Publicado em 19 de setembro de 2023 às 10:27
SÃO PAULO – A reforma tributária combinada com a devolução de impostos para algumas faixas de renda aumentará o poder de consumo das famílias brasileiras com renda mensal de até 15 salários mínimos, o equivalente a quase R$ 20 mil atualmente. Isso significa que 89% da população irá consumir mais.>
Para aquelas com renda per capita de até um salário mínimo (R$ 1.320), o ganho chega a 21%. Sem a devolução via cashback, essa mesma faixa aumentaria seu consumo em 3,2% com a redistribuição da carga tributária promovida pela reforma que vai deixar alguns produtos mais baratos.>
Os cálculos são parte do estudo "Como o cashback pode reduzir desigualdades no Brasil", realizado por pesquisadores da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais). O documento será divulgado pelo movimento Pra Ser Justo nesta quarta (20), em evento no Congresso Nacional.>
Fernanda Melo
Coordenadora no movimento Pra Ser JustoO estudo considera uma devolução de R$ 9,8 bilhões por ano que beneficia 72,3 milhões de pessoas (35% da população). Desse total, 85% iriam para famílias com renda de até um salário mínimo, 72% com pessoas negras e 55% com moradores do Norte e Nordeste.>
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Esse montante poderia ser financiado com um acréscimo de 0,4 ponto percentual na alíquota dos novos tributos sobre bens e serviços, estimada no estudo em 24% sem o cashback.>
Para liberar espaço para esse financiamento, o Pra Ser Justo propõe reduzir o desconto previsto nos novos tributos para alguns produtos e setores de 60% para 50%, de acordo com a proposta inicial do grupo de trabalho da Câmara. Com isso, a alíquota final teria redução de 0,73 ponto percentual.>
"As exceções foram ampliadas, e isso reduz o espaço de financiamento dessa política, mas é um programa que não custa caro e vai ter um impacto tremendo para a redução de desigualdades", afirma Renata Mendes, diretora do movimento Pra Ser Justo.>
"A gente tem conversado com senadores e está tentando apresentar emenda para ter uma alíquota mais reduzida, não só pelo cashback, mas porque é muito importante que seja uma reforma justa, que reduz essa quantidade de exceções que a gente tem hoje.">
O trabalho também estima os impactos macroeconômicos da reforma com o cashback, que apontam crescimento adicional para todos os setores e acréscimo de empregos. Aponta ainda qual seria o efeito nos preços.>
A reforma reduz o custo da cesta de consumo de todas as famílias com renda de até 8 salários mínimos (R$ 10,6 mil atualmente). Ou seja, 84% delas vão pagar menos pelos itens que consomem. Os 16% que estão no topo da distribuição de renda têm impacto que chega a 2,5 ponto percentual na faixa acima de 30 salários mínimos.>
No cálculo por tipo de bem ou serviços, os pesquisadores estimam que itens de vestuário, bens duráveis, combustíveis, energia e telecomunicações vão ficar mais baratos. Os alimentos teriam redução de 0,1 ponto percentual, no cálculo que não considerou a alíquota reduzida e a isenção para alguns desses itens que vão ampliar essa queda.>
Teriam aumento de preços transportes e aluguéis, mas a reforma também passou a prever tratamento diferenciado para esses gastos. Os serviços devem ficar mais caros, mas há exceções previstas que também podem minimizar esse impacto.>
Todos os cálculos da UFMG consideraram uma tributação uniforme para todos os bens e serviços, sem as exceções aprovadas na Câmara e que estão agora sendo analisadas pelo Senado.>
O professor da UFMG Edson Paulo Domingues, um dos responsáveis pelo estudo, explica que a tributação sobre o consumo sempre penaliza mais, proporcionalmente, as pessoas de menor renda. Desonerações de produtos específicos, mesmo daqueles mais básicos como alimentos, alteram pouco o cenário, pois beneficiam principalmente os mais ricos.>
A devolução de imposto, segundo ele, é a política mais barata e mais eficiente para reduzir essa injustiça tributária.>
"A reforma tributária, só de homogeneizar o imposto, tirar a cumulatividade etc. já beneficia principalmente os mais pobres, diminui a tributação em vários itens importantes para essas famílias. O cashback seria uma forma de potencializar mais esse efeito redistributivo.">
A devolução de impostos é um sistema de desoneração utilizado no Rio Grande do Sul e em países como Uruguai, Colômbia, Bolívia, Equador, Argentina e Canadá. O estudo relata algumas dessas experiências.>
Os mecanismos mais utilizados são a transferência antecipada do benefício pelo governo, descontos em compras com cartões ou inserção de CPF ou uma combinação desses dois sistemas, como ocorre na experiência no sul do Brasil.>
Fernanda Melo, do Pra Ser Justo, diz que no Rio Grande do Sul e em outros países também optou-se, no momento de sua implantação, por manter desonerações e ainda assim implantar o cashback como mecanismo de redução de desigualdades.>
Esse formato, no entanto, restringe o orçamento e o alcance da devolução. Inicialmente, o governo cogitou estender o benefício para um público mais amplo.>
Ainda assim, ela afirma que o custo do cashback é bem menor do que de várias exceções previstas na reforma, e que ele é muito mais eficiente quando o propósito é reduzir desigualdades. A desoneração da cesta básica, por exemplo, custará R$ 34,7 bilhões para a União em 2023.>
"O cashback é um mecanismo que tem que superar alguma desconfiança que existe sobre como ele vai ser implementado. A longo prazo, talvez isso impacte a discussão sobre desonerações, sobre benefícios, seja rever os que estão colocados ou não conceder novos benefícios.">
Estudo do Banco Mundial estima que a reforma tributária com cashback reduz pela metade carga dos mais pobres e aumenta para 20% mais ricos.>
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