Desabamento de prédio no Centro de Vitória: não foi por falta de aviso

Tudo começou com uma obra de demolição que deixou a marquise aparentemente vulnerável, situação registrada pela TV Gazeta na semana passada. Mas riscos causados por prédios sem manutenção ou em situação de abandono não são uma novidade

Publicado em 27/09/2022 às 01h00
Desabamento
Fumaça toma Avenida Jerônimo Monteiro após desabamento em Vitória. Crédito: Eugenio Martini

As marquises dos prédios do Centro de Vitória trazem preocupação para a segurança há muito tempo. Nos arquivos do jornal A Gazeta,  uma matéria publicada há 40 anos comprova que essas estruturas, sem a devida manutenção,  já colocavam em risco quem morava ou transitava pela região na época.

A reportagem então informava que uma fiscalização da Prefeitura de Vitória havia encontrado "30 prédios em situação precária e 112 em estado apenas regular". Três lojas foram interditadas e multadas "em consequência das péssimas condições nas marquises dos imóveis".

A Gazeta
A Gazeta em fevereiro de 1982 com alerta sobre marquises no Centro de Vitória. Crédito: Reprodução

Em 2002,  duas décadas depois, a precariedade permanecia. Reportagem da ocasião mencionava que a administração de Vitória havia apontado risco iminente de desabamento de 33 marquises. Os registros de desabamento também estão na memória: em março de 2005, uma delas despencou na calçada da Avenida Jerônimo Monteiro, durante a madrugada.  Mais recentemente, em 2020, um vendedor ambulante ficou ferido com a queda da estrutura na Praça Oito.

Neste domingo (25), o que restava de um prédio na Avenida Jerônimo Monteiro que passava por obra de demolição veio abaixo. Um trabalhador ficou ferido. Mas não chegou a ser uma surpresa, porque a obra já havia provocado preocupação de quem passava pelo local.

Foi justamente a aparente vulnerabilidade da marquise que fez um leitor preocupado com a segurança do imóvel entrar em contato com a redação na semana passada. Não havia nenhuma proteção com andaimes ou aviso no local, colocando os pedestres em perigo.  Os telejornais da TV Gazeta deram destaque ao caso.

Nesta segunda-feira (26), o  Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura do Espírito Santo (Crea-ES) afirmou que o proprietário da obra foi autuado na semana passada, antes do desmoronamento, por conta da ausência de um profissional responsável pela execução. Enquanto a Secretaria de Desenvolvimento da Cidade e Habitação de Vitória informou o contrário, que a obra tinha um responsável técnico. A administração municipal, na semana passada, havia informado inclusive que não havia licença para a obra. Um impasse que precisa ser esclarecido para a população.

Afinal, os sinais de que havia riscos estavam todos ali. A prefeitura afirmou que vai apurar se a estrutura que desabou foi derrubada por acidente ou de forma intencional — o que seria irregular, uma vez que só havia autorização para demolir a marquise, após a autuação do proprietário na semana passada. A condução desse caso foi confusa e evidentemente fracassada, o que se comprovou no momento em que a estrutura colapsou no domingo. Não foi por falta de aviso.

É mais um episódio que reforça uma inquietação que é tratada neste espaço com frequência: o abandono de certos setores do Centro de Vitória. Não é só o caso de revitalizar o Centro, mas de como esse processo será feito. Os imóveis sem uso, que não passam por nenhum tipo de manutenção há anos, são uma ameaça, mas as intervenções que são realizadas precisam ser monitoradas de perto pelo poder público. A deterioração dos prédios é um problema, mas obras realizadas de forma irregular potencializam os riscos.

O incentivo ao retrofit, com o aproveitamento dos imóveis sem descaracterizá-los na arquitetura, pode ser também uma forma de realizar essas obras com segurança. Esse é um debate importante, que precisa ter a atenção do cidadão de Vitória.

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