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Desde a inauguração em 1989, Terceira Ponte registrou 11 acidentes com 14 mortes

Desde a inauguração em 1989, Terceira Ponte registrou 11 acidentes com 14 mortes

Batida fatal nesta semana chamou a atenção de usuários, justamente por não ser comum registro de morte em ocorrências de trânsito na estrutura

Publicado em 25 de agosto de 2023 às 18:08- Atualizado há 8 meses

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Terceira Ponte vista de cima
Imagem aérea da Terceira Ponte. (Ramon Porto)
Errata Correção
25 de agosto de 2023 às 21:08

A versão anterior desta reportagem informava que, segundo a Rodosol, quatro acidentes com cinco mortes foram registrados desde 1998, quando a concessão da Terceira Ponte passou para a empresa. No levantamento feito por A Gazeta, outros acidentes foram levantados e contabilizados. O título e a reportagem foram atualizados.  

A recente notícia de um acidente fatal na Terceira Ponte chamou a atenção de muitos usuários do principal elo entre Vitória e Vila Velha. Isso porque são até certo ponto incomuns ocorrências de trânsito que terminam em morte em cima da estrutura. Só para ter uma noção, o último registro ocorreu em 2019, quando carros que disputavam racha atingiram uma moto em que estava um casal de namorados. 

Pela incidência de mortes ser pequena no trecho, a reportagem de A Gazeta foi atrás de um levantamento dos dados e apurou, junto à Rodosol que, em 25 anos, foram registrados quatro acidentes fatais, que mataram cinco pessoas. A concessionária administra a estrutura desde 1998.

O local, no entanto, foi inaugurado em 1989, mas a Secretaria de Estado da Segurança Pública e Defesa Social (Sesp) informou que não há compilação de casos antes do início da concessão.

Apesar dos dados repassados pela concessionária, um levantamento feito nos arquivos do jornal A Gazeta mostram que houve ao menos outros seis acidentes fatais nos últimos 25 anos, nos anos de 1996, 2002, 2003 e 2006. Ao todo, somam-se pelo menos 14 mortes em 11 acidentes. Confira abaixo:

Desde a inauguração em 1989, Terceira Ponte registrou 11 acidentes com 14 mortes

Antes da concessão

Em 13 de julho de 1996, Geraldo Barcelos Júnior, 19 anos, perdeu o controle de seu carro, o Fiat Tipo, JF 8286, em alta velocidade, desceu a Terceira Ponte no sentido Vila Velha-Vitória, passou entre as cabines e atravessou a praça em alta velocidade. O veículo bateu no meio fio, subiu e colidiu de frente contra o muro de uma residência. Geraldo morreu na hora.

2002

Uma das primeiras mortes sob a concessão da Rodosol foi em 19 de novembro de 2002, que vitimou o comerciante Ronnie Rodrigues Neves, de 25 anos. Após colidir na traseira de um caminhão, o homem teria saído do carro com as mãos na cabeça e encostado na mureta de proteção da ponte, de onde caiu. A polícia chegou a investigar as hipóteses de suicídio e de homicídio.

2003

No ano seguinte, o estudante universitário Thiago Laurenzini, 21 anos, também morreu em um acidente ocorrido na Terceira Ponte. Conforme divulgado à época, um veículo não-identificado teria batido em Thiago, que estava na moto dele. O universitário se desequilibrou e caiu na pista. No momento em que foi ao chão, acabou sendo atingido por um caminhão Mercedes-Benz.

Pelo menos outros dois motociclistas também morreram, em ocasiões diferentes, no local em 2003: José Abraão Silva, de 40 anos; e Jehová Oliveira da Silva Júnior, que bateu a cabeça no meio-fio ao cair do veículo. Mesmo estando de capacete, o homem morreu com o impacto. Mais detalhes não foram repassados na época.

Além deles, no mesmo ano, um caminhão carregado com 30 toneladas de brita perdeu o freio, atingiu duas cabines do pedágio e cinco veículos, deixando três pessoas mortas – dois funcionários da Rodosol e um motociclista. Este foi o mais grave acidente já registrado na ponte. 

2006

Três anos depois, o motociclista Carlos Eduardo Icas Ribeiro, 25 anos, morreu após bater na traseira de uma van, na Terceira Ponte. A vítima teve uma parada cardíaca na viatura de resgate do Corpo de Bombeiros e morreu ao dar entrada no Hospital São Lucas, em Vitória. 

2011

Outro acidente trágico ocorreu em março de 2011, quando o entregador de jornal Wellington Cunha, de 33 anos, pilotava uma moto e foi atingido por um carro que, segundo as investigações policiais, estava em alta velocidade, a 130 km/h.

Wellington Cunha, de 33 anos
Wellington Cunha, de 33 anos. (Acervo Pessoal)

Quem dirigia o carro era o o advogado Diogo Moraes de Mello. À época, a polícia afirmou ele apresentava sinais de embriaguez, mas se recusou a fazer o teste do bafômetro. Cerca de uma semana depois do acidente, no dia 8 de abril, Diogo foi detido em casa, na Praia da Costa, em Vila Velha, mas não chegou a ficar preso.

O titular da Delegacia de Delitos de Trânsito era o então delegado Fabiano Contarato (hoje senador), que indiciou o advogado por homicídio com dolo eventual — quando a pessoa não tem intenção de matar alguém, mas assume o risco de produzir esse resultado, o que levaria o advogado a Júri Popular. No entanto, em 2015, a juíza Cláudia Vieira de Oliveira Araújo, da 3ª Vara Criminal de Vitória, desclassificou a denúncia afirmando que não havia sinais de que o motorista tenha assumido o risco de matar o motociclista.

