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Por que os ônibus seletivos pararam de rodar na Grande Vitória?

Por que os ônibus seletivos pararam de rodar na Grande Vitória?

Cerca de 5 mil pessoas usavam o sistema por dia antes da paralisação pela pandemia; Ceturb-ES afirma que retorno não tem data para acontecer

Publicado em 2 de junho de 2021 às 15:32

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Ônibus do Seletivo, que circulam na Grande Vitória
Ônibus do Seletivo, que circulavam até meados de março de 2020 na Grande Vitória. (Divulgação | Governo do ES)

No início de 2020, inúmeras medidas foram tomadas no Espírito Santo com o objetivo de conter a transmissão do novo coronavírus. Entre elas, os ônibus com ar condicionado pararam de circular. Porém, no mês de outubro, os que fazem parte do sistema Transcol voltaram às ruas da Grande Vitória.

Embora paralisados pela mesma premissa, os seletivos – que faziam linhas com menos paradas e poltronas mais confortáveis – não retornaram e seguem com a circulação suspensa há mais de um ano. Quem dependia deles questiona: por qual motivo eles não voltaram? Até quando vai continuar dessa forma?

Por que os ônibus seletivos pararam de rodar na Grande Vitória

O arquiteto Alexandre, que pediu para não ter o sobrenome divulgado, é uma dessas pessoas. Antes do início da pandemia, ele usava os seletivos diariamente, para ir e voltar do trabalho. O trajeto feito era de quase 40 km, entre os bairros Nova Almeida, no município de Serra, e Enseada do Suá, em Vitória.

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O seletivo serve para quem está longe desse centro (Vitória-Vila Velha) não precisar descer no terminal. Mas, agora, quem está nas periferias está mais longe que antes e ninguém faz nada

Alexandre
Arquiteto
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Sem a antiga opção de transporte, ele reclama que precisaria pegar dois ou três ônibus do sistema Transcol para fazer o mesmo percurso. Graças às condições financeiras – que muitos não têm – ele pode optar por se locomover de carro, mas o custo aumentou em mais de duas vezes.

"Atualmente, eu gasto cerca de R$ 35 ou R$ 40 por dia, para ir e voltar do trabalho. Sem contar o custo de manutenção e possíveis acidentes ou prejuízos. Também perdi duas horas de sono por dia, que tinha no seletivo. Estamos cada vez com menos modais. Não tem cabimento. Precisamos de outra opção", desabafa.

cerca de 5 mil pessoas
usavam os seletivos por dia antes da pandemia, segundo a Ceturb-ES

Usuário dos seletivos há mais de dez anos, ele admite que o sistema passou a sofrer com problemas mais frequentes nos últimos anos. "Os ônibus começaram a quebrar no trajeto e estavam velhos. Sempre relatei, tinha um retorno, mas a empresa não fazia nada. Algumas linhas também deixaram de existir", lembra.

Mesmo assim, ele também revela que esses coletivos eram essenciais para muita gente. "Das 5h às 7h, todos saíam lotados daqui de Nova Almeida. À noite, na hora de rush, também voltavam cheios. Não tinha como dar prejuízo. Então, se o Transcol voltou 100%, por que o seletivo não voltou?", indaga.

O QUE DIZ A CETURB

Responsável pela operação dos ônibus, a Companhia Estadual de Transportes Urbanos (Ceturb-ES) informou que os seletivos não retornaram porque "os carros são antigos e o sistema de ar condicionado não permite a mesma segurança dos veículos novos do sistema Transcol, que renovam o ar periodicamente".

Apesar de ainda não ter qualquer data prevista para o retorno dos seletivos às ruas, a Ceturb-ES garante "a manutenção do atendimento dos usuários" por meio do Transcol, que "passou a contar com ônibus novos, equipados com ar condicionado e com linhas que se sobrepõem aos itinerários do seletivo".

Em fevereiro do ano passado, o sistema possuía 16 linhas e transportava cerca de 5 mil pessoas por dia, em um total de 170 viagens diárias. A frota era composta por 48 coletivos. "Isso representa menos de 1% da demanda do sistema Transcol, antes da pandemia", esclarece a companhia, por nota.

ESPECIALISTA APONTA SOLUÇÕES

Membro do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Espírito Santo (Crea-ES), o engenheiro mecânico Igor Dadalto afirma que sem as especificações dos aparelhos de ar condicionado usados nos meios de transporte da Grande Vitória não é possível garantir qual a capacidade de filtragem do ar.

Para o caso dos seletivos, o especialista aponta três possíveis soluções, a depender da capacidade dos veículos. "Pode-se instalar um ar-condicionado mais novo ou um sistema paralelo de exaustão. Outra opção é utilizá-los com as janelas abertas, mas, neste caso, a refrigeração ficaria comprometida", explica.

Ele acredita que dificilmente os aparelhos instalados nos coletivos mais antigos tenham sistema para renovação. "Os equipamentos que permitem essa filtragem do ar já existem há mais de uma década, mas eram modelos muito caros. Antes, de forma geral, essa questão também não tinha tanta importância", esclarece.

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Os mais novos, minimamente, fazem essa renovação do ar. Os fabricantes têm uma manutenção estipulada por tempo e por quantidade de pessoas que utilizam o sistema

Igor Dadalto
Engenheiro mecânico
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O engenheiro mecânico também reforça a importância da manutenção adequada. "No transporte público, o sistema é muito requerido. Dentro dele, o ar é resfriado e filtrado. Por isso, é essencial que se faça a limpeza dos filtros conforme o plano de cada aparelho, senão de nada adianta", garante Igor.

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