Não parece racismo, mas é: as frases que negros não querem mais ouvir. Produção e texto: Elis Carvalho/ Fotos: Vitor Jubini

Não parece racismo, mas é: as frases que negros não querem mais ouvir. Produção e texto: Elis Carvalho/ Fotos: Vitor Jubini

O nigeriano Mamert Tessy, que atualmente vive em Vitória para estudar português, contou que constantemente as pessoas subestimam o conhecimento dele apenas por ser negro e natural de um país africano. 

O nigeriano Mamert Tessy, que atualmente vive em Vitória para estudar português, contou que constantemente as pessoas subestimam o conhecimento dele apenas por ser negro e natural de um país africano. 

Por ter cabelos crespos e ser pai de um menino que tem cabelos cacheados, o angolano Nicoby Ndjunguas recebe comentários racistas disfarçados de elogio "Sempre falam: 'seu filho é preto, mas pelo menos nasceu com o cabelo bom'. É como se lamentassem por ele ser negro, mas me consolassem dizendo que ao menos ele tem uma qualidade, que é o cabelo que forma cachos", conta. 

Por ter cabelos crespos e ser pai de um menino que tem cabelos cacheados, o angolano Nicoby Ndjunguas recebe comentários racistas disfarçados de elogio "Sempre falam: 'seu filho é preto, mas pelo menos nasceu com o cabelo bom'. É como se lamentassem por ele ser negro, mas me consolassem dizendo que ao menos ele tem uma qualidade, que é o cabelo que forma cachos", conta. 

De pele menos retinta, Alexandra Rodrigues Cardoso enfrenta um racismo mais ligado ao sexismo. "Esse tipo de frase eu escuto até hoje. Sempre fui vista pelos homens como alguém apenas para o sexo escondido, nunca para ser apresentada como namorada. Até quando fui casada, eu percebi que era tratada só como um objeto sexual", desabafa. 

De pele menos retinta, Alexandra Rodrigues Cardoso enfrenta um racismo mais ligado ao sexismo. "Esse tipo de frase eu escuto até hoje. Sempre fui vista pelos homens como alguém apenas para o sexo escondido, nunca para ser apresentada como namorada. Até quando fui casada, eu percebi que era tratada só como um objeto sexual", desabafa. 

Luciano do Santo Coelho conta que foram tantos anos escondendo os cabelos crespos por conta do racismo que, agora, quando finalmente os negros ganharam força para assumir os cabelos naturais, e entenderam toda história de empoderamento por trás das tranças, precisam ouvir que o próprio cabelo é apenas moda. O comentário não só apaga a história do crespo e das tranças, como ignora que os negros estão apenas sendo eles mesmos. 

Luciano do Santo Coelho conta que foram tantos anos escondendo os cabelos crespos por conta do racismo que, agora, quando finalmente os negros ganharam força para assumir os cabelos naturais, e entenderam toda história de empoderamento por trás das tranças, precisam ouvir que o próprio cabelo é apenas moda. O comentário não só apaga a história do crespo e das tranças, como ignora que os negros estão apenas sendo eles mesmos. 

Ana Cristina Rodrigues Luz revela que já passou muitas situações de racismo, como as faltas de oportunidades e privações. Para ela, aos 54 anos, ouvir que é privilegiada devido ao sistema de cotas é um sentimento frustrante.

Ana Cristina Rodrigues Luz revela que já passou muitas situações de racismo, como as faltas de oportunidades e privações. Para ela, aos 54 anos, ouvir que é privilegiada devido ao sistema de cotas é um sentimento frustrante.

André Rodrigues dos Santos já ouviu diversos comentários preconceituosos relacionados ao cabelo, que vão desde aqueles disfarçados de conselho, como "se você hidratar esse cabelo, vai ficar mais bonito", até as perguntas sobre como faz pra lavar o cabelo. "É constrangedor ter que responder que eu lavo com água e xampu, como qualquer pessoa normal. É uma "dúvida" que qualquer um poderia pesquisar por conta própria. De mesma forma que é constrangedor ter que responder para jovens brancos em festas que eu não vendo drogas. Acham que sou traficante só porque sou negro", reclama. 

André Rodrigues dos Santos já ouviu diversos comentários preconceituosos relacionados ao cabelo, que vão desde aqueles disfarçados de conselho, como "se você hidratar esse cabelo, vai ficar mais bonito", até as perguntas sobre como faz pra lavar o cabelo. "É constrangedor ter que responder que eu lavo com água e xampu, como qualquer pessoa normal. É uma "dúvida" que qualquer um poderia pesquisar por conta própria. De mesma forma que é constrangedor ter que responder para jovens brancos em festas que eu não vendo drogas. Acham que sou traficante só porque sou negro", reclama. 

