Publicado em 6 de outubro de 2020 às 08:47
Programas de transferência de renda, empréstimos e proteção ao emprego adotados por diversos governos em meio à pandemia do novo coronavírus ajudaram a reverter, em parte, o pessimismo com a economia mundial ao longo do terceiro trimestre. >
A retirada desses estímulos, no entanto, gera dúvidas sobre como sustentar uma retomada e, ao mesmo tempo, tentar equilibrar as finanças governamentais.>
A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), por exemplo, previa crescimento de 2,9% para o mundo no começo deste ano, chegou a projetar retração de 6% em junho e agora vê uma queda de 4,5%. Para o Brasil, a projeção de crescimento feita pela instituição de 1,7% foi revista para quedas de 7,4% (estimativa de junho) e de 6,5% (em setembro).>
No Brasil, a melhora nas projeções coincide com a injeção de mais recursos na economia, por meio do auxílio emergencial para trabalhadores informais, que contribuiu para evitar uma queda na massa de rendimento das famílias, com programas de crédito e proteção ao emprego, bem como a reabertura das atividades e a redução das mortes por causa da pandemia.>
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As projeções de mercado coletadas pelo Banco Central na pesquisa Focus para o Produto Interno Bruto (PIB) neste ano chegaram a uma queda de 6,6% no dia 30 de junho, estimativa mais pessimista feita neste ano. Desde então, foram melhorando e, na última semana, estavam em -5,04%.>
O próprio BC revisou sua projeção para 2020 de -6,4% (junho) para -5,0% (setembro), com destaque para a melhora nos dados da indústria, da construção e do comércio e para a piora nos serviços.>
Em seu Relatório de Trimestral de Inflação divulgado neste mês, o Banco Central cita a retomada da atividade econômica no terceiro trimestre e uma moderação na volatilidade dos ativos financeiros, fatores que resultaram em um ambiente relativamente mais favorável para as economias emergentes, embora haja bastante incerteza frente a uma possível redução dos estímulos governamentais e à própria evolução da pandemia da Covid-19.>
Frederico Gomes, economista do Ibmec Brasília, afirma que a maciça injeção de recursos ajudou a evitar uma contração maior do PIB (Produto Interno Bruto) mundial neste ano, mas esse aumento de gastos é temporário e representa uma conta que terá de ser equacionada nos próximos anos.>
"A gente estava muito pessimista em março e abril, e isso também vale para outros países. Por conta das políticas de estímulos, que foram muito fortes, a gente vai ter um 2020 melhor do que se imaginava em abril. Em compensação, as apostas de 2021 para a frente começam a ser reduzidas, até em função desse problema fiscal que vai ter de ser enfrentado tanto aqui como em outros países", diz Gomes.>
"Mesmo que tenha uma vacina, tem coisas que não vão voltar como era antes. Isso dificulta uma retomada mais rápida e se reflete também no investimento, que é o que vai gerar o crescimento lá na frente", diz.>
O economista Marcel Balassiano, pesquisador da área de Economia Aplicada do FGV Ibre, afirma que a retração da economia ainda estará em patamares recordes, apesar da melhora nas expectativas, que está ligada principalmente às medidas de estímulo à economia que praticamente todos os países fizeram, em maior ou menor grau.>
No Brasil, isso é representado principalmente pelo auxílio emergencial. Na Europa, se destacam também medidas de retenção de emprego, como o "Kurzarbeit" na Alemanha, utilizado na crise de 2008/2009 e que vários países também repetiram agora, como França, Itália, Espanha e Reino Unido.>
"A melhor palavra que define essa crise é a incerteza, econômica e sanitária. São muitas, mas menores do que há sete meses, quando tudo começou. Uma das grandes incertezas é como as economias vão se comportar quando esses estímulos forem reduzidos ou acabarem", afirma Balassiano.>
"No Brasil, o auxílio já não é mais de R$ 600. Na Europa, uma discussão é que você está mantendo renda, mas isso não vai durar para sempre e, quando esses estímulos acabarem, possivelmente o desemprego vai aumentar", diz.>
O economista Otto Nogami, professor do Insper, diz que as perspectivas para a economia brasileira ainda são piores do que as expectativas para o desempenho médio global.>
Afirma ainda que boa parte da recuperação nos indicadores econômicos brasileiros no trimestre atual reflete mais os efeitos estatísticos da queda do PIB no segundo trimestre e uma recomposição de estoques do varejo e da indústria.>
"A economia mundial estava já operando dentro de uma normalidade, sofreu um baque, mas há uma perspectiva de retomada do crescimento, talvez não de forma pujante. É um cenário diferente do nosso. Nós entramos no isolamento social com uma economia totalmente fragilizada. Já estávamos estruturalmente em uma situação ruim", afirma Nogami.>
"O governo está com um deficit gigantesco, para tentar equacionar o auxílio emergencial está querendo tirar recursos de outras áreas. A retomada do crescimento não vai ser um processo normal no caso do Brasil.">
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