Corpos afropoéticos serão representados de 26 de setembro a 9 de dezembro, no Museu Capixaba do Negro (Mucane), no Centro de Vitória. Afropoéticos porque as três artistas que participam da exposição coletiva "Malungas" retratam a violência que esses corpos sofrem, no mais amplo sentido da palavra, de forma poética. A arte que será exibida no local - entre fotografias, performances e videoinstalação - procura refletir sobre essas relações cotidianas do negro na sociedade e de que forma o racismo interfere na integridade do organismo.
Para Charlene Bicalho, umas das artistas que participam da exposição "Malungas", cada trabalho exposto abordada uma violência simbólica, física e dos movimentos desses corpos em trânsito. Além dela, participam da "Malungas" as artistas Castiel Vitorino e Kika Carvalho.
Charlene explica que as artes que estarão no Mucane trabalham várias poéticas, o que amplia o leque de abordagem para quem for visitar a exposição. "O Mucane, naturalmente, é um espaço onde acontecem outras exposições, mas os editais são para ocupação do espaço. Quando nós três (artistas) nos juntamos, resolvemos falar das nossas questões por meio das artes visuais", completa.
A videoinstalação que Charlene apresentará retrata a forma como o racismo interfere na integridade do corpo negro feminino na sociedade como a que vivemos hoje. "O racismo tem afogado, sufocado várias mulheres. Até no sentido físico, de fato, de uma morte. Nós estamos no segundo Estado (o Espírito Santo) com o maior índice de feminicídio do País. Mas tem a violência psicológica, também, que é silenciosa", lamenta.
Para a artista, o que a exposição pretende fazer, no geral, é retratar toda essa problemática por meio da arte e fazer com que os visitantes possam se inteirar melhor da situação. "É uma estratégia de visibilidade e também de buscar uma cura em coletivo, porque cada uma dessas mulheres artistas trabalha com outras mulheres, com outros negros e não negros, também", acredita.
Charlene acredita, inclusive, que o fato de a exposição ser coletiva é bastante positiva nesse quesito de compartilhamento: "Poder trocar com outras pessoas comuns as próprias experiências é importante. É um movimento de fortalecimento".
Castiel vai apresentar seu "Quarto de Cura", que demorou um ano para ser construído. Esse trabalho discute os processos de cura por meio de elementos da natureza, trazendo a ancestralidade para a arte. "Quarto de Cura" contou com a orientação, até, da benzedeira Yasmin Ferreira para ser concluído.
"Investigo com o meu corpo a complexidade da minha própria existência, que, inclusive, só existe por conta da coletividade que está inserida. Sou um corpo que experimenta de modo singular os sintomas desse mundo que se e nos adoeceu ao criar o racismo", reflete Castiel.
Kika trata da violência contra a mulher. Para isso, apresenta um trabalho com 60 peças esculpidas em cerâmica e pintadas em tanino, que também é usado na confecção de panelas de barro. "A escolha do material veio de uma provocação para unir 'duas tradições' capixabas: a panela de barro e o feminicídio", lamenta.
SERVIÇO
"Malungas"
Onde: Museu Capixaba do Negro "Verônica Pas" (Mucane) - (Avenida República, 121, Centro de Vitória)
Quando: terça-feira (25), às 19h (abertura); exposição em cartaz de 26 de setembro a 9 de dezembro, de terça a sexta-feira das 13h às 18h, e sábado das 10h às 14h
Entrada franca
Informações: (27) 3222-4560
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