Aline Gonçalves Almeida também recebe constantes comentários sobre seus cabelos. Um dos principais é de espanto, ao perceberem que os fios são macios e não "duros" como as pessoas costumam rotular os cabelos crespos. Outra situação constrangedora é quando as pessoas invadem os espaços das pessoas negras e tocam nos cabelos delas como se o corpo preto fosse público. 

Aline Gonçalves Almeida também recebe constantes comentários sobre seus cabelos. Um dos principais é de espanto, ao perceberem que os fios são macios e não "duros" como as pessoas costumam rotular os cabelos crespos. Outra situação constrangedora é quando as pessoas invadem os espaços das pessoas negras e tocam nos cabelos delas como se o corpo preto fosse público. 

Negras de pele menos retinta, como Vasty Nunes Pereira, possuem a negritude negada a todo momento. Embora muita gente tente apagar a identidade dos negros de pele clara, afirmando que não são negros, a sociedade em geral mostra diariamente que essas pessoas não são vistas como brancas, seja de forma sutil e velada, ou ao negar direitos.

Negras de pele menos retinta, como Vasty Nunes Pereira, possuem a negritude negada a todo momento. Embora muita gente tente apagar a identidade dos negros de pele clara, afirmando que não são negros, a sociedade em geral mostra diariamente que essas pessoas não são vistas como brancas, seja de forma sutil e velada, ou ao negar direitos.

Mesmo quando está vestido de maneira mais formal, Hayom Tovi Castorio Silva conta que é sempre visto como suspeito nas ruas. Ao passar pelas pessoas, ele nota que mudam de calçada ou escondem as bolsas. Dentro de supermercados, por exemplo, é comum que seja seguido por seguranças. 

Mesmo quando está vestido de maneira mais formal, Hayom Tovi Castorio Silva conta que é sempre visto como suspeito nas ruas. Ao passar pelas pessoas, ele nota que mudam de calçada ou escondem as bolsas. Dentro de supermercados, por exemplo, é comum que seja seguido por seguranças. 

Por conta do cabelo crespo, Paulo Carvalho sempre escuta comentários preconceituosos, até disfarçados de conselhos. Mesmo com o cabelo bem cuidado e com um corte elaborado, ele escuta que deveria passar a máquina nos fios para conseguir emprego. O mesmo, porém, não costuma acontecer com jovens brancos que não raspam os cabelos. 

Por conta do cabelo crespo, Paulo Carvalho sempre escuta comentários preconceituosos, até disfarçados de conselhos. Mesmo com o cabelo bem cuidado e com um corte elaborado, ele escuta que deveria passar a máquina nos fios para conseguir emprego. O mesmo, porém, não costuma acontecer com jovens brancos que não raspam os cabelos. 

Michael de Jesus Perboire, por muitas vezes, ouviu que era um negro bonito ou um negro inteligente. À primeira vista, o comentário parece um inocente elogio. Mas, ao constatar que ninguém elogia uma pessoa branca com "você é um branco bonito", percebeu também que sofria racismo velado. "É como se o negro não fosse sinônimo de beleza e inteligência. Quando me falam essa frase, a sensação que eu tenho é que estão dizendo 'apesar de ser negro, até que você é bonito / inteligente'. Se fosse um simples elogio, não fariam tanta questão de enfatizar a minha cor antes", analisa. 

Michael de Jesus Perboire, por muitas vezes, ouviu que era um negro bonito ou um negro inteligente. À primeira vista, o comentário parece um inocente elogio. Mas, ao constatar que ninguém elogia uma pessoa branca com "você é um branco bonito", percebeu também que sofria racismo velado. "É como se o negro não fosse sinônimo de beleza e inteligência. Quando me falam essa frase, a sensação que eu tenho é que estão dizendo 'apesar de ser negro, até que você é bonito / inteligente'. Se fosse um simples elogio, não fariam tanta questão de enfatizar a minha cor antes", analisa. 

Raphaela Melo conta que, desde criança, é confundida com subalterna. "Lembro que eu tinha uns 8 anos quando uma mulher branca me abordou em uma loja, me chamando senhora, perguntando onde estava determinado produto da loja. Ela nem percebeu que eu era uma criança. Apenas enxergou a minha cor e logo associou que eu estava ali para servi-la", lembra. 

Raphaela Melo conta que, desde criança, é confundida com subalterna. "Lembro que eu tinha uns 8 anos quando uma mulher branca me abordou em uma loja, me chamando senhora, perguntando onde estava determinado produto da loja. Ela nem percebeu que eu era uma criança. Apenas enxergou a minha cor e logo associou que eu estava ali para servi-la", lembra. 

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