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Roda de conversa debate falta de profissionais negros em altos cargos

Roda de conversa debate falta de profissionais negros em altos cargos

O evento, promovido pela Rede Gazeta, teve a participação de convidados que são referências em suas áreas de atuação

Publicado em 20 de novembro de 2023 às 20:10

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Roda de Conversa
A repórter Elis Carvalho (centro) acompanhada dos convidados da roda de conversa: Luiz Cláudio, Bryce, Hellen e Ângelo. (Carlos Alberto Silva)
Eduarda Lisboa
Estagiária / [email protected]

O quão longe você já se imaginou chegar? Esse foi um dos principais pontos discutidos na roda de conversa “Coisa de Preto: a presença afro-brasileira muito além do que contam os livros de História”, que propiciou debates sobre representatividade de pessoas negras nos mais diversos espaços. 

No evento, promovido pela Rede Gazeta nesta segunda-feira (20), que marca o Dia da Consciência Negra, os convidados contaram sobre suas experiências de vida e, principalmente, no mercado de trabalho. Em todas as vivências, algo em comum: a falta de representatividade de pretos e pardos ocupando profissões de destaque foi um obstáculo na trajetória de todos.

Para o especialista em Inovação Ângelo Santos, a pessoa negra tem total capacidade e perfil para alcançar cargos de destaque, porém, por não enxergarem semelhantes, não chegam nem a sonhar com essa possibilidade.

“Eu mesmo nunca pensei em me tornar gerente de projeto de inovação, porque não havia pessoas como eu na área. Hoje, atuando nesse mercado, percebo que a pessoa negra tem o perfil exato para atuar em inovação e desenvolvimento, pois tem habilidades como criatividade e adaptabilidade que foram desenvolvidas pelas experiências de sobrevivência em uma sociedade cruel e racista”, ressaltou Santos.

Ser uma minoria em determinados espaços, como faculdades, cargos de tomada de decisão, lugares de alta classe, é uma rotina na vida de pessoas pretas e pardas. Luiz Cláudio Pereira, coordenador de Políticas dos Direitos da População Negra (CPDPN) da Secretaria de Cidadania, Direitos Humanos e Trabalho (Semcid), contou que, por muitas vezes em sua trajetória, ele era o único negro no local.

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Na minha pós-graduação, eu não apenas era o único negro na sala, era o único negro de toda a instituição. Eu cresci com zero referências de pessoas negras na minha área profissional, e não sou o único

Luiz Cláudio Pereira
Coordenador de Políticas dos Direitos da População Negra da Semcid
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Como professor universitário, acrescentou ele, muitas vezes os alunos acharam que a aula era algum tipo de 'pegadinha', que ele não podia ser o educador.

"Isso mostra o quão desacostumada a sociedade está de ver pessoas negras em cargos de destaque”, constatou Luiz Cláudio, que também é diretor do Instituto Oportunidade Brasil.

Para garantir igualdade de oportunidades, políticas públicas têm que ser pensadas para esse público. Mas, atualmente, entre os 513 deputados que compõem a Câmara Federal, apenas 107 são pardos e 27, pretos. No Senado, dos 27 que se elegeram para a Casa em 2022, seis se autodeclaram negros. No total, pretos e pardos representam apenas 25% dos 81 senadores do país. 

Nos cargos de representação política capixaba, o Espírito Santo não conta com um governador negro há 28 anos — o total de seis mandatos. Na Assembleia Legislativa, pretos e pardos são apenas um terço dos deputados estaduais eleitos. 

Mas a baixa representatividade vai além da política. Na avaliação da comunicadora e influenciadora Bryce Caniçali, na mídia, na medicina, no direito, na educação superior, entre outros espaços, a presença de pessoas negras ainda é uma excepcionalidade.

“Precisamos lembrar que ‘a favela ainda não venceu’. Todos nós que estamos aqui somos exceções à regra. Muitas pessoas negras, além de não terem oportunidades de empregos que fujam do serviço e da submissão, não têm sequer perspectiva de algo melhor. Não podemos esquecer deles em prol de poucos que alcançaram algum lugar de poder”, ressaltou a influenciadora.

Compreendendo o quão desaminadora pode ser a experiência de ser única pessoa negra em qualquer espaço, sem referências de iguais para seguir, a advogada Hellen Tiburcio comentou sobre a importância da rede de apoio para qualquer pessoa que busca novas oportunidades para mudar de vida.

Ela lembra que, quando entrou na faculdade, era recém-casada, jovem, mãe e a primeira da família a fazer uma graduação em Direito. 

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Eu ouvi de tudo, que era uma ‘preta metida’ e que eu não iria conseguir. Se não fosse a minha mãe dizendo o tempo todo que ela estava ali segurando a minha mão, eu teria desistido. Se você é uma pessoa negra, se cerque de pessoas que vão te ajudar e te incentivar sempre

Hellen Tiburcio
Presidente da Comissão de Igualdade Racial OAB/ES
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A roda de conversa, aberta à comunidade, foi mediada pela repórter Elis Carvalho, do Em Movimento, da TV Gazeta. 

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