Chuvas que viram catástrofes naturais: é preciso se preparar para o pior

Iniciativas de prevenção, partindo do poder público, mas também envolvendo a iniciativa privada, podem reduzir os impactos dessas chuvas que serão cada vez mais intensas

Publicado em 28/03/2024 às 01h00
Chuva
Chuva deixa rastro de destruição em Mimoso do Sul. Crédito: Fernando Madeira

A alta letalidade do temporal que arrasou o Sul do Espírito Santo, matando 18 pessoas em Mimoso do Sul e duas em Apiacá em menos de 24 horas, precisa ser um ponto de inflexão para as ações contingenciais de governo, prefeituras e sociedade civil diante da frequência desses eventos climáticos. Foi o maior número de mortes no Estado desde 2013, quando 24 óbitos foram registrados ao longo de 17 dias de chuvas.

Não que os serviços meteorológicos e de alerta à população não tenham sido aprimorados nos últimos anos.  A estruturação do Sistema Estadual de Proteção e Defesa Civil (Siepdec), com o sistema Alerta!ES, é exemplo disso. Mas é preciso tirar ensinamentos do fato de que os sistemas que monitoram o clima no Brasil previram as fortes chuvas para o Espírito Santo, mas não a intensidade, com mais de 300mm (o dobro do previsto para todo o mês). E o que se deve aprender é: o pior cenário é que sempre deve ser considerado.

O aparato meteorológico, com a instalação de mais radares, é uma forma de garantir mais precisão das previsões, principalmente para áreas menores. As cenas registradas pela população, com as águas invadindo as ruas e arrastando todos os veículos  que encontravam pela frente, mostram como as chuvas foram atípicas. Talvez não seja sempre possível prevê-las, mas é preciso ao menos proteger a população. Pecar pelo excesso, não pela falta.

Sistemas de alarmes precisam estar associados a treinamentos para a população, com protocolos de ação, como o abandono de ruas e residências em áreas de risco. Como os cenários de terremoto nos países nos quais há muita atividade sísmica. As mudanças climáticas vão exigir um trabalho educativo, para que as pessoas saibam como proceder.

Sabe-se que as ocupações desordenadas estão no cerne do problema: quando chove em demasia, fora dos padrões esperados, a infraestrutura urbana precária entra em colapso. As cidades precisam começar a se adaptar, com uma nova agenda de planejamento urbano. Não é um trabalho simples, mas precisa ser feito, nem que seja de forma paulatina. A mudança precisa começar.

Estar preparado para o pior não é derrotismo ou pessimismo, pelo contrário: é  a compreensão da imprevisibilidade das forças da natureza. Diante disso, não há escolha: iniciativas de prevenção, partindo do poder público, mas também envolvendo a iniciativa privada, podem reduzir os impactos dessas chuvas que serão cada vez mais intensas.

A Gazeta integra o

Saiba mais

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta.

A Gazeta deseja enviar alertas sobre as principais notícias do Espirito Santo.