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Novas digitais de 'Clarinha' são identificadas e casos em aberto serão retomados

Novas digitais de 'Clarinha' são identificadas e casos em aberto serão retomados

Exame realizado pelo Departamento Médico Legal após a morte da "paciente misteriosa do ES" reabriu a possibilidade de uma identificação da mulher que ficou internada por 24 anos internada em Vitória

Publicado em 19 de março de 2024 às 17:04

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Clarinha
Clarinha morreu no dia 14 de março após passar mais de duas décadas internada no HPM, em Vitória. (Fernando Madeira)
Mikaella Mozer
Repórter / [email protected]

As digitais de Clarinha, atropelada no ano 2000, sem documentos oficiais, e que morreu no dia 14 de março, foram identificadas pelo Departamento Médico Legal pela primeira vez desde 2016. A informação é do coronel Jorge Potratz, divulgada em entrevista à CBN Vitória nesta terça-feira (19). Com o recolhimento das digitais, todos os casos de possíveis identificações de familiares em andamento serão retomados.

“Não sei se é bem legível ou é parcial, ou se é mais legível do que o Ministério Público e a Polícia Federal tinham conseguido em 2016, pois na época foram de alguns dedos e não deles todos. Com as novas digitais, as famílias que estão na lista de testes vão fazer a comparação de digitais”, contou Potratz.

Os novos desenhos nos dedos de Clarinha representam mais uma chance de saber quem ela é de fato. Porém, caso restem dúvidas, o teste de DNA será feito para dizer se quem está buscando saber se ela é uma familiar é ou não.

Ao menos seis pessoas já entraram em contato e estão na lista para descobrir se Clarinha é uma familiar.

“Ao longo dos 24 anos, foram mais de 100 famílias que nos procuraram. Ontem (segunda) fui surpreendido quando uma colega entrou em contato dizendo que uma menina falou com ela por rede social dizendo que Clarinha pode ser uma ex-namorado do irmão dela. Inclusive, que tem um filho que mora na mesma rua”, falou o médico.

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Aspas de citação

Eu gostaria de abraçar uma família que desse positivo e dizer que cuidamos com todo o zelo que um ser humano merece

Jorge Potratz
Coronel aposentado da Polícia Militar
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Encontros por Clarinha

Mesmo sem encontrar pessoas com o mesmo DNA de Clarinha durante os 24 anos, outras famílias puderam reencontrar familiares ao tentar descobrir se ela era a parente desaparecida.

Em um dos casos, um grupo familiar de São Paulo veio ao Espírito Santo tentar descobrir se a mulher sem identidade internada no Hospital da Polícia Militar (HPM) era uma integrante da família. Durante as buscas eles usaram o Registro Geral (RG) da pessoa desaparecida.

Assim a Polícia Civil descobriu que a pessoa morava no bairro Terra Vermelha, em Vila Velha. “Ela sumiu após passar por problemas de saúde mental, mas ficamos muito felizes com este reencontro”, pontuou Potratz.

Nome oficial

Um dia antes da morte de Clarinha, no dia 14 de março, a Justiça concedeu o registro civil dela. Assim, ‘Clarinha’ passou a não ser somente um apelido carinhoso dado por quem cuidou dela nas mais de duas décadas no Hospital da Polícia Militar, mas também um nome oficial.

A ação em busca dessa decisão começou em 2022 pelo Coronel Potratz. Apesar da triste coincidência de ter sido concedido um dia antes do falecimento, o nome oferece um sepultamento digno como busca o médico.

“Eu sempre tive carinho por ela e aprendemos a ter um olhar mais humano. Se quisessem machucar, ela ia sofrer sem poder se expressar e isso sempre me deixou triste. Se formos imaginar, todos podemos viver uma situação dessa. Caso não dê positivo para nenhuma das famílias, vamos a enterrar em um local onde podemos ir visitá-la e ter um local de enterro digno e humano”, frisou o coronel.

Mistério quase teve fim

O mistério que se manteve há mais de duas décadas no Espírito Santo quase foi solucionado em 2021. Isso porque a identidade de "Clarinha" esteve ligada a um possível rapto de uma criança em Guarapari no final dos anos 70. Porém, as investigações concluíram que ela não era o bebê que sumiu naquela época.

A conclusão se baseou em análises comparativas dos perfis genéticos da Clarinha e dos pais da criança sequestrada. A família é de Minas Gerais, mas passava férias no litoral capixaba quando houve o sequestro.

Para além da dúvida de quem é o pai, mãe e quem é a própria Clarinha, o coronel se abala ao pensar no filho dela. "E o que me machuca é que ela tem um filho e não sei quanto ele a ama, o quanto sabe da história verdadeira, que ela não o procurou porque estava impossibilitada. Penso no que falaram para ele. Eu gostaria de conhecer, do fundo do coração, para fazer algo mais humanizado. Mas deus sabe o que faz", desabafou.

'Família' postiça

Sem pessoas próximas para cuidar dela, o HPM montou uma força-tarefa para proporcionar todas as necessidades de 'Clarinha'. No começo foi na intenção de contribuir para uma vida com direitos básicos, mas acabou transformando enfermeiras, auxiliares de enfermagem, médicos e até parentes de outros pacientes em uma 'família'.

A situação incomum ainda despertou no coronel e nos funcionários do hospital um vínculo fora das atividades médicas diárias. 

“Normalmente quando a pessoa está internada a família traz materiais de higiene e o pessoal começa a me pedir. A princípio, comprávamos avulso, mas com o passar dos meses coloquei em minhas compras pessoais. Outras pessoas ajudavam, familiares de outros pacientes, os próprios funcionários levavam as roupas dela para casa e lavavam”, destacou o coronel.

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