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Dentista sofre queimaduras por águas-vivas após mergulhar em Camburi

Dentista sofre queimaduras por águas-vivas após mergulhar em Camburi

Miriam Vervloet estava nadando quando sofreu ferimentos dolorosos na pele e relata que muitos casos de acidentes com esses animais têm ocorrido na Grande Vitória. Biólogo explica o que fazer nesses casos

Publicado em 7 de maio de 2021 às 16:23

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Miriam ficou com cicatrizes na pele mesmo após semanas do ferimento causado pelo contato com uma água-viva no mar de Vitória. (Arquivo pessoal)

Um banho de mar, um mergulho para relaxar e uma nadada em mar aberto. Práticas rotineiras de quem tem o hábito de ir à praia, mas do início de março para cá, o lazer ou atividade esportiva tem ficado mais doloroso para algumas pessoas que frequentam a orla de Camburi, em Vitória, e outras praias da Capital e da Região Metropolitana do Estado.

Aumentaram os relatos de pessoas feridas por águas-vivas, também conhecidas como medusas quando na fase adulta. O contato destes animais invertebrados com a pela humana pode causar ferimentos graves, queimaduras, presenças de bolhas e muita dor no local. Foi exatamente isto que a cirurgiã-dentista Miriam Vervloet, de 58 anos, passou recentemente logo que entrou na Praia de Camburi, na altura do Posto de Serviço de Orientação da prefeitura.

"Sou nadadora de águas abertas e havia acabado de entrar na água quando senti algo passando pela minha perna e imediatamente senti uma dor intensa. Saí da água com o local muito, vermelho, dolorido e tive de pegar uma concha para retirar os tentáculos que ficaram presos em mim. A sensação era como se a pele estivesse sendo queimada com um maçarico", detalhou a nadadora.

MAIS CASOS

Ao se ferir, Miriam compartilhou a informação nos grupos que participa para alertar outros banhistas e nadadores. Foi por lá que ela tomou conhecimento de outros casos na mesma praia, além de pessoas que se acidentaram em praias como Manguinhos, na Serra, Praia da Costa, em Vila Velha, e outras faixas litorâneas.

"Minha amiga, a Renata, é quem aparece no vídeo com os ferimentos nas mãos. Está acontecendo em muitos lugares, já encontramos animais mortos na Praia da Guarderia, na Curva da Jurema, e em vários outros pontos da Grande Vitória. É preocupante, pois é uma dor insuportável e as sequelas são grandes", contou.

Mesmo já tendo passado semanas do acidente, a cirurgiã-dentista relatou que no local do ferimento formou uma cicatriz saliente (queloide) e ainda tem muita sensibilidade ao tocar.

BIÓLOGO EXPLICA CAUSAS

Segundo o biólogo Daniel Motta, especialista em animais marinhos invertebrados, as situações vividas por Miriam e as demais pessoas são acidentes. Ele afirma que as águas-vivas não atacam e os ferimentos são causados pela soltura automática dos tentáculos ao toque.

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Nas mãos, Daniel segura uma espécie de água-viva encontrada em um trabalho que realizou no litoral de Presidente Kennedy. (Daniel Motta)

"A época de reprodução das águas vivas ocorre principalmente no verão. Do mês de março para cá, ocorreram entradas fortes de correntes marítimas e ventos que provavelmente trouxeram esses animais para mais próximo das praias. É importante frisar que não são ataques, e sim, acidentes. Quando a água-viva entra em contato com um corpo estranho, os tentáculos vão de forma automática e involuntária na direção da superfície desse corpo, onde acabam acontecendo os acidentes", explicou.

Segundo ele, estes invertebrados são encontrados com facilidade no litoral do Estado, principalmente na estação mais quente do ano e em dias com ou sucedidos por ventos fortes, que os levam para a região costeira. Por hábito, as águas-vivas são mais comuns na parte mais oceânica.

RISCOS

Os ferimentos causados na nadadora foram graves, porém podem ser ainda pior dependendo da maneira em que ocorrer o contato entre humano e o bicho. Segundo Motta, em casos mais acentuados, a pessoa pode ter a vida em risco.

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Daniel Motta é biólogo com especialização em animais invertebrados, como as águas-vivas. (Arquivo pessoal)

"Além desses sintomas já relatados, outros mais graves podem ocorrer, como: dificuldade para respirar e engolir, dor no peito e de cabeça, câimbras, erupção cutânea (bolhas acentuadas), náuseas e vômitos. Algumas pessoas estão suscetíveis a terem reações alérgicas como o choque anafilático, que podem colocar em risco a própria vida. A gravidade das lesões, entretanto, está diretamente associada à espécie e tamanho da água-viva que produziu os ferimentos, além da idade e condições de saúde da vítima", ponderou o biólogo.

Motta recomenda que, em caso de acidente, a orientação é sair imediatamente da água e lavar o local, sem esfregar, com a própria água do mar. Em nenhuma hipótese a área atingida deve ser limpa com água doce, de coco, urina, sabão ou álcool, pois irá potencializar ainda mais o efeito da toxina.

Caso os tentáculos ainda estejam presos a pele, o recomendado é utilizar uma pinça para retirá-los. Se não tiver o equipamento, até mesmo um palito de picolé pode ser usado para a remoção.

Depois destas etapas ou caso não tenha tentáculos na pele, o indicado é utilizar o vinagre. Segundo o especialista em invertebrados o ácido acético é um excelente neutralizador das toxinas de águas-vivas.

Como ocorre a "queimadura"?

Ela ocorre porque nos tentáculos existem células denominadas cnidócitos. Elas são especializadas na produção de toxinas, usadas para a captura de presas e na própria defesa contra possíveis ameaças. Essas toxinas ficam armazenadas em pequenas cápsulas, chamadas de nematocistos, que são ativadas e injetam o veneno em resposta a um estímulo mecânico, como o contato com a pele de um banhista desavisado. Por se tratar de uma inoculação de toxinas, o termo “queimadura” acaba se tornando inapropriado, sendo mais adequado o termo “intoxicação”. As águas-vivas também são conhecidas por medusas pelo fato dos tentáculos lembrarem os cabelos da figura da mitologia grega que tem esse nome. FONTE: Daniel Motta, biólogo especializado em animais invertebrados.

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