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Publicado em 17 de setembro de 2025 às 16:37
Em 2024, após a aplicação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), o g1 apurou que corretores de redação haviam recebido orientação para descontar pontos de candidatos que utilizassem repertórios socioculturais “de bolso” ou "coringas" – aquelas citações genéricas ou frases feitas que são usadas em qualquer situação, como um modelo pré-pronto de texto. O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), responsável pela prova, não confirmou nem negou a informação, mas o assunto tem sido analisado por especialistas da área. >
Para a professora de redação Jô Kutz, que conduziu o aulão promovido por A Gazeta em parceria com o curso preparatório Gama Pré-Vestibular, no último sábado (13), a tendência merece atenção dos estudantes. Segundo ela, ao analisar redações nota mil, é possível perceber que, embora apareçam repertórios conhecidos como “coringas”, os textos sempre vêm acompanhados de exemplos mais específicos e próximos do tema.>
De acordo com Jô, o edital do Enem 2025 não trouxe nenhuma menção sobre penalização do uso de modelos pré-prontos ou repertórios genéricos. Ainda assim, os alunos devem se manter atentos e adaptar suas estratégias de estudo. >
Para a especialista, a preocupação surge porque a redação pode estar se distanciando de sua função principal, que é avaliar a capacidade crítica, a análise de um tema e o desenvolvimento de ideias. “Há o risco de a prova se tornar um exercício de decorar repertórios e encaixar argumentos, o que faria a redação perder seu caráter avaliativo”, observa. >
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Jô orienta os alunos a passarem a treinar por eixos temáticos. De acordo com ela, é complicado estudar por temas pois há muitas possibilidades e ninguém consegue afirmar com certeza qual deles vai aparecer no exame. Porém, estudando por eixo temático essas possibilidades ficam mais reduzidas. >
Por isso, a professora aconselha que os candidatos passem a treinar por eixos temáticos, em vez de tentar decorar assuntos isolados. “Ao trabalhar com eixos, as chances se reduzem, e o aluno consegue adaptar melhor os repertórios”, afirma. >
No entanto, nas situações em que o aluno não se lembre de repertórios específicos, o uso de "citações de bolso" pode ser uma saída. “Não existe proibição clara, mas é um risco que o estudante assume de ter a nota descontada em algum dos critérios”, completa.
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Os eixos temáticos funcionam como base para organizar repertórios que possam ser adaptados a diferentes temas. Em 2024, por exemplo, o tema da redação foi “Desafios para a valorização da herança africana no Brasil”, ligado ao eixo cidadania. >
De acordo com Jô, os seis principais eixos que devem ser priorizados são: cidadania, tecnologia, meio ambiente, saúde, trabalho e educação. Ter ao menos um repertório bem estruturado para cada área é, segundo ela, a estratégia mais segura para evitar penalizações e garantir flexibilidade na prova.>
Assim, torna-se possível relacionar o repertório ao tema da redação de forma mais natural. “Um repertório geral de saúde ou cidadania pode ser adaptado sem parecer forçado. Não fica específico demais, mas também não tão abrangente a ponto de soar como um coringa vazio”, aconselha.>
Para Jô, os modelos de redação não devem ser vistos como algo negativo. “Eles ajudam quem está começando, pois oferecem uma base sobre o que escrever em cada parte do texto. O problema é quando o aluno apenas encaixa informações, sem refletir, e o resultado acaba incoerente”, explica.>
O ideal, segundo a professora, é adaptar o modelo à proposta e relacionar ideias de forma consistente. Um exemplo é o argumento da negligência governamental, muito comum em redações. Ela explica que a maioria escreve apenas que o Estado falha, mas isso é raso. É preciso aprofundar: será um problema de fiscalização? De legislação?>
Dessa forma, o aluno consegue utilizar um argumento considerado "coringa", acompanhado de um argumento mais específico. “É isso que o Enem espera: que o aluno faça esse processo de reflexão sobre o problema na prática mesmo. Tirando de um aspecto muito teórico e trazendo para a realidade”, explicou.>
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