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Garçom esfaqueado em Guarapari: "Me ameaçou de morte e falou que eu era pobre e negro"

Garçom esfaqueado em Guarapari: "Me ameaçou de morte e falou que eu era pobre e negro"

Vítima relata que já havia registrado três boletins contra o idoso. Facada atingiu 17 cm de profundidade e atingiu o fígado. O agressor teria dito que “nada aconteceria” por conta da condição econômica dele

Bruno Nézio

Reporter / [email protected]

Publicado em 26 de maio de 2025 às 18:00

Homem de 82 anos esfaqueia garçom em quiosque na Praia das Castanheiras, em Guarapari
Homem de 82 anos esfaqueia garçom em quiosque na Praia das Castanheiras, em Guarapari Crédito: Leitor A Gazeta

O garçom de 35 anos esfaqueado no último domingo (25) pelo homem identificado como César Araújo de Oliveira, de 82 anos, enquanto trabalhava em um quiosque na Praia das Castanheiras, em Guarapari, recebeu alta hospitalar na manhã desta segunda-feira (26). Ainda se recuperando do ferimento, ele agora busca justiça e afirma que o agressor já havia o ameaçado outras vezes.

Segundo o relato do trabalhador, que pediu para não ser identificado, essa não foi a primeira vez que o idoso se envolveu em situações de assédio e ameaças. "Dois dias antes, ele foi ao quiosque e parou em frente ao balcão. Ele sempre faz isso, para ali e assedia as meninas que trabalham. Fica pegando na mão, beijando no rosto. Eu sou o único homem que trabalha lá, então pergunto o que está acontecendo, tento proteger", contou para o repórter Cristian Miranda, da TV Gazeta.

Facada perfurou 17 cm e atingiu o fígado, garçom já teve alta
Facada perfurou 17 cm e atingiu o fígado, garçom já teve alta Crédito: Oliveira Alves

Ele afirma já ter registrado três boletins de ocorrência contra o idoso. "Ele me ameaçou de morte antes. Disse que não ia dar em nada porque eu sou pobre, negro, e que devido à situação financeira dele, nada aconteceria", relatou.

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Garçom esfaqueado em Guarapari: "Me ameaçou de morte e falou que eu era pobre e negro"

A tentativa de homicídio ocorreu por volta das 13h. O garçom atendia clientes quando foi ameaçado verbalmente. "Ele passou na frente e falou que ia encher minha cara de porrada. Quando ouvi isso, não aguentei e perguntei o que ele tinha dito. Foi quando ele me enfiou a faca", detalhou a vítima.

A facada, de acordo com ele, foi única, mas profunda. A lâmina atingiu 17 centímetros de profundidade e atingiu o fígado. “Quando vi, já estava no chão, com uma aglomeração ao redor, e depois no hospital. O que mais me assustava era o semblante das pessoas me olhando. Achei que tinha acabado, que ia morrer”.

Uma amiga da vítima, que preferiu não se identificar, contou para a reportagem da TV Gazeta que foi uma das primeiras a socorrê-lo. “Ele caiu na minha perna, estava muito gelado e ofegante. Pensei o pior”, disse.

Apesar da gravidade, o garçom se recupera bem e espera resultados da Justiça. “Agora é esperar por justiça. Essa já é a sexta vez que ele se envolve em problemas nos quiosques da região. Todo mundo conhece", contou o trabalhador.

O agressor, identificado como César Araújo de Oliveira, de 82 anos, foi preso em flagrante e encaminhado à 5ª Delegacia Regional de Guarapari.

Relembre o caso

Um garçom de 35 anos foi esfaqueado por um cliente de 82 anos em um quiosque localizado na Praia das Castanheiras, em Guarapari, na tarde do último domingo (25). O idoso tentou se livrar da arma, arremessando-a em uma área de vegetação, mas foi detido pelos policiais que atenderam a ocorrência.

Em depoimento à polícia, o idoso afirmou que agiu em legítima defesa, alegando que o garçom pretendia agredi-lo por ordens da proprietária do quiosque, sem nenhum motivo aparente. No entanto, o trabalhador apresentou outra versão: segundo ele, o agressor é um frequentador conhecido na região, com histórico de ameaças, ofensas e até assédio contra funcionárias do local.

