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Toda uma indústria se formou no Brasil em torno da Ancine

Toda uma indústria se formou no Brasil em torno da Ancine

O cinema brasileiro recuperou aos poucos o prestígio internacional perdido há algumas décadas

Publicado em 19 de julho de 2019 às 10:14

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Toda uma indústria se formou no Brasil em torno da Ancine. (WILTON JUNIOR)

De certo é muito coerente. As políticas da Ancine, iniciadas em 2001 sob a presidência de Gustavo Dahl, conseguiram que o cinema brasileiro, praticamente ausente das telas desde o final da Embrafilme (e até antes), rompesse enfim a histórica rivalidade com a televisão.

Paralelamente ao incentivo à produção regional, a Ancine criou mecanismos para tornar a escolha de projetos incentivados impessoal (com um sistema de pontuação que favorecia produtoras e realizadores de melhor performance), ao mesmo tempo em que seus concursos abrangiam desenvolvimento e realização de projetos tanto para filmes como para séries de TV, games etc.

Com isso, o cinema brasileiro recuperou aos poucos o prestígio internacional perdido há algumas décadas. Sob a Ancine, foram obtidos êxitos institucionais relevantes, como a obrigatoriedade de produção nacional em canais de TV por assinatura, por exemplo.

Em torno da Ancine criou-se, em suma, o que se pode quase chamar de indústria do audiovisual: ao menos uma atividade profissional contínua, capaz não só de economizar divisas como de produzi-las para o Brasil.

Tamanho êxito é certamente contraditório com um governo que pretende salvar o Brasil a poder de quimioterapia. Por metafórica que seja, entenda-se por isso um tratamento de choque violentíssimo, com efeitos colaterais graves.

Mas isso parece importar pouco ao governo. Desde o primeiro instante ele deixou claro que a cultura é o principal câncer que afeta o país.

A caneta Bic para assinar o termo de posse funcionou como uma espécie de prescrição do tratamento de choque e dos males a ser combatidos --escrita, pensamento, artes, ciências. A mesma caneta, aliás, não assinou, até hoje, o decreto que regulamenta a cota de tela para filmes brasileiros neste ano. Não importa, portanto, que os efeitos colaterais afetem o emprego do setor e a economia em geral. O objetivo é extirpar o mal maior.

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O tratamento, é verdade, não pode começar com uma mera canetada Bic. Para fechar a Ancine, é preciso uma lei, já que ela foi criada por lei. Isso se arranja, já que, de todo modo, o processo de desmonte está lançado, e ninguém poderá desdizer: tudo foi mais que anunciado.  

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