Turquia, China, guerra comercial, tuítes do Trump, juros nos Estados Unidos, dados da economia brasileira, pesquisas eleitorais. Cada um desses fatores, ou uma combinação deles, pode mexer forte e rapidamente no humor dos investidores, e o ativo que tem sido mais sensível a essa enxurrada de informações é o dólar. A moeda americana já subiu 18% no ano e, com a proximidade das eleições presidenciais, muitos analistas não descartam que ela passe dos R$ 4 na sexta-feira, chegou a ser negociada a R$ 3,95, para encerrar a R$ 3,914. Em meio a esse cenário de estresse, o investidor precisa buscar proteção, mas nem sempre isso significa aplicar em moeda estrangeira.
Eduardo Velho, economista-chefe da INVX Capital, lembra que a alta do dólar pode ter um efeito sobre a inflação, já que parte dos produtos e serviços comercializados no Brasil é importada ou tem componentes importados. O temor dos preços em alta gera a expectativa de juros mais elevados no futuro, o que afeta o rendimento de títulos públicos e privados. Ou seja, o dólar sobe, mas há opções menos voláteis para o investidor buscar proteção.
A pessoa física tende a ficar mais cautelosa com os investimentos. O melhor é não aumentar sua exposição em aplicações mais voláteis. Uma opção é buscar uma aplicação com um componente prefixado e correção pela inflação sugere Velho.
ELEIÇÃO É DIVISOR DE ÁGUAS
A opção mais conhecida são os títulos Tesouro IPCA, que pagam um rendimento predeterminado e a correção pelo índice oficial de inflação. Os papéis com vencimento em 2024, por exemplo, pagam 5,4% ao ano mais a variação do IPCA, independentemente de o índice ficar na meta do governo, de 4,5%, ou voltar para dois dígitos. Ou seja, o investidor consegue um rendimento real (acima da inflação). Alguns papéis privados seguem a mesma lógica, como Certificados de Depósito Bancário (CDBs), Letras de Crédito Imobiliário (LCIs) e debêntures.
Adriano Fontes, sócio da Saga Capital, também cita as aplicações atreladas à inflação como opção. Ele lembra que a incerteza eleitoral vai além dos reflexos sobre o dólar, materializando-se na expectativa de juros futuros. Sem saber quem será o presidente e se ele conseguirá implementar as reformas necessárias que, em sua maioria, dependem de aprovação no Congresso , espera-se que a Selic, hoje em 6,5% ao ano, suba em algum momento no futuro.
A eleição é um divisor de águas para o preço dos ativos. A depender do resultado, o dólar ou volta para R$ 3,60 ou chega a R$ 4,30. Isso talvez contamine a inflação, embora a economia ainda esteja fraca afirma Fontes.
COMPRA FRACIONADA
Fontes cita ainda a aplicação em fundos multimercados. Neles, o gestor investe em mais de um tipo de ativo (moedas, ações, juros) e vai realocando os recursos de acordo com as mudanças de cenário, que, até outubro, tendem a ficar mais constantes.
Há opções ligadas ao dólar. Mas é preciso ressaltar que fundos cambiais ou a compra da moeda são mais indicados para quem possui um compromisso em moeda estrangeira, como viagem, curso ou dívida no exterior.
Ainda assim, a procura por fundos cambiais continua em alta. Essa categoria é pequena. O patrimônio é de apenas R$ 5,26 bilhões. Para efeito de comparação, o total de todos os fundos no Brasil (ações, renda fixa, multimercados, previdência privada) somam R$ 3,96 trilhões. No entanto, só este ano essas carteiras que investem em dólar ou outras moedas captaram R$ 1,5 bilhão e acumulam uma rentabilidade de 18,5%.
Alguns investidores querem ter alguma exposição ao dólar, mas não colocam muita coisa. Aplicam uma parcela bem pequena do patrimônio ressalta Rogério Manente, gerente-geral da Socopa Invest.
Para quem precisa de moeda estrangeira para viajar ou pagar dívida no exterior, o que os especialistas recomendam é a compra parcelada. Além disso, Fernanda Consorte, estrategista de câmbio do banco Ourinvest, lembra que, para quem tiver recursos disponíveis, deve-se aproveitar qualquer recuo na cotação para comprar um pouco de moeda:
Dada a volatilidade deste período, qualquer queda é uma boa oportunidade para compra. Não é possível saber para onde o dólar vai, já que são vários os cenários eleitorais possíveis.
O coordenador de Gestão Financeira da Fundação Getulio Vargas, Ricardo Teixeira, explica como comprar moeda de forma fracionada:
O ideal, desde que se decida pela viagem, é estabelecer o quanto será necessário e dividir o montante pela quantidade de meses que se tem pela frente, para sofrer menos impacto.
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