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Empresas ajudam funcionários a sair do vermelho no ES

Empresas ajudam funcionários a sair do vermelho no ES

Empresas chegam a apoiar criação de cooperativas de crédito

Publicado em 2 de maio de 2019 às 00:31

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Aline Alves Matias, 27 anos, consultora de vendas. Ela estava devendo R$ 15 mil, mas com a ajuda da empresa e com os cursos oferecidos por ela conseguiu saldar parte da dívida e está poupando dinheiro . (Vitor Jubini)

Empresas capixabas têm oferecido alternativas para ajudar o empregado a sair do vermelho. Algumas oferecem cursos, consultorias e até ajudam trabalhadores a criarem cooperativas de crédito com a intenção de ajudar os funcionários a se livrarem das dívidas.

O uso desenfreado do cartão de crédito ou a demissão de um familiar, muitas vezes, acaba comprometendo a renda doméstica. Em meio a esse turbilhão de preocupações chegam mais contas, a dor de cabeça só aumenta e o foco no trabalho acaba ficando de lado.

“As empresas estão de olho no trabalhador e implementando programas de controle financeiro para tentar ajudá-lo a sair do endividamento e, com isso, melhorar o seu desempenho”, aponta a diretora-executiva da Associação Brasileiro de Recursos Humanos (ABRH), Andréa Salsa.

Um exemplo de sucesso na ajuda do controle financeiro dos funcionários é a cooperativa criada para os funcionários da rede Extrabom. A empresa apoiou, há mais de 20 anos, a formação da Cred-Extra, que tinha o objetivo de oferecer empréstimos com juros mais baixos.

A gerente de Gente e Gestão da rede Fabiana Vieira destaca que a direção do supermercado deu todo apoio no início dos trabalhos da cooperativa. “Hoje ela se sustenta sozinha, mas no início o Extrabom deu todo o suporte – contratou uma consultoria para ajudar com a documentação, fez todo o processo perante o Banco Central, ajudou com os alvarás. Ainda hoje a área da cooperativa pertence ao Extrabom e é a rede que paga os gastos com telefone, internet e outras despesas”, diz Fabiana.

Fabiana explica que os cooperados, mensalmente, contribuem com um valor relativo a 2% do salário. Esse percentual é acumulado em uma poupança, porém, com juros maiores e o dinheiro que fica no caixa da cooperativa é emprestado aos demais colaboradores a taxas inferiores às praticadas no mercado. Depois que o trabalhador é desligado da empresa ele pode resgatar todo o investimento.

“Os 2,6 mil cooperados conseguem ter atendimento especial de gestão financeira, além dos empréstimos e outras facilidades. Já os demais trabalhadores do supermercado, os não cooperados (mil pessoas), recebem cursos gratuitos sobre gestão financeira”, explica.

Entre as histórias de sucesso que ela conta está a de um funcionário que pegou um empréstimo e conseguiu colocar a vida financeira em ordem e o de outro que conseguiu até comprar uma casa.

APRENDIZADO

Investir em cursos, treinamentos e consultorias também são uma boa opção para ajudar os funcionários. No final de 2017, uma cooperativa que presta serviços na área de saúde diagnosticou que o aspecto financeiro era o que mais incomodava os seus funcionários e decidiu abordar o tema com eles.

“Tínhamos diversos casos em que as pessoas estavam endividadas ou tinham um plano, mas não sabiam o que poderiam fazer para sair do vermelho ou alcançar seus objetivos. Criamos um projeto que se tornou um programa de saúde financeira e estamos conseguindo ajudar esses colaboradores”, lembra Andreia Galvani, superintendente financeiro da Unimed.

Segundo ela, em 2018, cerca de 800 pessoas participaram das atividades desse programa e 20 delas tiveram consultoria particular. “Neste ano, vamos fazer uma segunda fase. Teremos palestras temáticas, vídeo-aulas, cartilhas e consultorias individuais”, elenca. Andrea acrescenta que a ideia é ampliar o trabalho. “Vamos realizar eventos envolvendo as famílias para melhorar o ambiente financeiro delas”, revela.

Ela conseguiu se livrar da dívida, comprar um carro e poupar

A consultora de vendas de 27 anos Aline Alves Matias, como muitos capixabas, não tinha nada planejado no seu orçamento e as dívidas já estavam atrapalhando no trabalho. “Eu tinha uma despesa muito alta. Devia quase R$ 15 mil entre empréstimo, cartões, cheques”, lembra.

A história dela começou a mudar no ano passado. A cooperativa de serviços de saúde onde trabalha ofertou cursos e palestras sobre planejamento financeiro para os colaboradores. “Eles abriram uma consultoria particular. Para participar, precisávamos escrever uma carta ao professor contando a nossa situação. Fui escolhida e consegui a orientação”, conta.

Aplicando os ensinamentos que recebia, Aline conseguiu negociar uma dívida de quase R$ 10 mil com o banco. “Fiz propostas à instituição para pagar parcelado de modo que coubesse no bolso, ainda estou pagando, porém, com tranquilidade. Já as outras despesas, que juntas somavam R$ 5 mil, consegui quitar”, comenta.

