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Publicado em 22 de agosto de 2025 às 11:56
O número de passageiros transportados em voos domésticos no Aeroporto de Vitória é menor do que o de 2012, apesar do aumento no índice de pessoas que passam pelo terminal registrado nos últimos meses. É o que mostra um levantamento feito por A Gazeta a partir de dados da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). >
Em 2012, foram 1,7 milhão de passageiros. Dez anos depois, em 2022, o registro foi de cerca de 1,2 milhão, número que chegou a 1,59 milhão no ano seguinte e teve uma leve queda em 2024, com 1,505 milhão de passageiros. O fenômeno ocorre em todo o país e é tratado pelo setor aéreo como “década perdida”.>
O que chama a atenção na capital capixaba é que, em 2012, o terminal era menor que o atual, contava com somente uma pista e, ainda assim, recebia mais passageiros que a estrutura atual inaugurada em 2018 e administrada pela Zurich Airport desde 2020.>
De acordo com a Anac, em 2012, foram contabilizados 1,7 milhão de passageiros. O índice se manteve estável até 2015 e voltou a cair em 2016, diante das consequências da crise econômica do período que levou à retração do Produto Interno Bruto (PIB) e ao aumento do desemprego. Em 2018, houve uma recuperação, mas, logo depois, o setor foi profundamente abalado pelas restrições impostas pela pandemia de Covid-19, como explica o economista Bruno Imaizumi, da 4intelligence.>
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“A gente teve duas crises entre esse período de 2014 e 2024. Mal tinha se recuperado da crise entre 2015 e 2016 e chega a pandemia de Covid-19, que restringe a circulação de passageiros, com o intuito de evitar uma propagação maior da doença. Realmente, o setor aéreo considera mesmo uma década perdida, mas, quando a gente olha um pouco mais para frente, faz uma projeção, há boas expectativas, porque há uma tendência de crescimento relativamente contínuo da economia”, contextualiza.>
Entenda como os dados são contabilizados
Enquanto a Anac leva em conta somente a origem para contabilizar o número de passageiros, a Zurich entende que houve embarque e desembarque (ida e volta no mesmo aeroporto). Dessa forma, os números da administradora acabam sendo o dobro que os divulgados pela agência. Por exemplo, se a Anac informar que o fluxo foi de 100 mil em um mês, a concessionária entende que o índice foi de 200 mil.
O economista avalia que, além das crises econômicas, o setor é afetado pela baixa competitividade, altos custos e uma cultura que acaba privilegiando destinos internacionais e não nacionais.>
“O Brasil sempre privilegiou algumas grandes empresas, a gente tem uma competitividade relativamente fraca, tem poucas grandes empresas operando no país. Isso é ruim para o consumidor, para as empresas que acabam sendo menos eficientes do que gostariam. Os custos do setor também são muito elevados, e as empresas acabam entrando em recuperação judicial, o que a gente tem observado nesses últimos anos. Tem uma questão cultural também. A gente nunca olhou muito para o Brasil em si como rota de turismo. O brasileiro de classe média alta opta por viajar para destinos internacionais. Isso dificulta para algumas regiões do país, como Vitória, que não tem rotas internacionais”, destaca.>
Os custos do setor também são muito elevados, e as empresas acabam entrando em recuperação judicial, o que a gente tem observado nesses últimos anos. Tem uma questão cultural também. A gente nunca olhou muito para o Brasil em si como rota de turismo. O brasileiro de classe média alta opta por viajar para destinos internacionais. Isso dificulta para algumas regiões do país, como Vitória, que não tem rotas internacionais”, destaca.>
Por meio de nota, a Zurich destacou que outro fator que atrapalhou a recuperação nos últimos anos foi a limitação de pousos no Aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro, em 2024, que chegou a gerar a redução de 47% na oferta de assentos para a capital carioca. Isso acabou afetando o resultado do ano passado, quando foram registrados menos passageiros no terminal que em 2023.>
O fluxo de passageiros no Aeroporto de Vitória se insere em uma discussão crucial para o futuro da economia do Estado, que deve ser fortemente impactado pela reforma tributária.>
A reforma prevê que a tributação seja no destino e não mais na origem. Dessa forma, Estados com população maior e que consomem mais são beneficiados. O que não é o caso do Espírito Santo. Assim, o governo estadual aposta que o turismo vai ser o principal pilar para promover arrecadação.>
Ocorre que estudos da própria Secretaria de Estado do Turismo (Setur) mostram que a maioria dos turistas ainda chega ao Estado pelo modal terrestre. Para mudar essa situação e aumentar o fluxo aéreo, a pasta tem desenvolvido ações de capacitação com as agências, para vender melhor os atrativos capixabas em outras regiões.>
“Nós temos uma ocupação de basicamente 80% em nossas aeronaves. A Zurich tem nos ajudado a dialogar com as companhias aéreas para que a gente utilize parte desse percentual ocioso com tarifas melhores para criação de pacotes, para as pessoas virem passear. Hoje, o nosso maior turismo é o de negócio. O que a gente tem não dá para ser só de negócio. Tem que também ser turismo de lazer”, afirma Lorena Vasques Silveira, subsecretária de Estado de Estudos, Negócios, Planejamento e Infraestrutura Turística.>
A expectativa é que, caso a economia brasileira continue em expansão, o fluxo de passageiros no terminal capixaba cresça e, inclusive, supere o recorde anual atingido em 2012.>
“Se a economia se mantiver nesse ritmo de crescimento, por mais que tenha uma moderação mais para frente, é muito provável que o Aeroporto de Vitória registre novos recordes mensais e anuais nos próximos anos por conta da estabilidade econômica. A gente deve superar o patamar de 2014. Se forem comparados sempre com os mesmos meses, a gente vê que o ano de 2025 foi o maior para os mesmos meses dos anos anteriores. É muito possível que a gente registre novos recordes”, projeta Imaizumi.>
Essa também é a expectativa da administradora do terminal. Segundo dados da Zurich, em 2025, o aeroporto vem, mês a mês, superando a movimentação de anos anteriores. De janeiro a julho deste ano, passaram pelo terminal 11% mais passageiros do que no mesmo período do ano passado.>
Posicionamento da Zurich
"A Zurich Airport Brasil tem, em sua estrutura corporativa, uma área focada exclusivamente no desenvolvimento de rotas e por consequência na atração de mais passageiros. O trabalho é realizado em diversas frentes, entre elas, utilização de ferramentas de mapeamento de demanda de passageiros, com dados dos principais mercados de conexão e das taxas de ocupação das rotas.
Esses relatórios são apresentados em reuniões frequentes com as cias aéreas, demonstrando a elas a demanda do aeroporto de Vitória; uma outra frente fundamental é o trabalho junto ao trade turístico, unindo entes públicos e privados na promoção do destino Espírito Santo para atração dos viajantes de lazer.
A concessionária também oferece programas de incentivo para as cias aéreas. Importante ressaltar ainda a boa e competitiva política de ICMS sobre o querosene de aviação do governo do Espírito Santo, uma prática adotada pela maioria dos estados brasileiros para atrair mais voos - visto que o principal custo de uma cia aérea é o combustível."
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