Publicado em 27 de janeiro de 2021 às 20:27
- Atualizado há 5 anos
Um dos efeitos da pandemia do novo coronavírus foi a queda drástica dos investimentos diretos de estrangeiros no Brasil. Em comparação com 2019, o volume de aplicações caiu pela metade no ano passado, segundo dados divulgados nesta quarta-feira (27) pelo Banco Central.>
Ao todo, foram aportados US$ 34,1 bilhões no país no acumulado de 2020, contra US$ 69,1 bilhões no ano anterior. O número é o menor desde 2009, quando foram investidos US$ 31,4 bilhões.>
É uma redução [no fluxo de investimentos] importante que decorre do caráter global da pandemia e da recessão, com incertezas ainda muito elevadas, explicou o chefe do departamento de estatísticas do BC, Fernando Rocha.>
Os investimentos diretos, diferentemente das aplicações em ações e títulos públicos, são feitos por empresas que estabelecem um relacionamento de médio e longo prazo com o país e são menos voláteis em crises momentâneas por envolver decisões mais duradouras.>
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Em dezembro, o ingresso líquido (diferença entre entradas e saídas) foi o menor desde julho de 2016, com US$ 738 milhões, menos da metade do registrado em novembro (US$ 1,5 bilhão).>
É uma redução [no fluxo de investimentos] importante que decorre do caráter global da pandemia e da recessão, com incertezas ainda muito elevadas, explicou o chefe do departamento de estatísticas do BC, Fernando Rocha.>
Ao longo da pandemia, os níveis de investimento deste tipo caíram no país, mas não ficaram abaixo de US$ 1 bilhão. Os menores patamares foram registrados em julho (US$ 1,5 bi) e novembro. Em abril, um dos meses mais críticos da crise, os investimentos somaram US$ 1,6 bi.>
Em dezembro, no entanto, os ingressos foram os maiores desde a chegada do vírus no Brasil, com entrada de US$ 12,8 bilhões. As saídas empresas que retiraram dinheiro do país também foram elevadas, com US$ 12,1 bilhões, maior valor desde janeiro de 2017.>
Para Rocha, dois movimentos explicam o alto volume de entradas e saídas no mês: a conversão de empréstimos entre companhias do mesmo grupo com o pagamento da dívida (e entrada desse recurso no patrimônio da empresa) e a rolagem maior desses empréstimos.>
São operações que se anulam em termos líquidos, porque geram o mesmo valor em saídas e entradas. As conversões representaram US$ 2,3 bilhões em dezembro e tivemos rolagem de 100%, disse.>
Na prática, a conversão é feita quando a empresa precisa ter dinheiro livre em caixa, ou se capitalizar. Já a rolagem é feita quando a empresa empresta novamente o valor à subsidiária, renovando a dívida.>
Os investimentos de empresas brasileiras no exterior também foram afetados pela pandemia e fecharam o ano com resultado negativo em US$ 16,4 bilhões, o que caracteriza desinvestimento. Isso significa que as empresas retiraram mais dinheiro do que aplicaram lá fora em 2020. Em 2019, o resultado foi positivo em US$ 22,8 bilhões.>
Em contrapartida, o volume aplicado em ações e títulos públicos brasileiros mostrou recuperação. Em dezembro, houve ingresso líquido de papéis negociados no mercado doméstico de US$ 6,3 bilhões.>
"No ano, tivemos saída líquida de US$ 8 bilhões. Nos primeiros meses da pandemia, tivemos saídas expressivas nesse mercado. Depois, tivemos recuperação com a diminuição de incertezas, mas não foi integral", afirmou Rocha.>
Esse tipo de aplicação tende a oscilar mais em momentos de crise ou eventos pontuais porque normalmente são investimentos de curto prazo.>
Após oito meses de superávit puxados pela balança comercial, as contas externas ficaram deficitárias em US$ 5,3 bilhões no mês. No ano, o resultado foi negativo em US$ 12,5 bilhões, 75% menor que o registrado no ano passado.>
A melhora nas transações correntes no ano se deu em decorrência dos resultados positivos da balança comercial durante a pandemia, da diminuição dos déficits de serviços, especialmente de viagens internacionais, e de lucros e dividendos de empresas.>
É o menor déficit [anual] desde 2007, com redução de US$ 38 bilhões. A razão econômica para isso é que a pandemia global causou recessão no país e houve diminuição na demanda de bens e serviços importados, de viagens internacionais e lucros e dividendos, explicou.>
A balança comercial tradicionalmente apresenta superávit em momentos de baixa atividade econômica, já que o país importa mais nas épocas de expansão.>
Na prática, todo o nível de comércio exterior diminuiu com a crise. Tanto as exportações quanto as importações caíram, mas a redução no fluxo de entrada de produtos estrangeiros no país foi mais acentuada.>
As exportações somaram US$ 210,7 bilhões em 2020, redução de 6,7% em relação ao ano anterior, e as importações ficaram em US$ 167,4 bilhões, um recuo de 9,7%.>
Houve, porém, melhora em dezembro, com US$ 18,5 bilhões em exportações, mesmo nível de 2019, e US$ 19,5 bilhões em importações, aumento de 44,8% no período.>
Além disso, houve diminuição do déficit em serviços, que inclui viagens internacionais. Como os brasileiros gastam mais lá fora que os estrangeiros no país, a rubrica normalmente tem números negativos elevados, porque os desembolsos lá fora caracterizam despesas.>
Com a crise sanitária, as viagens internacionais despencaram e os gastos de brasileiros no exterior somaram US$ 5,3 bilhões, redução de quase 70% em relação a 2019. Turistas estrangeiros desembolsaram US$ 3 bilhões no país, queda de 49%.>
Com isso, a conta de viagens internacionais ficou negativa em US$ 2,3 bilhões, número muito menor que o registrado no ano anterior. Em 2019, o resultado foi deficitário em US$ 11,5 bilhões.>
Além do medo de contágio e dólar alto, alguns países impuseram restrições para viajantes brasileiros diante da gravidade da pandemia no país, como quarentena, exame negativo para Covid-19 e controle de temperatura, o que também desencoraja os turistas.>
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