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Restos mortais de dom Silvestre serão levados para a Catedral de Vitória

Restos mortais de dom Silvestre serão levados para a Catedral de Vitória

Corpo do arcebispo de Vitória entre os anos de 1984 a 2004 ficou enterrado em Vila Velha por cinco anos a pedido do próprio religioso, registrado em seu testamento

Publicado em 26 de fevereiro de 2024 às 12:20

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Dom Silvestre Scandian, arcebispo de Vitória entre os anos de 1984 a 2004, foi uma importante voz no combate à corrupção e ao crime organizado no Espírito Santo
Dom Silvestre Scandian, arcebispo de Vitória entre os anos de 1984 a 2004, foi uma importante voz no combate à corrupção e ao crime organizado no Espírito Santo . (Chico Guedes/ Arquivo A Gazeta)

Os restos mortais de dom Silvestre Scandian, arcebispo de Vitória entre os anos de 1984 a 2004, vão ser transferidos do Cemitério do Bosque, em Vila Velha, para a cripta da Catedral Metropolitana, em Vitória. Em 16 de fevereiro de 2019, ele foi enterrado no cemitério do bairro Alvorada a pedido do próprio religioso. Foi um desejo registrado em seu testamento, de passar cinco anos sepultado junto aos pais. 

A exumação foi realizada nesta segunda-feira (26), com a presença de familiares e o cura da Catedral, padre Renato Criste (veja vídeo abaixo). A transferência definitiva para a catedral acontece no dia 2 de março, após a missa das 18h. 

A Arquidiocese de Vitória, em seu site oficial, convidou os fiéis para participar da cerimônia, que vai homenagear a trajetória de Dom Silvestre e sua dedicação à Igreja. 

Um dos grandes legados de Dom Silvestre foi a participação ativa e articuladora no movimento que marcou a história capixaba, o Fórum Reage Espírito Santo, que uniu igrejas, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e a sociedade civil organizada. Atuaram juntos, entre os anos de 1990 e o início dos anos 2000, no enfrentamento da corrupção e do crime organizado que levou o Espírito Santo a ser o segundo Estado, proporcionalmente, mais violento no Brasil.

Por suas ações na luta anticorrupção e pelos direitos humanos, recebeu diversas ameaças, mas nunca aceitou proteção policial. Em julho de 2003, dom Silvestre foi esfaqueado no peito por um suposto fiel, na Arquidiocese da Capital.

Na cripta da Catedral de Vitória estão enterrados outros arcebispos e bispos que atuaram no Estado, dom Benedito de Paulo Alves de Souza, dom Luiz Scortegagna, dom João Batista da Mota e Albuquerque, dom Luiz Mancilha Vilela, dom Geraldo Lyrio. Veja vídeo abaixo.

“É norma interna da Igreja Católica que bispos sejam sepultados na cripta de sua catedral”, como explicou o padre Paulo Régis para reportagem de A Gazeta, em 2019. No local, localizado em uma parte subterrânea do edifício da Catedral, estão os restos mortais de sacerdotes importantes para o Espírito Santo como forma de lembrança do trabalho que fizeram desde o começo da Arquidiocese da Capital.

Vida dedicada ao bem

Warllem Soares da Silva, ex-seminarista e fotógrafo, que trabalhou com Dom Silvestre, lembra do seu jeito “tranquilo, sereno e de sua bondade”. “Era transformador conviver com ele. Fazia questão de visitar todas as comunidades, principalmente as localizadas em periferias, onde mais frequentava”, relata.

Ele conheceu o arcebispo na obra de uma igreja, onde atuava como pedreiro. “Ele conversava comigo todos os dias e eu não sabia que ele era o arcebispo. Um dia me deu a oportunidade de entrar para o seminário”, relata.

Ele estava com o arcebispo no dia em que foi esfaqueado. “Eu o encontrei com a mão contendo o ferimento. Me relatou que pensou que o agressor fosse lhe dar um abraço e abriu os braços. Durante todo o tempo ele manteve a serenidade”, conta.

Warllem Soares da Silva, ex-seminarista e fotógrafo, trabalhou com Dom Silvestre: “Era transformador conviver com ele
Warllem Soares da Silva, ex-seminarista e fotógrafo, trabalhou com Dom Silvestre: “Era transformador conviver com ele", diz. (Acervo pessoal)

Dom Silvestre foi o segundo Arcebispo Metropolitano de Vitória do Espírito Santo. Chegou a Vitória em 1981, como Arcebispo Coadjutor de Dom João Batista da Mota e Albuquerque. Deu continuidade à organização da igreja em pequenas comunidades, as CEB’s que vinham desde a década de 1960 e assumiu a opção preferencial pelos pobres. Apoiou os movimentos populares, as pastorais sociais e grupos de direitos humanos. Em seus pronunciamentos era incisivo quando se tratava de Direitos Humanos e defesa da vida.

Foi durante a sua gestão que o papa João Paulo II (1991) visitou o Estado. Ele também realizou em Vitória do XIII Congresso Eucarístico Nacional (1996)

A partir de 2010 começou a apresentar sinais de ausências e falhas de memória que evoluíram para a doença de Alzheimer e passou a ter uma vida mais reclusa sob a atenção de cuidadores. Em setembro de 2018 para poder receber mais cuidados foi para a cidade de Juiz de Fora (MG) onde ficou na Casa de repouso dos padres do Verbo Divino, Congregação à qual Dom Silvestre pertencia. Por conta de uma infecção foi internado no mês de outubro do mesmo ano, onde permaneceu até a morte.

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