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Diversão sem telas: pais do ES criam os filhos longe de celular e tablet

Diversão sem telas: pais do ES criam os filhos longe de celular e tablet

O objetivo é evitar crianças e adolescentes viciados em aparelhos eletrônicos, que podem afetar o desenvolvimento de forma negativa

Publicado em 12 de outubro de 2023 às 08:36

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Mariana e Felipe Jenner são incentivados a brincar sempre juntos e com os brinquedos que os pais oferecem, longe das telas. (Adriana Jenner)
Mikaella Mozer
Repórter / [email protected]

Com 5 anos de idade, Felipe Jenner nunca usou um celular ou tablet. A restrição às telas foi definida pelos pais, Adriana Jenner e André Luís de Abreu, desde a gestação, para evitar os efeitos negativos no desenvolvimento do filho. Quando engravidou novamente em 2021, a mãe incluiu a nova integrante da família, a pequena Mariana, na regra.

Hoje com dois anos, a caçula já quer pegar no celular, mas, com um caderno de desenho, música e brinquedos, os pais contornam a situação. Além disso, o casal, que mora em Vila Velha, dispôs pela casa outros objetos e espaços para estimular a diversão longe das telas.

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A sala é vazia para brincar à vontade. Podem jogar bola, tem mesinha para pintar. Eu até coloco na televisão músicas e vídeo de desenhos infantis em alguns momentos, bem pouco, mas nada fora disso. Eles mesmos saem da frente da tela da TV para brincar, porque já têm outros incentivos

Adriana Jenner
Jornalista
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O incentivo para fazer outros exercícios é comemorado pela mãe, pois, segundo ela, significa que o trabalho para evitar o vício e outros impactos está funcionando. Os malefícios de exposição exagerada de crianças a telas já é estudada e identificados.

"Na atual classificação internacional das doenças, a CID 11, já foi incluída a dependência digital, classificada como um aspecto  relacionado a transtornos mentais", comentou  Edson Neto, professor do Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes).

Mas escolher criar filhos pequenos sem aplicativos de joguinhos ou outros modos de interação é um desafio em meio ao mundo tecnológico, já que quase todas as casas têm telas. No Espírito Santo, por exemplo, 97% das famílias capixabas têm ao menos um celular na residência, segundo a última pesquisa da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Porém isso não impede alguns pais capixabas de impulsionarem um começo de vida à moda antiga: sem telas e com mais interação com as pessoas. A dona de casa Geovana Ferreira também considera essa a melhor opção para os filhos Gabriel Ferreira, de 8 anos, e Marcos Ferreira, de 14 anos. Os meninos não têm tablet nem celular ou qualquer outro aparelho eletrônico com tela.

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Acredito que criança tem que brincar na rua, se divertir entre elas, se desenvolver fisicamente com as brincadeiras e não ficar em frente ao celular

Geovana Ferreira
Dona de casa
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O dia a dia tanto da criança quanto do adolescente se desenvolve em atividades de casa, brincadeiras com amigos na rua, escola, tarefas domésticas, momentos de conversa entre família; atividades essas que a mãe define como interação face a face. Os três moram no bairro Vila Nova de Colares, na Serra, onde Gabriel e Marcos mantêm algumas semelhanças da infância vivida por Geovana.

Desafio pela preocupação

Apesar das opções oferecidas aos filhos, isso não torna mais fácil a retirada de telas. Na verdade, a dificuldade é considerada bem maior pelo núcleo familiar. As mães Adriana e Geovana compartilham da preocupação em diversificar as atividades para tornar e conseguir manter o dia a dia sem tela no meio da rotina corrida.

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É mais cansativo, mas basta querer. Lógico que não vai ficar perfeito, mas não dá para criar expectativa em tudo que vai ser perfeito

Adriana Jenner
Assessora
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Em meio ao almoço ou durante o trabalho, por exemplo, são momentos que exigem mais esforço. Por trabalhar em home office e ficar sozinha com Mariana em casa, Adriana busca maneiras para que a bebê tenha outros tipos de telas para se divertir.

“Eu encontrei uma loja que aluga brinquedos. Assim, consigo diversificar o que ofereço para não entediar. Coloquei um quadro na parede do meu escritório, assim ela e Felipe podem desenhar e usar a criatividade”, contou Jenner.

A capacidade de criar está ligada ao desenvolvimento da mente, que é um dos principais motivos para a proibição de telas por parte dos pais. Diferentes pesquisas apontam para os efeitos ruins para as crianças que usam excessivamente as telas. “A internet também é perigosa e traz diversos problemas de saúde física e mental”, desabafou Geovana.

“Os malefícios para as crianças já está comprovado. Quanto menos deixar crianças em frente às telas melhor. Claro que, em um mundo tão tecnológico, precisamos ter cuidado para não defasar a criança em relação ao mundo real, porém são muitos os benefícios. No cérebro, o desenvolvimento de crianças que passam muito tempo na frente de telas é diferente das que não passam”, explicou a psicóloga Thalita Silva.

Por isso, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) começou a recomendar os limite de tempo ideal conforme a idade:

  • Menores de 2 anos: nenhum contato com telas ou videogames;
  • Dos 2 aos 5 anos: até uma hora por dia;
  • Dos 6 aos 10 anos: entre uma e duas horas por dia;
  • Dos 11 aos 18 anos: entre duas e três horas por dia

Até quando puder

Criar o filho sem tela pelo máximo de tempo possível, essa é a perspectiva das duas mães. Apesar de proibir durante a primeira infância, elas sabem que não será para sempre. Felipe, por exemplo, já contou a Adriana que quer um celular quando completar 7 anos.

“Quando ele começar a sair com os amigos e eu precisar me comunicar, eu vou avaliar. Não posso regular, porque não sei o futuro, eu vivo o presente. No momento que começar a pensar em deixar, vou analisar a maturidade dele também”, pontuou Jenner.

Os pais de Felipe e Mariana colocam brinquedos e outras atividades pela casa para as crianças terem diferentes opções para se divertirem. . ((Adriana Jenner))

As famílias já convivem de perto com a realidade das telas nas escolas e sabem que, em algum momento, o contato mais frequente vai acontecer. A dona de casa e a jornalista se comunicam com os colégios para que os limites determinados dentro de casa não sejam ultrapassados, mas elas entendem que a educação é tecnológica.

Para Geovana, o uso da tela em algum momento de ensino não é o problema, mas, sim, as crianças viverem para isso em todos os momentos.”É questão de limite e poder oferecer uma vida sem vícios”, finalizou.

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