Posição da defesa

Nesta quarta-feira (28) César Araújo de Oliveira, de 82 anos, foi solto. Em entrevista para a reportagem, o advogado de defesa do idoso deu a versão para o caso, confira a entrevista: 

O que aconteceu no momento do crime, segundo a versão do seu cliente?

  • "No dia do ocorrido, o senhor César já havia passado pelo outro quiosque, onde consumiu algo — não sabemos exatamente o quê. Na volta, ao passar em frente ao quiosque onde o garçom trabalhava, ele apenas seguiu andando, mas o garçom foi atrás dele. A abordagem, portanto, não aconteceu em frente ao quiosque, mas mais adiante. O senhor César é surdo: só ouve algo se alguém gritar muito próximo ao ouvido direito; do lado esquerdo, é completamente surdo. Ele tem 82 anos e ficou com medo, pois o garçom gesticulava bastante e, segundo ele, chegou a ameaçá-lo dizendo: "Vou encher sua cara de porrada." Essas palavras foram relatadas por César. Ele fez o ato que fez, errado, mas fez para se defender e saiu andando. Ele acrescenta que o rapaz parou na frente dele com os punhos fechados, gesticulando bastante, chegou a encostar barriga com barriga e até cuspiu em seu rosto. Reforçamos que já solicitamos as imagens das câmeras, para ser possível verificar com clareza o que realmente ocorreu. A intenção é que a justiça seja feita com base nos fatos. Segundo o senhor César, ele agiu daquela forma para tentar se defender e sair da situação, pois, aos 82 anos, não tinha condições físicas de enfrentar um homem de cerca de 35 anos."

O seu cliente alega ter agido em legítima defesa?

  • Ele acreditava que seria agredido, que aquele rapaz cumpriria realmente a ameaça de "encher a cara dele de pancada". Com esse medo, ele reagiu da forma que reagiu. É isso que sustenta a alegação de legítima defesa.

Há testemunhas ou provas que corroborem a versão do seu cliente e que não foram consideradas inicialmente?

  • Na delegacia, relatamos ao delegado os fatos segundo a versão do meu cliente. Tudo acontece de forma muito rápida, e, devido à gravidade do ocorrido, ele não pôde ser liberado naquele momento, mas sim na audiência de custódia — onde, felizmente, conseguimos êxito. Naquele instante, não havia possibilidade de apresentar imagens ou outras provas. A não ser que alguém estivesse filmando e levasse o vídeo na hora, o que não ocorreu.

A Justiça entendeu que ele não oferece risco? Houve alguma medida cautelar imposta?

  • Sim, se ele está em liberdade, sim. Sobre medidas cautelares, caso precise sair da cidade, deve comunicar previamente ao juiz e informar o novo endereço. Além disso, há outras medidas que ele precisa cumprir, conforme determinado pela Justiça.

O garçom disse ter sido vítima de ofensas racistas e ameaças. Isso procede?

  • O meu cliente nega.

Há histórico de conflitos entre os dois envolvidos?

  • Sim, isso é verdade. Eles já eram ríspidos um com o outro há bastante tempo. Pelo que sabemos, desde a época em que o senhor César frequentava onde esse garçom trabalha, eles não se davam bem. Ao que tudo indica, são duas pessoas de temperamento forte e nunca tiveram uma boa relação. Isso procede.

O local do fato (um quiosque em Guarapari) possui câmeras de segurança que possam ajudar a esclarecer o caso?

  • De fato, há muitas câmeras no local, e já solicitei ao Estado e à Prefeitura a liberação das imagens, para garantir o pleno direito de defesa e o contraditório. Essas imagens não são liberadas apenas para mim ou para o meu cliente, mas sim para todas as partes envolvidas no processo — inclusive o outro rapaz, que também terá total acesso a esse material.

Sobre as denúncias de assédio, elas procedem?

  • Quanto à suposta denúncia de assédio, esse assunto sequer foi mencionado na delegacia. No boletim de ocorrência registrado pelo policial, não há qualquer referência a isso. Portanto, essa acusação não faz parte dos autos. Claro, nada impede que alguém venha futuramente fazer essa denúncia, mas, se isso acontecer, será necessário apresentar provas. Ressalto que não estou afirmando que nunca houve algo assim — apenas que, até o momento, não há nenhuma menção a assédio no inquérito ou no registro policial.

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