Roberto Setubal, copresidente do conselho de administração do Itaú Unibanco, se queixou do fraco crescimento da economia brasileira nos últimos dez anos e afirmou que o resultado da fusão dos dois bancos poderia ter sido ainda mais robusto no período.
"[O banco] Poderia ser mais do que está aqui hoje, mas infelizmente a economia não se desenvolveu. Se a economia tivesse crescido 3% ao ano, nada extraordinário, a gente poderia estar em outro patamar", afirmou o executivo do maior banco privado do país a investidores.
Essa foi citada como a única frustração do executivo após a fusão do Itaú com o Unibanco, que completou dez anos no final do ano passado. Após a recessão recente, a economia brasileira cresceu 1,1% em 2017 e 2018 -neste ano, deve ficar ao redor de 0,80%.
Setubal falou no tradicional evento anual ao mercado, em São Paulo.
Na pauta, um esforço de convencer investidores que o banco está comprometido a se reinventar, ressaltando diferenciais na comparação com fintechs (startups do setor financeiro) e também a apontar que o banco pretende melhorar sua relação com clientes.
Uma resposta aos questionamentos frequentes de qual será o dano que fintechs ainda poderão causar ao mercado. Antes de imaginar que o banco acabará, o acionista quer saber o risco de ver o ROE (retorno sobre o patrimônio líquido), a medida de rentabilidade do investidor, cair do patamar polpudo de 20% ao ano.
Em um cenário hipotético, Setubal disse que o ROE pode, sim, ser menor, se o banco tiver mais dificuldades de se diferenciar dos concorrentes e que não há uma meta de rentabilidade. O que há, disse Setubal, é o compromisso de fazer o melhor uso do dinheiro.
Um dos investidores da plateia lembrou que startups têm uma licença para perder dinheiro durante a fase de expansão.
"Se nós nos permitíssemos a mesma licença, o regulador ficaria muito preocupado e o acionista, insatisfeito", complementou Candido Bracher, presidente do banco. Ele disse ainda estar "muito contente com as armas que dispomos nessa competição", citando a base de clientes e a ampla gama de produtos financeiros oferecidos.
Tradicionalmente, fintechs começam a prestar serviços com um único produto e depois expandem o portfólio.
Bracher afirmou ainda que o banco passará a se comparar não com outros bancos brasileiros, mas com grandes empresas privadas globais. No mercado local, porém, os clientes comparam o banco a empresas cujos serviços funcionam de forma mais simples.
O executivo mesmo deu um exemplo em sua apresentação.
"Quantos cliques a pessoa tem que dar para cancelar uma tarifa que o Itaú cobrou erroneamente? Certamente mais de dois cliques", disse Bracher, ao comparar o banco com uma experiência que teve com a Uber.
O executivo não respondeu se pesquisou quantos cliques ou minutos de ligação demandaria.
Durante a apresentação, os líderes do banco minimizaram mais de uma vez o risco de ascensão desses novatos. Bracher citou ainda uma frase que atribuiu ao J.P.Morgan.
"Os estabelecidos precisam encontrar a inovação antes que os inovadores sejam capaz de distribuir seus produtos", repetiu o executivo.
Enquanto isso, o banco tenta reestruturar sua operação: fechou mais de 1.500 postos de trabalho entre junho de 2018 e junho de 2019. Lançou um PDV (Programa de Demissão Voluntária), que se encerrou no final de semana passada e tinha público-alvo de cerca de 7.000 funcionários. O banco não divulgou quantas pessoas aderiram ao programa.
Ainda que esteja se voltando ao digital, o Itaú segue reafirmando o valor de ser um banco completo.
"Não somos uma startup, não vamos virar um conjunto de startups. Também não sei, como o Roberto [Setubal], o que será uma instituição financeira daqui dez anos. Imagino que vá ser como é, mas com uma nova maneira e atender o mercado", afirmou Pedro Moreira Salles, copresidente do Itaú Unibanco ao lado de Setubal.
LANÇAMENTOS DIGITAIS
O Itaú afirmou que a conta de pagamentos iti terá aceitação em 600 mil pontos de venda. O lançamento, que estará em operação plena em outubro, tenta fazer frente ao surgimento de novas formas de pagamento com leitura de QR-Codes, como adotado por startups inicialmente não financeiras, como a Rappi.
Segundo o banco, a conta digital terá rendimento automático, concessão de empréstimos e um cartão de crédito e débito a partir do primeiro trimestre do próximo ano. Na prática, a conta de pagamentos segue os passos dos principais concorrentes de mercado.
A conta de pagamentos iti também dá um primeiro passo rumo aos pagamentos instantâneos, cujo modelo está em desenvolvimento com base em regras fixadas pelo Banco Central.
O banco anunciou ainda que lançará uma nova plataforma de programa de fidelidade.
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