Internacionalização da Amazônia não é assunto para o momento

Mesmo falando mansamente, proposta de Macron de tratar a região com algum tipo de gestão internacionalizada tem potencial para incendiar o debate

Publicado em 26/08/2019 às 22h30
Macron é o presidente da França. Crédito: Reprodução/Web | Arquivo
Macron é o presidente da França. Crédito: Reprodução/Web | Arquivo

As queimadas que consomem a região amazônica são um problema urgente para o planeta, mas começar a incendiar ainda mais o debate com uma carta na manga tão controversa quanto a internacionalização jurídica da floresta, como fez Emmanuel Macron, é um erro grave. Mesmo falando mansa e polidamente, o presidente francês agiu com beligerância. Apesar da postura, digamos, mais refinada, comete um absurdo digno de Bolsonaro, afinal, como apresentar uma proposta com este nível de octanagem sem qualquer debate ou consenso prévio? Jogar um assunto dessa gravidade numa coletiva de imprensa cheira a oportunismo, tudo o que a Amazônia não precisa agora.

De forma tão explícita, foi a primeira vez que Macron colocou a soberania da Amazônia em questão ao instigar que decisões sobre a região talvez mereçam passar por um crivo internacional. “Não é o caso de nossa iniciativa, hoje, mas é um verdadeiro caso que se coloca se um Estado soberano tomasse de maneira clara e concreta medidas que se opõem ao interesse de todo o planeta”, declarou, durante o anúncio do acordo do G7 que quer direcionar 20 milhões de euros (pouco mais de R$ 90 milhões) como ajuda emergencial contra os incêndios na Amazônia.

Na mesma fala, alfinetou o presidente brasileiro: “É um tema que permanece em aberto e continuará a prosperar nos próximos meses e anos. A importância é tão grande no plano climático que não se pode dizer que ‘é apenas o meu problema’”.

Diante da repercussão da crise, é importante que a comunicação seja transparente, para evitar ruídos. Houve dúvidas se a palavra usada por Macron no discurso, “statut”, referia-se a status ou estatuto, por ter as duas acepções na língua francesa. De qualquer forma, com maior ou menor peso, ambas definições revelam a determinação de algum tipo de gestão internacionalizada que não pode ser lançada ao mundo sem pactuação ou acordos.

Mesmo que o líder francês tenha reforçado que a ajuda internacional vai respeitar a soberania de cada um dos nove países da região, sua fala foi apressada e dispensável em um momento no qual o foco deve ser o combate emergencial às chamas que consomem a região.

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