Sandra Bassani, professora e diretora-geral do Ifes de Linhares
Sandra Bassani, professora e diretora-geral do Ifes de Linhares
Sandra Bassani

“Todos concordavam que a educação precisava ser mediada pela tecnologia”

Professora e diretora-geral do Ifes de Linhares, Doutora e Mestre em Letras, a educadora reflete sobre os impactos provocados pela pandemia no ensino, que passou a ter a tecnologia como grande aliada no processo. Mudanças que já poderiam ter ocorrido antes, mas agora tornaram-se urgentes

Sandra Bassani, professora e diretora-geral do Ifes de Linhares
Publicado em 09/08/2020 às 19h10

A pandemia do novo coronavírus mudou a forma como o sistema educacional funcionava e adiantou processos que antes ainda estavam sendo planejados. O uso das diversas tecnologias, modelos de ensinos e práticas de aprendizagem também passaram e continuam passando por um processo de transformação.

Diretora-geral do Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes) de Linhares, Sandra Bassani reforça essa transformação. Ela, que também é Doutora e Mestre em Letras, além de professora atuante, destaca que as mudanças provocadas pela pandemia chamaram a atenção para os investimentos em tecnologia, grande aliada nesse processo.

Em entrevista para A Gazeta, Sandra analisou o uso das tecnologias no processo educacional e destacou os desafios que serão enfrentados, na visão dela, no período pós-pandemia. Nesse sentido, incentivar novas práticas, buscar investimentos e lutar por um ensino de qualidade são algumas das soluções apontadas pela educadora. Confira a entrevista abaixo:

A educação é, sem dúvidas, uma ferramenta essencial para o desenvolvimento humano. Com a pandemia do novo coronavírus, quais problemas ficaram mais visíveis?

Um dos maiores problemas é a falta de acesso às tecnologias. O desenvolvimento humano pressupõe munir as pessoas de capacidades, habilidades e oportunidades de crescimento, não só no campo pessoal, mas acadêmico e profissional. E esse crescimento passa pelo mundo digital. Sem isso, esse desenvolvimento está, hoje, incompleto.

Dessa mesma forma, você acredita que houve mudanças positivas nesse período?

Sim. Uma das mudanças positivas é que muitos alunos que não tinham contato com a tecnologia passaram a ter, em diferentes níveis. Há aqueles que não tinham acesso à internet, nem a equipamentos e que, com a pandemia, tiveram ajuda governamental de inclusão. Outros usavam a tecnologia de forma tímida, para usar aplicativos de mensagens ou acessar as redes sociais e que, com a implementação das aulas virtuais, tiveram que conhecer e dominar ferramentas digitais mais formais e robustas.

Com a pandemia, o uso da tecnologia passou a ser vital para que o sistema não fosse totalmente interrompido. Como você avalia essas mudanças?

Essa mudança foi muito positiva, pois nos tirou, de forma geral, do plano de “usar a tecnologia no futuro” e nos colocou para usar a tecnologia agora, sem adiamentos. Todos concordavam que a educação precisava e precisa ser mediada pela tecnologia, mas poucos ousaram, no ensino regular, a fazer mudanças (muito necessárias) no ensino tradicional. Com a pandemia, não tivemos escolha. A necessidade chegou, sem espera, sem postergações.

A educação, principalmente de jovens e adultos, passa por um processo de transformação frente às novas tecnologias. Qual o papel do educador nesse desafio? Ainda falta investimento?

A educação de jovens e adultos traz um desafio maior para o educadores porque muitas pessoas nessa fase são resistentes a mudanças, principalmente com uso da tecnologia para substituir tarefas, escolares ou não, que antes elas faziam de forma confortável. O papel do educador nesse cenário é o de estimular, “desafiar positivamente” o aluno para ele cresça acadêmica e profissionalmente, trabalhar para que o aluno não tenha medo de mudar, de errar, recomeçar, avançar.

Na sua visão, quais os principais desafios que ainda precisam ser enfrentados?

Um dos maiores desafios é mostrar, convencer as pessoas da necessidade de investir na própria formação. Muitos chegam a um determinado nível e depois não caminham, mesmo sendo necessário. A consequência é que vão perdendo espaço no mundo do trabalho e muitas vezes, nem percebem. Só se dão conta quando estão fora dos empregos formais e essa situação piora a volta à escola, o que se torna um círculo vicioso que prejudica o crescimento das pessoas e do país.

Qual seria o segredo para uma educação mais eficiente e inclusiva?

Para uma educação mais inclusiva é necessário atender a necessidades específicas dos alunos, abrir caminhos, dar acesso aos bens educacionais de forma mais individualizada. A educação eficiente perpassa pelo estímulo à formação continuada, à busca de solução para os problemas cotidianos, a pesquisa, o saber científico.

O que ainda falta para que o país, os Estados e os municípios consigam avançar na qualidade do ensino?

É preciso ter um planejamento, um plano de ação factível, de médio prazo, que resolva questões mais urgentes. Não adianta fazer um plano para 20 anos que fica na gaveta, que ninguém executa. O ideal seria que cada ente federado fizesse seu planejamento para resolver problemas específicos e avançar, sempre observando o Plano Nacional de Educação, que estabelece metas para o país, mas com foco em questões locais.

O que os educadores poderão tirar de lição desse período da pandemia?

Uma lição importante é que, apesar de todas as coisas negativas que nos trouxe a pandemia, o que pode ficar de positivo é o despertar da consciência da necessidade de mudança na educação tradicional e a constatação de que, mesmo sem ter, inicialmente, uma formação tecnológica ideal, as escolas, professores e alunos estão conseguindo romper seus limites e avançar em um novo modelo de educação que está surgindo e vai se estabelecer.

O que esperar dos alunos nesse “novo normal”?

Na educação, esse “novo normal”, que inclui aulas mediadas pela tecnologia, e no período pós-pandemia vai contar também com aulas presenciais, vai gerar um modelo de educação híbrida, em que o aluno é mais protagonista de sua aprendizagem a partir do momento em que faz mais buscas, entra em contato com mais fontes de conhecimento, desenvolve habilidades extraclasses, e isso é muito bom para uma formação mais completa. A tendência é que com a estabilização do modelo híbrido, no futuro, o próprio termo “educação” dê conta de expressar esse novo formato.

Falando do Ifes de Linhares, como a pandemia impactou na forma de ensinar e de planejar a educação para esses alunos?

Os cursos de graduação e pós-graduação que já eram ofertados via EaD não tiveram impacto, uma vez que seguiram normalmente seus formatos. Em relação a outros cursos, principalmente os técnicos de ensino médio tiveram uma mudança significativa, pois mudou do formato totalmente presencial para o formato totalmente virtual. Isso demandou muito planejamento, formação e treinamento de professores e alunos.

Quais os principais desafios e conquistas nesse período?

Um dos maiores desafios foi a inclusão digital de nossos alunos, mas conseguimos fazê-lo. Também os estudantes com necessidades específicas demandaram mais atenção para se adaptar, mas buscamos atender da melhor forma.

Qual a mensagem você deixa para os educadores e estudantes que estão vivenciando esse período de transformação?

Que aproveitem este momento para investir na formação, na ressignificação de conhecimentos e na descoberta de novos caminhos acadêmicos e profissionais.

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