Publicado em 11 de julho de 2018 às 01:49
Em situação praticamente idêntica, os governos do Espírito Santo e do Pará resolveram se unir para garantir que a contrapartida da Vale para renovação antecipada da concessão das ferrovias que administra nos dois Estados não seja aplicada no Centro-Oeste. Ontem, os governadores Paulo Hartung e Simão Jatene assinaram, no Palácio Anchieta, uma carta direcionada ao presidente Michel Temer pedindo a suspensão dos trâmites iniciados pela Secretaria do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI).>
No documento, ambos os governos ponderam ser ilegal e injusto que o recurso da outorga da Vitória-Minas, no caso do Espírito Santo, e da Estrada de Ferro Carajás (EFC), no Pará, seja aplicado na construção da Ferrovia de Integração do Centro-Oeste (Fico), no Mato Grosso. O impasse se deu porque os dois Estados tinham a expectativa que a renovação lhes garantisse novos investimentos ferroviários. Por aqui, era dada como certa a construção do ramal até Presidente Kennedy. No Pará, o pleito era pela construção da chamada Ferrovia Paraense.>
AÇÃO JUDICIAL>
Os governadores afirmaram que a proposta foi feita sem ouvir as comunidades envolvidas ou sequer os Estados. Hartung e Jatene frisaram que, paralelo ao pedido conjunto de paralisação do processo e diálogo, ambos os Estados tocam ações para barrar na Justiça a proposta do governo federal. No caso capixaba, uma Ação Civil Pública (ACP) deve ser ajuizada pela Procuradoria-Geral do Estado contra a União até amanhã.>
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Eles também avaliaram que o valor que deverá ser pago pela Vale pelas renovações, estimado pelo governo federal em R$ 4 bilhões, está subestimado e deve custar bem mais que isso. Esse apontamento, que é feito ao presidente, também será questionado judicialmente.>
Não pode deixar de causar estranheza que um governo em final de mandato, em período eleitoral, anuncie uma antecipação de concessões que só estarão vencendo daqui a cerca de dez anos, prorrogando por mais 30 anos, sem definir primeiro qual é o interesse público para que isso seja feito agora, sob que critérios, e sem respeitar os entes federados. Não tem justificativa ética, social e nem é razoável que o valor a ser pago pela prorrogação vá garantir financiamento em outro Estado, disse o governador do Pará, Simão Jatene.>
No ato da assinatura, Hartung defendeu a união dos Estados como forma de garantia de um legado após anos de impactos ambientais. Aonde a Vale atua, tanto lá quanto cá, há impactos sociais graves e impactos ambientais gravíssimos. Num momento de renovação como esse, é a oportunidade da população conquistar um legado para o futuro do desenvolvimento da região. É isso que nos une.>
VALE>
Em entrevista à Rádio CBN Vitória, o procurador-geral do Espírito Santo, Alexandre Nogueira Alves, comentou que em reunião realizada ontem entre governo e Vale, a mineradora afirmou que o investimento previsto inicialmente para o Espírito Santo só foi destinado para o Centro-Oeste por determinação do governo federal.>
O diretor de Relações Institucionais da Vale, Luiz Eduardo Osorio, disse que a companhia não tem o que opinar sobre onde deverão ser feitas as contrapartidas e que é o governo federal que decide onde aplicar o recurso. Não é uma questão da Vale, é do próprio governo federal. Nosso papel é da relação onerosa, de quanto que teremos que pagar. Agora a destinação é do governo federal. (Sobre a preferência) não temos o que opinar, explicou. (Com informações de Rafael Silva).>
OS PONTOS DE CARTA>
Pedido de suspensão>
Os governadores do Estados do Espírito Santo e do Pará ao tempo em que repudiam o anúncio precipitado, juridicamente inconsistente da prorrogação antecipada das concessões à Vale, solicitam à Vossa Excelência (Temer) que suspenda os procedimentos instaurados pela Secretaria do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI) (...) para iniciar diálogo entre os entes federados e a União de modo que os investimentos (...) sejam direcionados aos Estados que têm relação direta com as concessões.>
Estranheza>
Causa estranheza, para dizer o mínimo, o processo antecipado em quase dez anos (...). Não se conhece os estudos técnicos prévios que fundamentam a vantagem da prorrogação sem licitação, não houve consulta pública nas regiões interessadas e muito menos a aprovação prévia por parte do Tribunal de Contas da União (TCU).>
Valores>
No caso do Pará, a contrapartida que, em termos de logística melhor garante os interesses do Estado, é a garantia de investimento para a viabilização da Ferrovia Paraense (...). No caso do Espírito Santo, a contrapartida adequada seria a ampliação da malha da Ferrovia Vitória-Minas, no sentido do Estado do Rio de Janeiro, anteriormente oferecida pela Vale.>
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