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Pais criam grupo para terem filhos mais generosos e longe do machismo

Pais criam grupo para terem filhos mais generosos e longe do machismo

Em aplicativos de conversa, eles compartilham experiências e trocam informações sobre a educação das crianças

Publicado em 8 de agosto de 2021 às 08:13

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Ramon Silva Martins; Vitor e o filho Beni; Lorenzo e o filho Ravi; Fabiano e a filha Maria Alice. Os três participam de um grupo de WhatsApp em que compartilham dicas sobre paternidade
Ramon Silva Martins com Murilo e Gael; Vitor e o filho Beni; Lorenzo e o filho Ravi; Fabiano e a filha Maria Alice. Os quatro participam de um grupo de WhatsApp em que compartilham dicas sobre paternidade. (Acervo pessoal)

Foi-se o tempo em que o homem assumia na família apenas a função de prover recursos para o sustento da casa. Seja na hora de trocar fraldas, dar banho ou preparar a papinha, os pais têm desempenhado um lugar mais próximo na criação dos filhos. Nesse momento, uma forma de trocar experiências e adquirir mais conhecimento sobre a paternidade é por meio do WhatsApp, em que grupos formados por homens compartilham do mesmo desejo: criar filhos mais generosos, solidários e longe do machismo.

Um desses grupos foi criado pelo Professor do Departamento de Engenharia Mecânica da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) Ramon Silva Martins. Pai de dois meninos, Murilo, de quatro anos, e Gael, de sete meses, ele começou a se interessar por assuntos voltados à paternidade quando o primogênito tinha dois anos.

“Quando Murilo nasceu, eu não tinha noção de que muita coisa que acontece é consequência de nossa sociedade patriarcal. Eu acreditava que tinha que colocar dinheiro dentro de casa, e, por isso, trabalhava em três turnos. Acabei negligenciando muita coisa da criação inicial dele. Só fui abrir os olhos em 2019, quando a minha esposa, que já lia e se informava sobre a importância de estar atento à criação dos filhos, me alertou."

Desde então, Ramon começou a escutar podcasts a caminho do trabalho, ler livros sobre o assunto e desconstruir o estigma de que a sua função era apenas garantir recursos financeiros à família.

Pais criam compartilham informações sobre paternidade em grupo de WhatsApp
Pais criam compartilham informações sobre paternidade em grupo de WhatsApp. (reprodução/WhatsApp)
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Alguns podcasts, que discutiam sobre a importância da paternidade para combater o racismo estrutural, o preconceito à diversidade de gênero, a masculinidade tóxica, me encantaram de tal forma, que olhei para o lado e vi que tinha vários amigos pais ou que queriam ser pais. Foi assim que o grupo 'Sociedade de Paternidade' nasceu, em março de 2020

Ramon Silva Martins
Professor do Departamento de Engenharia Mecânica da Ufes e criador do grupo de WhatsApp "Sociedade de paternidade"
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O grupo conta com 23  homens que são pais ou querem ter filhos, que moram não apenas no Espírito Santo, mas também em outros estados e até na Austrália. Diariamente, eles compartilham vivências sobre a importância da função paterna para que seus filhos e filhas cresçam mais solidários, generosos, conscientes e longe do machismo estrutural.

EXPERIÊNCIA QUE CONTRIBUI NO DIA A DIA

Quando o pequeno Beni tinha apenas um ano, o professor de fotografia do Senac do Rio de Janeiro, Vitor Luciano Brunoro, de 34 anos, percebeu que ele estava com dificuldade para aceitar a introdução de alimentos. Logo o professor recorreu ao grupo de pais do WhatsApp “Sociedade de Paternidade” para saber se os demais homens que estavam ali tinham dicas a respeito.

“Perguntar sobre o assunto me ajudou muito. A experiência do outro, que está vivendo aquele momento que estamos passando, é enriquecedora. Lembro que recebi várias dicas sobre introdução alimentar. E só o fato de receber a empatia dos outros pais nos ajuda a ter mais certeza de que vamos passar por aquela dificuldade”, comenta Vitor.

Quem lembra bem desse pedido de ajuda do Vitor é o arquiteto Fabiano Rodrigues Teixeira, de 39 anos, que é pai da pequena Maria Alice, de 04 anos.

“Quando o Vitor compartilhou aquela mensagem os pais contaram as suas experiências, disseram que nenhuma criança é igual a outra, mas que ele precisava persistir na introdução alimentar, variar nos alimentos e na forma que apresentava para a criança. São dicas que ajudam na criação da minha filha, na criação dos filhos deles, nos ajudam como pais”, avalia.

Quem também participa do grupo é o engenheiro mecânico Lorenzo Peixoto Gonçalves, de 24 anos. Logo quando soube que seria pai do Ravi, hoje com 11 meses, ele se dedicou à missão de acompanhar toda a gestação da esposa e aprender mais sobre a função paterna na vida de uma criança.

“Eu quero muito que o Ravi, no futuro, entenda que ele não foi criado com valores machistas. Eu e a mãe dele compartilhamos as responsabilidades e tenho plena consciência de que, como pai, não tenho apenas a responsabilidade de colocar dinheiro dentro de casa, e ela, como mãe, não tem somente responsabilidade de amamentar e dar atenção e carinho. A gente busca conhecimento para que ele continue sendo criado de forma pacífica, respeitosa e com valores que o incentivem sempre a ser uma pessoa melhor”, diz Lorenzo.

PAIS PRESENTES CRIAM FILHOS MAIS ÉTICOS

Para a psicóloga e professora doutora em Psicologia Fernanda Helena de Freitas Miranda, quanto mais qualidade houver nas relações afetivas das crianças, maior a probabilidade de se tornarem pessoas mais sensíveis e solidárias.

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Há 30, 40 anos, acreditava-se que a responsabilidade dos pais era muito mais de prover economicamente. O pai era um modelo de retidão e não tinha uma relação de diálogo, que era uma responsabilidade da mãe. Hoje estamos atravessando uma transformação social, que é super bem-vinda

Fernanda Helena de Freitas Miranda
Psicóloga e professora doutora em Psicologia
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"Criar uma criança é um trabalho coletivo e não individual. Quando os pais são presentes, têm uma relação de proteção, intimidade e autoridade, contribuem para a formação de adultos mais éticos, solidários, responsáveis e generosos", complementa.

Miranda acrescenta ainda que iniciativas como a do Ramon, de criar um grupo para o compartilhamento de experiências e conhecimento sobre a paternidade, são positivas tanto para os pais quanto para os filhos.

“O pai, que era visto como uma figura distante, aproxima-se e cria uma relação de diálogo. Vale lembrar que, tanto ele quanto a mãe são figuras de referência, de proteção, intimidade e autoridade. Isso é baseado em limites e não em violência. Quando esses homens dialogam entre si sobre a importância de participar da vida dos filhos, eles contribuem para uma mudança social e, consequentemente, para a felicidade dessas crianças, que vão se tornar adultos mais éticos”, acrescenta.

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