A Aline de hoje, diferente da versão de um ano atrás, faz planilhas de gastos, está mais focada no trabalho e ainda conseguiu realizar um sonho. “Antes eu não tinha nada planejado e fui ajustando isso. Hoje, consegui me colocar na linha e comprar um carro, quitar as dívidas e ainda guardar dinheiro”, diz orgulhosa.

A nova Aline ainda lembra que foi um período difícil, mas valeu a pena. “Eu estava no fundo do poço, desmotivada, chateada e endividada. Precisei mudar, agora anoto tudo. Até mesmo uma bala que compro”, desabafa.

Demissão por dívida é ilegal e pode gerar dano moral

Quando questões pessoais afetam o desempenho profissional do trabalhador, elas se tornam um problema também para as empresas. E, em alguns casos, os patrões acabam demitindo o funcionário devido à situação. Embora a prática ocorra, segundo advogados, ela é contra a lei e pode gerar dano moral para o empregado.

Como o funcionário não pode ser demitido por estar endividado, muitas vezes, o contratante informa que o motivo do desligamento é uma reestruturação no seu quadro operacional ou que ele não está se adaptando às funções.

A advogada trabalhista Regina Murta explica que o patrão tem o direito de dispensar o funcionário desde que não configure causa discriminatória. “A baixa produtividade não gera dispensa por justa causa. O empregador pode chegar a conclusão de que o trabalhador não se enquadra nas expectativas que tinha sobre ele e pode dispensar, mas nunca por justa causa”, explica.

Segundo ela a justa causa só pode ser aplicada em casos que são elencados de forma taxativa na legislação, como por exemplo, a falta de confiança (entrega de atestado médico falso e furto) e a desídia (preguiça).

“No caso em que devido as dívidas o trabalhador quebra a confiança entre ele e o empregador a situação é diferente. Se o patrão desconfiar que exista um desvio de produtos ou dinheiro para pagar a dívida que o funcionário tem, a pessoa poderá ser demitida”, comenta a advogada.

Mas os especialistas dizem que a demissão simplesmente pela pessoa estar endividada é ilegal e pode gerar processo conta o empregador, segundo o advogado Nelson Tomaz Braga. “Não há previsão legal para que a demissão do empregado seja por justa causa ou sem justo motivo de acordo com a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). Essa conduta é passível de indenização a título de dano moral conforme a própria CLT apresenta”, afirma.

“Nós como pessoas (ser humano) e profissional somos os mesmos. Por isso, o que acontece na vida pessoal impacta no trabalho e vice-versa. Quando conversamos com um empregado que está com desempenho baixo, ele geralmente fala que tem um problema financeiro. A primeira coisa que a empresa precisa fazer é tentar ajudar aquela pessoa”, comenta a vice-presidente da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH), Neidy Christo.

O economista e consultor de empresas Mário Vasconcelos aponta que começar a gastar o tempo de trabalho para resolver os problemas financeiros nunca é uma boa opção. “Quem está endividado costuma ir atrás de bancos, financeiras e até agiotas e acaba deixando suas funções de lado para tentar resolver essas questões pessoais. Isso não pode acontecer”, comenta.

O consultor ainda aponta que há ainda quem receba ligações de cobrança em seu local de trabalho, o que constrange a pessoa. Ou ainda começa a ter comportamentos de irritabilidade ou quadro pré-depressivo, devido à situação.

“Se a pessoa está endividada, ela precisa administrar o dinheiro e não gastar mais do que ganha. Ela deve controlar as despesas cortando os excessos. Não se paga dívida fazendo outras”, ensina Vasconcelos.

O QUE AS EMPRESAS OFERECEM

Dinheiro: empresas dão lição de organização financeira. (Reprodução)

Dinheiro na mão

ADIANTAMENTO

Segundo a legislação, as empresas podem fazer um adiantamento salarial para o funcionário. Essa prática pode ser realizada desde que o valor adiantado não exceda a remuneração do trabalhador.

EMPRÉSTIMO

As empresas podem apoiar os funcionários a criarem uma cooperativa de crédito. Dessa forma, os próprios empregados ajudam uns aos outros emprestando dinheiro com juros mais baixos do que de mercado. Neste caso, o desconto pode ser realizado na folha de pagamento, numa operação de crédito consignado.

Ensino

CURSOS

Para lidar com as dívidas não adianta apenas ter o dinheiro em mãos, também é preciso saber como usá-lo. Algumas empresas oferecem cursos e palestras rápidas, de até 4 horas, ou seminários para ajudar a entender mais sobre finanças pessoais e orçamento familiar.

CONSULTORIA

Também na lista de itens que as empregadoras oferecem aos trabalhadores está a consultoria. Alguns empregados que estão em uma situação crítica são atendidos por um profissional da área de economia para colocar em ordem seus gastos e quitar o saldo negativo.

VÍDEO-AULA

Têm empresas que podem optar pelas vídeo-aulas para ajudar o colaborador. Como podem ser acessadas facilmente, elas acabam sendo uma opção economicamente mais viável. É também um ótimo material para complementar outras ações que realizam.

CARTILHAS

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As cartilhas educativas também são uma ótima forma de ajudar o trabalhador a se reorganizar. Elas podem conter desde dicas de como economizar até ensinar a montar uma planilha de planejamento financeiro.

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