> >
Lewandowski mantém reajuste de servidores federais para 2019

Lewandowski mantém reajuste de servidores federais para 2019

Decisão do ministro do STF contradiz MP assinada por Temer em setembro, que adiava aumentos de 2019 para 2020; impacto no orçamento é de R$ 4,7 bilhões somente em 2019

Publicado em 19 de dezembro de 2018 às 19:05

Ícone - Tempo de Leitura 0min de leitura
Ricardo Lewandowski, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF). (Fellipe Sampaio /SCO/STF )

Em um revés para a equipe econômica do governo de Jair Bolsonaro (PSL), o ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal (STF), decidiu nesta quarta-feira (19) manter o reajuste salarial previsto para servidores da administração pública federal para 2019.

A decisão contradiz Medida Provisória assinada em setembro pelo presidente Michel Temer, que adiou o reajuste salarial dos funcionários públicos civis federais de 2019 para 2020. A medida foi publicada em edição extraordinária do Diário Oficial da União (DOU) no dia 31 de agosto.

Nas contas do governo, o adiamento do reajuste traria uma economia de R$ 4,7 bilhões somente em 2019. A medida seguiu para o Congresso Nacional, mas não foi ainda discutida pelos deputados e senadores. Por se tratar de uma MP, contudo, o texto entra em vigor imediatamente. Ou seja, até a decisão desta quarta do ministro Ricardo Lewandowski, não haveria reajuste no ano que vem.

O ministro submeteu a liminar concedida para referendo do plenário - ainda não há previsão de quando os 11 ministros da Corte vão analisar o assunto.

"Nesse sentido, a meu sentir, com a proximidade dos recessos parlamentar e judiciário, faz-se necessário o deferimento da medida acauteladora, a fim de que se suspenda a eficácia de toda a Medida Provisória 849/2018, de modo a resguardar os direitos dos servidores públicos federais e prevenir a consumação de prática, aparentemente, inconstitucional, até que o Plenário deste Supremo Tribunal possa debruçar-se de maneira vertical e definitiva sobre as alegações trazidas aos autos", determinou Lewandowski.

Sem o adiamento, o novo governo não conseguirá abrir espaço dentro do teto de gastos, mecanismo que limita o crescimento das despesas à inflação. Essa folga era considerada necessária para evitar o risco de um apagão na máquina pública em 2019, com ameaça à prestação de serviços à população, pois os gastos com custeio e investimentos já estão bastante achatados no Orçamento do ano que vem. Caso a postergação do reajuste fosse aprovada, o governo poderia direcionar esses gastos para áreas mais necessitadas, como saúde, educação ou segurança.

Um dos documentos utilizados para embasar a decisão do ministro veio do Senado Federal, que sinalizou que o Palácio do Planalto não poderia ter editado duas MPs de conteúdo similar.

Temer já havia tentado adiar o reajuste no ano passado, numa MP que adiava os aumentos já aprovados por um ano e elevava aumentavam a contribuição previdenciária dos servidores que ganham mais de R$ 5,5 mil, de 11% para 14%. Ela, porém, teve alguns artigos suspensos por Lewandowski em dezembro do ano passado.

A manifestação do Legislativo contrária à MP foi encaminhada no mês passado pelo presidente do Senado, Eunício Oliveira (MDB-CE), numa sequência de várias iniciativas com impacto nas contas públicas no início do governo do presidente eleito, Jair Bolsonaro. Eunício articulou a aprovação do aumento de 16,38% no salário dos ministros do STF e a criação do Rota 2030, programa de incentivo às montadoras para investimentos em pesquisa e desenvolvimento.

Em dezembro do ano passado, Lewandowski já havia tomado uma decisão similar, suspendendo artigos de uma outra medida provisória que também adiavam em um ano o reajuste do funcionalismo federal e aumentavam a contribuição previdenciária dos servidores que ganham mais de R$ 5,5 mil, de 11% para 14%.

Para Lewandowski, os servidores federais sofrem “uma discriminação injustificada e injustificável com relação aos demais”, apenas porque seus ganhos estão entre entre o topo da escala de vencimentos do Poder Executivo Federal. Além disso, defendeu o ministro, o aumento salarial, “é direito adquirido”, não podendo ser postergado por uma ação unilateral do presidente.

“Nesse sentido, entendo que não é difícil avistar, nesta segunda iniciativa presidencial, a quebra do princípio da legítima confiança e da segurança jurídica, assim como a vulneração de direitos já incorporados ao patrimônio dos servidores”, afirmou Lewandowski.

No ano passado, o ministro também deixou para análise definitiva do colegiado o mérito das ações que contestavam o adiamento de 2018 para 2019, como deve ser feito em ações que tratam diretamente de aspectos constitucionais. No entanto, o processo não foi pautado em 2018 pela então presidente do STF, ministra Cármen Lúcia, a medida provisória caducou, e o processo perdeu seu objeto - o que fez com que o plenário nunca se manifestasse sobre a temática, cenário que poderia reverter ou não o entendimento de Lewandowski.

ANÁLISE

A suspensão da medida provisória que previa reajuste de servidores públicos somente em 2020, com antecipação dos pagamentos para 2019, custará aos cofres públicos cerca de R$ 4,7 bilhões. Segundo Ricardo Lewandowski, ministro do STF que determinou a suspensão, o reajuste é fundamental, considerada a importância dos empregados que receberão o reajuste. No entanto, mais de 40% dos servidores contemplados são inativos, o que coloca em dúvida a boa intenção do ministro.

Fato é que o governo de Jair Bolsonaro começa com uma despesa adicional nada desprezível, se considerarmos que o déficit primário previsto pelo mercado para 2019 gira em torno dos R$ 130 bilhões. Isso deve prejudicar um tanto a condução das políticas econômicas e a eficácia das mesmas no ano que se aproxima. Os esforços para colocar as contas em ordem deverão ser maiores e, portanto, mais custosos para a sociedade.

Além disso, a medida talvez justifique certa mudança nas expectativas do mercado quanto à capacidade do próximo governo em ajustar as contas já o primeiro ano de mandato, como era o desejo de Paulo Guedes. Certamente, a reversão da recessão encontra-se, neste instante, mais distante, e pelo jeito bem mais difícil.

Este vídeo pode te interessar

Juliana Inhasz é economista

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta

A Gazeta integra o

The Trust Project
Saiba mais