O Ministério Público concordou que o crime não precisava ser levado ao Tribunal do Júri, e sim enquadrado dentro do Artigo 302 do Código de Trânsito Brasileiro (CTB), que trata de homicídio não intencional na direção de veículo automotor. Em 2021, Diogo foi condenado na Justiça por homicídio culposo, e recebeu a sentença de dois anos e seis meses de detenção, no entanto, em regime aberto. Ainda teve a suspensão da habilitação para dirigir veículo automotor pelo prazo de dois anos.

A defesa de Diogo foi procurada pela reportagem, mas disse que não se manifestaria.

2012

Imagem do jornal Notícia Agora que também reportou o acidente fatal. (Cedoc | A Gazeta)

Em outubro de 2012, o motociclista Douglas Camargo Jacomel, de 23 anos, morreu ao cair da motocicleta que pilotava na descida da Terceira Ponte, sentido Vila Velha. Segundo a Rodosol, o pneu dianteiro do veículo teria estourado e levado o condutor a cair no chão e bater a cabeça na mureta de proteção da ponte. Ele usava capacete no momento do acidente. 

Douglas trabalhava em uma empresa de cartões de crédito e pilotava motocicleta havia dois anos. Ele deixou uma companheira e um filho de três meses. Os dois se casariam oficialmente no final daquele ano. 

Motociclista Douglas Camargo Jacomel, de 23 anos, morreu ao cair da sua motocicleta
Motociclista Douglas Camargo Jacomel, de 23 anos, morreu ao cair de motocicleta. (Cedoc | TV Gazeta)

2019

Na madrugada do dia 22 de maio de 2019, o casal de namorados Brunielly Oliveira, de 17 anos, e Kelvin Gonçalves dos Santos, de 23 anos, estava em uma moto quando foi atingido por dois carros em alta velocidade. As investigações da Polícia Civil apontaram que os acusados —  o advogado Ivomar Rodrigues Gomes Junior, à época com 34 anos, e o estudante de engenharia Oswaldo Venturini Neto, com 22 anos — beberam antes de dirigir e praticavam racha em cima da ponte.

Na época, Ivomar Rodrigues Gomes Junior conduzia um Audi A1 e Oswaldo Venturini Neto um Toyota Etios. Testemunhas relataram que o Audi teria batido na traseira da moto, arremessando o casal. Após a primeira colisão, o Etios teria passado por cima de Brunielly e batido na motocicleta. No chão havia marcas de frenagem por aproximadamente 27 metros, segundo a perícia.

Brunielly e Kelvin voltavam da casa da mãe do rapaz em uma moto modelo Honda CG, quando foram atingidos. A jovem estava na garupa da motocicleta conduzida pelo namorado.  As defesas dos réus refutam a versão de racha e alegam que não houve dolo, intenção de matar.

Brunielly Oliveira e Kelvin Gonçalves morreram depois que tiveram a moto atingida na Terceira Ponte
Brunielly Oliveira e Kelvin Gonçalves morreram em um acidente na Terceira Ponte. (Reprodução | Facebook)

Ivomar e Oswaldo foram acusados de homicídio qualificado cometido com a capacidade psicomotora alterada e omissão, mas o processo ainda tramita na Justiça.  Eles seriam ouvidos na última etapa da audiência de instrução marcada para 7 de junho deste ano, quando estava previsto o interrogatório, no entanto, foi suspenso.

Câmera flagrou o acidente. Assista:

Os dois chegaram a ir para presídio e tiveram a prisão em flagrante convertida em preventiva após audiência de custódia realizada no dia seguinte ao acidente, mas foram soltos após uma liminar do ministro Sebastião Reis Júnior, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), em setembro de 2019.

Em 2021 saiu o acórdão, uma decisão em que a sexta turma do STJ acompanhou a liminar de forma unânime e manteve a liberdade dos réus. Com isso, a prisão deles foi substituída por medidas cautelares como proibição de acesso ou frequência a bares e restaurantes e suspensão do direito de dirigir. 

A reportagem entrou em contato com as defesas de Oswaldo e Ivomar, mas não obteve retorno. O espaço fica aberto para manifestações. 

 2023

Na manhã do dia 23 de agosto, um motociclista tentou fazer uma ultrapassagem no corredor (espaço entre veículos), bateu e caiu no chão. Quando estava caído, uma motocicleta passou sobre ele. O condutor da moto — que não teve a identidade divulgada — morreu no local.

Motociclista morre em acidente na Terceira Ponte
Motociclista morre em acidente na Terceira Ponte. (Reprodução | Rodosol)

Segundo a Polícia Civil o outro motociclista, de 39 anos, foi encaminhado para a Delegacia Regional de Vila Velha, onde foi ouvido e liberado conforme previsto no Código de Trânsito Brasileiro, uma vez que ele permaneceu no local do acidente, prestou socorro à vítima e não havia indícios de cometimento de crime que justificasse prisão em flagrante.

O que diz a Rodosol

Na última sexta-feira (25), a Rodosol foi procurada para explicar por que os demais acidentes citados acima não constam no levantamento. Na terça-feira (29), a concessionária respondeu, informando que contabiliza apenas os óbitos ocorridos na Terceira Ponte, não registrando casos em que o acidente ocorre na ponte, mas a vítima morre após ser socorrida e retirada do local. "Acidentes com vítimas cujo óbito ocorre fora da área de concessão, em hospitais, por exemplo, não entram no registro da concessionária", afirmou, em nota. 

Errata Atualização
30 de agosto de 2023 às 08:57

Após publicação desta matéria, a Rodosol foi procurada para comentar sobre outras mortes registradas em acidentes na ponte, não registradas pela concessionária, e retornou na terça-feira (29). O texto foi atualizado.

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