Publicado em 12 de março de 2023 às 14:37
BRASÍLIA - Trabalhadores resgatados em duas fazendas de arroz no Rio Grande do Sul em condições análogas à escravidão costumavam desmaiar de fome e sede, afirmou o auditor fiscal do trabalho Vítor Ferreira. Sem condições de terminar a jornada, eles perdiam parte do salário.>
A Polícia Federal, o MTE (Ministério do Trabalho e Emprego) e o MPT (Ministério Público do Trabalho) iniciaram uma operação na última sexta-feira (11) em duas fazendas a cerca de 50 quilômetros da área urbana de Uruguaiana (RS).>
Até o momento, foram resgatados 56 trabalhadores em condições degradantes, incluindo dez adolescentes. A operação segue em andamento em busca de outras pessoas que trabalharam no local.>
Os investigadores querem saber se os donos da fazenda — as estâncias Santa Adelaide e São Joaquim — ou a empresa que comprou a produção de arroz eram os verdadeiros empregadores dos lavradores rurais.>
>
Um "gato" — agenciador de trabalhadores — foi preso. Em depoimento à Polícia Federal, ele ficou calado. Seu nome não foi divulgado, assim como o dos donos das fazendas e da empresa.>
O auditor Vítor Ferreira disse que, quando forem identificados, os verdadeiros empregadores serão punidos. Eles terão de arcar com dívidas e multas trabalhistas e administrativas e responder criminalmente.>
Ferreira afirmou à reportagem que a situação era "muito grave", diferente do que auditores se habituaram a ver nesse tipo de fiscalização. Não havia água, banheiros ou mesmo um local para se proteger do sol quente num clima que, a esta época, chega a 40ºC em Uruguaiana.>
O procurador do trabalho Hermano Domingues destacou que, nos depoimentos, os trabalhadores disseram que os "gatos" vendiam drogas aos menores. Os valores eram descontados dos salários.>
Um adolescente de 14 anos, que tinha o sonho de se tornar jogador de futebol, trabalhava sem botina, um equipamento de proteção. O garoto sofreu um acidente de trabalho com um facão e teve dois dedos do pé atingidos.>
Os investigadores também descobriram que o local não tinha lugar para guardar a comida e as mochilas com marmitas azedavam na roça. Os lavradores dividiam entre si o resto de alimentos que ainda não tinham estragado.>
Formigas atacavam os alimentos dos trabalhadores enquanto eles estavam na roça. Eles se alimentavam de comida fria, pois não havia onde aquecer os alimentos.>
Adolescentes retiravam uma praga da plantação, chamada de "arroz vermelho", manuseando agrotóxico. Parte do grupo retirava a praga com facas de cozinha, em vez de foices.>
Também faltavam equipamentos de proteção, como botas, foices, chapéus, protetores solares. As contratações eram feitas sem documentos e registro oficial.>
Adolescentes trabalhavam enquanto fumavam maconha, fornecida pelos "gatos". Não havia primeiros socorros e nem uma pessoa a quem recorrer em caso de acidentes de trabalho ou qualquer eventualidade em uma área rural grande e longe da cidade.>
Os nomes dos "gatos", dos donos das fazendas e da empresa que comprou a produção de arroz não foram revelados. Em caso de manifestação deles, o texto será atualizado.>
Denúncias de trabalho escravo podem ser feitas de forma sigilosa no Sistema Ipê, lançado em 2020 pela Secretaria de Inspeção do Trabalho (SIT) em parceria com a Organização Internacional do Trabalho (OIT). Dados oficiais sobre o combate ao trabalho escravo estão disponíveis no Radar do Trabalho Escravo da SIT.>
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta