Publicado em 9 de abril de 2020 às 11:18
O preço dos alimentos disparou em março, fechando o mês em alta de 1,13%, contra 0,22% registrado em fevereiro, informou nesta quinta (9) o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os aumentos ocorrem em um momento de dificuldades para famílias afetadas pela crise do coronavírus.>
Segundo o IBGE, os maiores aumentos se deram em produtos relacionados à alimentação em domicílio, como cenoura (20,39%), cebola (20,31%), tomate (15,74%), batata-inglesa (8,16%) e ovo de galinha (4,67%). No geral, alimentos usados para refeições em casa aumentaram 1,40% no mês.>
Foram responsáveis por manter a inflação no terreno positivo, apesar da queda dos preços dos combustíveis e das passagens aéreas. Em março, o IPCA, índice oficial de inflação do país, ficou em 0,07%, contra 0,25% do mês anterior. Foi o menor índice para março desde o Plano Real.>
O grupo Alimentos teve impacto de 0,22 ponto percentual na inflação de março. "Os números sugerem que as pessoas estão comprando mais para comer em casa, o que indica que não estão saindo para comer" , disse o gerente da pesquisa, Pedro Kislanov.>
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O custo da alimentação em domicílio teve a maior alta desde dezembro de 2019, quando o preço da carne bovina disparou.>
Após os primeiros aumentos, supermercados jogaram a responsabilidade nos fornecedores. A Associação Brasileira dos Supermercados (Abras) falou em "elevações injustificadas de preços" e diz hoje trabalhar com a Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon) para evitar aumentos abusivos.>
No Rio, sindicatos ligados aos comerciantes chegaram a divulgar uma "carta de esclarecimento" responsabilizando os produtores por retirar descontos nos preços quando os estoques começaram a cair após aumento na procura no início das medidas de isolamento social.>
Economistas afirmam que a elevada procura teve impacto nos primeiros momentos da crise, mas esperam que os preços se ajustem com a normalização da demanda após a corrida aos supermercados no fim de março.>
Naquele momento, diz levantamento feito na semana passada pelo economista da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Andre Braz, houve aumento em diversos itens da cesta básica, como tomate (13,34%), ovo (9,04%) e batata inglesa (5,20%).>
"Além do aumento da demanda, pois todas as refeições estão sendo feitas em residência, houve aumento da estocagem, por receio de que o vírus se propague mais e expanda o período de confinamento social", analisou o economista André Braz, da FGV.>
Especialista em preços no atacado, o consultor Carlos Cogo, da Cogo Inteligência em Agronegócios, acha, porém, que a pressão ainda não acabou e que os preços devem subir mais antes de voltar à normalidade. "O varejo assumiu parte da alta até agora, colocando estoques em um valor mais baixo", diz.>
"Quando a reposição vier, ainda veremos novos aumentos. Vai piorar antes de melhorar", completa. Segundo dados compilados por ele, o preço do feijão no atacado acumula alta de 71,1% em 30 dias, o trigo subiu 13,6% e o arroz, 7,6%. O café tem aumento acumulado de 6,9% no período.>
Responsável por garantir a regularidade do abastecimento e por apoiar os produtores, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) diz que alguns aumentos são provocados por questões climáticas, como as chuvas na principal região produtora de cenouras no país. >
No caso do feijão, diz o presidente da estatal, Guilherme Bastos, o produto sofre com a alta demanda em um momento de quebra de safra. Já o arroz tem produção muito próxima do consumo, o que ajudou a elevar os preços com o aumento da procura. >
"Outros produtos, como frutas e hortaliças, vêm em tendência de baixa, com menor demanda de restaurantes e restrições a feiras livres após o início das medidas de isolamento social. Mas, de maneira geral, as centrais não têm nos reportado nenhuma ruptura no fornecimento." >
Bastos também espera menos pressão sobre os preços nos próximos meses. Dados da Conab apontam, por exemplo, que a proximidade com a segunda safra do feijão já reverteu a curva de alta dos preços em algumas praças na última semana. >
Guilherme Bastos
Presidente da ConabAinda assim, considerando a variação acumulada do ano, o produto já subiu até 60%, no caso do Paraná. Em São Paulo, o aumento acumulado é de 52%. >
Procurada, a Associação Brasileira da Indústria do Alimento (Abia) disse em nota apenas que não discute preços, "uma vez que as negociações entre as empresas do setor e as cadeias de varejo contextualizam-se em um cenário de livre mercado". >
Na ponta negativa da inflação de março, todos os combustíveis apresentaram retração: etanol (-2,82%), óleo diesel (-2,55%), gasolina (-1,75%) e gás veicular (-0,78%). As passagens aéreas também tiveram queda, de 16,75%. Assim, o grupo Transportes caiu 0,90%. >
No acumulado do ano, o IPCA soma 0,53%. Em 12 meses, 3,30%, abaixo da meta estabelecida pelo governo, de 4%. >
Na semana passada, economistas ouvidos pelo relatório Focus, do Banco Central, reduziram para 2,72% a projeção do IPCA para o ano, diante da expectativa de fortes impactos econômicos da crise gerada pela pandemia do coronavírus. A estimativa anterior era de 2,94%. >
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