingências, etc.; 
  • Harmonização da atuação de autoridades: são cerca de 29 autoridades atuantes no comercio exterior. O trabalho harmônico, a oferta de condições de trabalho dessas autoridades, etc.; 
  • Operação portuária: carga e descarga de mercadorias de navios, caminhões, trens e movimentação e armazenagem de cargas na área portuária; 
  • Provedor de área: o porto provê áreas para a realização das diversas operações. Essas áreas podem ser disponibilizadas para operadores que precisem de áreas exclusivas para fazer os seus investimentos na operação.

Com a privatização, haverá maior participação privada nessas áreas, inclusive com investimentos. Essas funções relacionadas à gestão do porto, portanto, passarão por algumas mudanças, conforme já mostrou A Gazeta.

  • Provedor de infraestrutura: hoje, praticamente toda a infraestrutura é financiada por recursos públicos. O objetivo é que o novo concessionário tenha a obrigação desses investimentos (dragagem, melhoria do acesso, etc.); 
  • Provedor de serviços: atualmente, vários serviços são privados, como praticagem e rebocadores, por exemplo, outros são exercidos pela autoridade portuária pública, que passarão a ser de obrigação do gestor privado (VTMIS, portaria de acesso, segurança de todo o porto, entre outros; 
  • Harmonização de autoridades: será exercida pelo governo, com o apoio de sistemas e informações do concessionário; 
  • Operação portuária: já é privada desde 1993. As empresas do governo não fazem operação portuária desde então; 
  • Provedor de áreas: é o ponto principal. O modelo a ser adotado pressupõe que o gestor do porto possa prover áreas para operadores privados que queiram realizar as operações de carga, descarga e armazenagem. Atualmente, isso é feito pelo Ministério da Infraestrutura (poder concedente) em leilões de arrendamento. No novo modelo, o concessionário passa a deter o poder de ceder áreas de operação.

*Com informações da Agência Estado

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Errata Correção
1 de abril de 2022 às 14:52

Inicialmente, o Ministério da Infraestrutura informou que o Programa de Incentivo ao Desligamento Voluntário (PIDV) da Codesa seria custeado por até 10% das ações vendidas pela União. No entanto, após a publicação da reportagem, o MInfra se corrigiu e esclareceu que o PIDV será custeado pelo novo controlador da Codesa. O trecho foi corrigido.

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