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Publicado em 23 de outubro de 2025 às 21:46
O Ministério Público Federal (MPF) e o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), entraram na Justiça com duas ações de execução provisória de sentença para garantir a titulação das terras para comunidades quilombolas de Sapê do Norte, em situadas em Conceição da Barra e de São Mateus, na Região Norte do Espírito Santo. A Justiça acolheu o pedido. >
As ações tramitam contra a Suzano (antiga Fibria Celulose S/A), o governo do Estado e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Conforme informações do MPF, a Justiça declarou nulos os títulos de domínio de terras devolutas obtidos, segundo o processo, de forma fraudulenta na época em que ainda era denominada Fibria. >
As sentenças declaram que a empresa teria usado funcionários como “laranjas” para simular requisitos legais para obtenção de terras que posteriormente foram repassadas para a empresa. Em setembro, A Gazeta publicou uma reportagem sobre a situação registrada em Itaúnas e o cancelamento da reintegração de posse que a companhia reivindicava. >
A Suzano, por sua vez, afirma que possui toda a documentação imobiliária que comprova a propriedade e a posse legítima de suas áreas que, segundo a companhia, foram adquiridas de forma regular, a justo título e de boa-fé, como informou à reportagem de A Gazeta, em nota.>
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Ao Estado, MPF e Incra pedem a apresentação, no prazo de 30 dias, de um cronograma de atividades administrativas e judiciais para emissão dos títulos de propriedade em favor das comunidades que, segundo os órgãos, ocupam tradicionalmente as áreas. A Procuradoria-Geral do Estado informa que ainda não foi notificada da decisão.>
A obrigação prevista para o Executivo estadual, aponta o MPF, tem como base o Artigo 68 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT) e a Lei Estadual 5.623/98, que trata do reconhecimento de propriedade definitiva de terras ocupadas por remanescentes das comunidades dos quilombos.>
As ações de execução destacam ainda que a Suzano deve deixar de praticar atos de domínio, exploração, uso ou qualquer pretensão de posse contra quilombolas nas áreas que teriam sido obtidas mediante fraude.>
Já em relação ao BNDES, foi instituída a proibição para a instituição conceder financiamentos para a Suzano desenvolver atividades nas terras públicas que são objetos das ações. >
A instituição financeira alega que cumpre a decisão da Justiça sem questionamentos, já que não financiava investimentos na localidade desde o início de medidas liminares ligadas à área sob disputa judicial.>
“Cabe destacar que na etapa de celebração do contrato com as empresas, o BNDES estabelece cláusulas e condições visando à promoção de medidas de estímulo ao compliance. Dessa forma, não financia qualquer investimento ou empreendimento em áreas que sejam objeto de litígio jurídico, como no caso em questão”, divulga o banco, em nota.>
Gabriela Câmara, procuradora da República, explica que, apesar de a Suzano ter recorrido das sentenças e de os recursos ainda estarem pendentes de julgamento, eles não suspendem a eficácia das decisões.>
“Por isso, o MPF e o Incra estão cobrando o cumprimento imediato do que foi determinado pela Justiça”, pondera.>
Como etapa adicional das ações de execução, o MPF e o Incra pedem que a Justiça envie ofícios urgentes aos Cartórios de Registro de Imóveis de São Mateus e Conceição da Barra. O objetivo é que os cartórios registrem imediatamente a nulidade dos títulos da Suzano e confirmem que as terras foram revertidas para o patrimônio do Estado. >
“O MPF e o Incra destacam que o direito de propriedade dos remanescentes de quilombos é um direito fundamental de eficácia plena e aplicação imediata, protegido mesmo que o procedimento administrativo de titulação não tenha sido concluído, conforme entendimento do Supremo Tribunal Federal (STF – ADI 3239/DF)”, informa o Ministério Público Federal.>
Em agosto, o Ministério Público Federal chegou a expor a necessidade de adoção de critérios mais rigorosos na certificação de comunidades quilombolas no Espírito Santo. É a partir deste processo que os grupos podem partir em busca da titulação. >
No caso de Sapê do Norte, o quilombo já é certificado. Entretanto, outras comunidades enfrentam uma série de desafios ligados à especulação imobiliária, presença de grileiros nas áreas e até de interessados em benefícios governamentais, como divulgou a colunista Vilmara Fernandes.>
Na Região Norte do Espírito Santo, conforme um levantamento gerado com recomendações do MPF à Fundação Cultural Palmares (FCP) - responsável pelas certificações -, estão algumas das dificuldades enfrentadas pelos quilombolas.>
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