Publicado em 30 de abril de 2020 às 09:17
O lucro do Bradesco caiu 39,8% no primeiro trimestre de 2020 em relação a iguais três meses de 2019, a primeira retração, na comparação anual, desde o quarto trimestre de 2016.>
Naquele trimestre, a baixa havia sido de apenas 4%.>
O tombo do primeiro trimestre de 2020 foi causado pelo forte aumento de reservas para cobrir eventuais calotes, consequência dos danos econômicos acusados pelo coronavírus. O salto nessas reservas foi de 86,1% -para R$ 6,7 bilhões.>
Assim, o lucro líquido do banco ficou em R$ 3,8 bilhões no período.>
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O Bradesco é o segundo grande banco a divulgar os resultados do primeiro trimestre de 2020. O Santander, que divulgou seu balanço na terça-feira (28), apontou alta de 10,5% no lucro do período, para R$ 3,9 bilhões.>
Em relatório, o Bradesco -que é o segundo maior banco privado do país- afirmou que seu nível de provisionamento reflete as expectativas de perdas para o banco e que foi atualizado dada a crise provocada pela pandemia do coronavírus e as incertezas em relação ao tamanho do impacto que a doença terá na economia (e, consequentemente, nos resultados do banco).>
"Neste contexto, reconhecemos adicionalmente R$ 2,7 bilhões de provisão em nosso resultado deste trimestre. Este valor somado a parcela pré-existente de R$ 2,4 bilhões, reservada para possíveis perdas em cenário econômico adverso, totaliza uma provisão de R$ 5,1 bilhões", afirmou a instituição.>
Do total de R$ 5,1 bilhões em provisão, R$ 4,9 bilhões estão alocados, inicialmente, como provisão complementar e R$ 200 milhões como provisão requerida. >
"Entendemos que essa provisão reflete nossa melhor estimativa de perda, até que se tenha uma visão mais clara do cenário futuro. Excluindo o efeito desta provisão complementar, as variações das despesas com PDD [Provisão para Devedores Duvidosos] nos períodos estão, essencialmente, relacionadas ao crescimento das operações de crédito, principalmente pela evolução das operações com pessoas físicas e micro, pequenas e médias empresas, que influenciam na variação da despesa com PDD (bruta), às maiores despesas com impairment [custo de deterioração] de ativos financeiros e às menores receitas com recuperação de crédito", disse o banco em relatório. >
O Conselho Monetário Nacional (CMN) já havia diminuído a necessidade de provisão dos bancos em meados de março, quando dispensou que bancos precisassem aumentar seu provisionamento no caso de repactuação de operações de crédito pelos próximos seis meses.>
No início de abril, o CMN também permitiu que empréstimo atrasados permanecessem na mesma classificação de risco anterior a fevereiro. >
A classificação de risco é calculada de acordo com o perfil e com o histórico do cliente e mede o potencial de inadimplência daquela operação. Quando o tomador atrasa o pagamento ou pede renegociação de dívidas, o crédito cai de categoria e o banco precisa aumentar os recursos provisionados, uma vez que o risco de os recursos não serem recuperados sobe. >
Assim, como as medidas de flexibilização são temporárias, os bancos começam a antecipar provisões para calotes futuros, também baseadas no aumento de crédito concedido no período de crise. >
A carteira de crédito do Bradesco, por exemplo, apresentou um aumento de 17% no primeiro trimestre em relação a igual período do ano passado, para R$ 655,1 bilhões. Os principais destaques ficaram com pessoas físicas, cujos empréstimos subiram 19,5%, para R$ 239,2 bilhões. A alta desse segmento foi puxada pelas linhas de crédito pessoal e consignado, que avançaram 36,7% e 22,1%, respectivamente. >
A carteira de pequenas e médias empresas apresentou aumento de 17,8%, para R$ 119,1 bilhões e o crédito às grandes empresas teve alta de 14,8%, para R$ 296,7 bilhões. >
Desde que a pandemia de Covid-19 ganhou força, grandes empresas teriam sacado recursos pré-aprovados nas instituições financeiras, o que, segundo os bancos, teria deixado negócios de pequeno e médio porte com menor disponibilidade de recursos. >
O Banco Central também já havia anunciado um pacote de medidas para injetar liquidez (oferta de dinheiro) no sistema financeiro, tais como a possibilidade de empréstimos garantidos por letras financeiras às instituições financeiras e a redução dos compulsórios (parcela do dinheiro dos clientes que os bancos deixam retida no BC). >
Os bancos também são responsáveis por 15% do total de recursos- os outros 85% serão financiados pelo governo -a serem emprestados pela linha de crédito emergencial voltada para financiar a folha de pagamento de pequenas e médias empresas (com faturamento anual de R$ 360 mil a R$ 10 milhões). O crédito total a ser liberado é de R$ 40 bilhões. >
A inadimplência total do Bradesco também apresentou avanço no primeiro trimestre de 2020, de 3,3% em igual período de 2019 para 3,7%. Todos os segmentos mostraram alta nos calotes acima de 90 dias: o índice de pessoas físicas subiu de 4,4% para 4,8%, enquanto o indicador das micro, pequenas e médias empresas aumentou de 3,7% para 4,5% e o das grandes empresas foi de 0,8% para 1,2%. >
"A partir da segunda quinzena de março, o agravamento da crise do Covid-19 colocou pressão adicional sobre os índices de inadimplência e entendemos que essa situação deverá se agravar para o sistema financeiro em geral nos trimestres subsequentes. Entretanto, a extensão e duração dos impactos futuros dependem da evolução da pandemia e seus desdobramentos sobre a economia em geral", afirmou o banco em relatório. >
As receitas com tarifas e prestação de serviços do Bradesco registraram um aumento de 2,6%, para R$ 8,3 bilhões. >
A margem financeira total do banco ficou em R$ 14,5 bilhões, alta de 2,9%%. >
Segundo o Bradesco, dada as incertezas causadas pela pandemia, que mudaram o cenário e reduziram a previsibilidade do desempenho dos negócios neste momento, a administração do optou por suspender as projeções divulgadas ao mercado (guidance) para 2020. >
"Tão logo tenhamos um cenário que permita maior previsibilidade, a administração Bradesco avaliará retomar a divulgação de projeções ao mercado", afirmou em relatório. >
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