Especial Hanseníase: por que fizemos essa reportagem?

Os próprios leitores dimensionaram a importância do resgate da Colônia de Itanhenga, em Cariacica, local que abrigou de forma compulsória 1.592 pacientes de hanseníase de 1935 a 1962

Publicado em 26/01/2023 às 00h45
Hanseníase
Centro Clínico está abandonado no Hospital Pedro Fontes. Crédito: Fernando Madeira

O jornalismo é frequentemente vinculado ao presente pelas pessoas, às urgências do "agora". Mas todo bom jornalista aprende desde cedo a treinar seu próprio olhar em perspectiva e passa a compreender que muito do que vivemos como sociedade tem berço no passado. A memória é um bem valioso para o aprendizado, para que erros não se repitam por pura ignorância. O jornalismo é suporte para manter essa memória viva.

A reportagem Colônia dos Excluídos exigiu da jornalista Iara Diniz um mergulho em um período no qual pessoas diagnosticadas com hanseníase no Estado eram obrigadas a se isolar na Colônia de Itanhenga, uma verdadeira minicidade construída em 1935 em Cariacica. De lá, ninguém tinha permissão para sair.

Documentos, periódicos, visitas ao local, entrevistas com especialistas, ex-internos e familiares... o resultado é um material que reaviva essa história para quem a conhecia ao mesmo tempo que a revela para as novas gerações. E ninguém sai ileso dessa experiência.

São muitas as razões, portanto, que motivam a realização de uma reportagem desse calibre. E ninguém melhor do que os próprios leitores para dimensionarem o impacto desse resgate:

Sirlene Ribeiro

Leitora

"Parabéns @agazetaes por dar visibilidade e oportunizar um espaço de fala a pessoas que têm tanto para contar. Pessoas tão importantes, mas esquecidas por conta do preconceito"

A reportagem é um alerta para o preconceito. Entre 1920 e 1950, 40 complexos para receber pessoas segregadas do convívio social foram criados em todo o Brasil, um período no qual não havia cura para a doença. Situação diferente de hoje, com tratamentos que evoluíram a ponto de promoverem uma recuperação completa dos pacientes, sem contudo conseguir eliminar o estigma que dificulta até mesmo o diagnóstico. 

Kristina Pelicioni

Leitora

"Um lugar de muito sofrimento! Histórias tristes de um povo retirado da sociedade pela falta de conhecimento da época!"

O avanço científico trouxe a cura, mas o aprendizado que fica é o dos danos causados pela segregação compulsória. O medo do contágio foi a motivação.  O nível do estigma chegava ao ponto de ser considerado justiça divina, como no caso do interno que não foi julgado em um caso de homicídio porque, para o juiz, ele já havia sido condenado com a doença.

Sirlei Ribeiro de Oliveira

Leitora

"Eu também venho desse lugar, meu pai foi um dos pacientes isolados. Não tive hanseníase, mas convivi com as pessoas que a tiveram. Nasci em meio ao estigma da doença, que há tempos tinha cura "

Centenas de crianças foram privadas do convívio com a família em função dessa política de saúde pública do século passado. Assim, cresceram sem a convivência com os pais, reduzidas a duas visitas por ano. Atualmente, é concedida uma pensão vitalícia de R$ 750  às pessoas que foram diagnosticadas com hanseníase e internadas nas colônias. Esses filhos que foram separados dos pais lutam há alguns anos pelo direito.

Importante saber que o Brasil foi o segundo país no mundo a criminalizar o isolamento compulsório de pessoas com hanseníase. A violação de direitos foi reconhecida em 2007 pelo governo federal.  A reportagem também se justifica como reforço à necessidade de o poder público garantir dignidade aos remanescentes da colônia de Cariacica, bem como dar uma destinação às edificações. O governo estadual planeja transformar o local em um centro de memória, é importante que a intenção se concretize. 

Ana Clara S. Medeiros

Leitora

"Esse lugar tem muita história pra se contar"

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