Publicado em 9 de setembro de 2020 às 14:30
O diagnóstico de mielite transversa, uma síndrome inflamatória que afeta a medula espinhal, foi responsável por parar os testes realizados em todo mundo com a vacina contra o coronavírus desenvolvida pela AstraZeneca e a Universidade de Oxford. O paciente que manifestou a doença é voluntário nos testes com a vacina realizado no Reino Unido. >
No Brasil, o estudo envolve cinco mil pessoas e é coordenado pela Universidade Federal de São Paulo, através do Centro de Referência para Imunobiológicos Especiais (Crie/Unifesp). Por nota, a instituição informou que muitos voluntários já receberam a segunda dose e até o momento não há registro de intercorrências graves de saúde. >
Em entrevista ao Jornal das Dez, da GloboNews, a pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) Margareth Dalcomo explicou que a mielite é uma doença neurológica que pode ser desencadeada por diversos fatores, dentre eles a vacina contra a Covid-19.>
É uma manifestação clínica de natureza, muitas vezes, autoimune, atribuível a várias doenças. Uma manifestação neurológica que pode evoluir com perda temporária, parcial ou grande afetando a medula humana. Não acho que isso seja alguma coisa que comprometa a qualidade e o prognóstico positivo que essa vacina tem oferecido a nós todos nesse momento, esclareceu Margareth, que também é pneumologista e pesquisadora clínica. >
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O médico neurologista Leonardo Maciel destaca que a mielite é uma síndrome caracterizada por interrupção das vias neuronais na medula espinhal, neste caso, inflamatória. >
Ela pode ser infecciosa, quando um vírus ou bactéria está diretamente ligado à inflamação; imunológica, quando há uma reação não fisiológica dos anticorpos do próprio paciente; ou reacional, como uma reação imunológica a medicamentos e vacinas. >
Leonardo Maciel
Médico neurologistaA médica e professora de Neurologia da Faculdade Multivix Soo Yang Lee complementa que a doença também pode ser secundária a processos cancerosos a distância, de outros órgãos ou até mesmo do cérebro, por outras doenças auto-imunes ou doenças infecciosas como sífilis e micoses neurológicas.>
"Pode atingir qualquer nível medular, cervical, torácico, ou lombar. Daí o quadro clínico depende do nível da lesão: tetraplegia se cervical, paraplegia se lombar ou dorsal, com perda da sensibilidade do nível da lesão para baixo", detalha a médica.>
Embora possa se apresentar por motivos variados, a maior causa da mielite pode estar relacionada ao sistema imunológico. Segundo Maciel, ainda é cedo para afirmar que o diagnóstico está relacionado à vacina. Ele explica que o tratamento da doença é feito, geralmente, com corticoides sistêmicos, repouso e fisioterapia.>
Outra intervenção é o tratamento de plasmaférese (como uma filtragem dos anticorpos anômalos). Se for secundário à doença infecciosa, deve ser tratado conjuntamente a infecção. Caso descubra ter relação com algum tumor, ele também deve ser tratado.>
"É importante lembrar que qualquer medicamento tem efeitos colaterais. Vacinas são medicamentos. Neste momento estão todos focados numa possível vacina para o Covid-19. Não é de se admirar que os efeitos colaterais serão mais divulgados, mas sempre existiram e existirão para qualquer tratamento", afirma Maciel.>
Já a neurologista Soo Yang acredita que a reação adversa esteja relacionada à vacina contra o coronavírus, testada no paciente diagnosticado com mielite transversa. >
"Por isso que deve haver cautela na liberação de novas vacinas. Elas podem desencadear respostas imunológicas equivocadas, com lesões neurológicas graves, seja mielite transversa ou síndrome de Guillain Barré", explica.>
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