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Ao escolher Funchal, Guedes sinaliza que política fiscal não deve mudar

Ao escolher Funchal, Guedes sinaliza que política fiscal não deve mudar

Após pressão do Centrão, ministro da Economia iniciou um processo de reformulação da equipe começando pela troca do número 2 da pasta visando melhor diálogo com o Congresso. Ao mesmo tempo, nome escolhido visa dar sinal ao mercado

Publicado em 28 de abril de 2021 às 15:26

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Bruno Funchal assume o comando do Tesouro Nacional no dia 31 de julho de 2020
Bruno Funchal, ex-secretário da Fazenda do ES, assumiu o comando do Tesouro Nacional em julho de 2020. (Tonico/Assembleia Legislativa do ES)
Adriana Fernandes e Idiana Tomazelli

Sob pressão das lideranças do Centrão para o desmembramento do seu superministério da Economia, o ministro Paulo Guedes disparou um processo interno de reformulação em postos-chave da sua equipe após o desgaste da crise política para a sanção do Orçamento de 2021. As mudanças podem ajudar a diminuir o bombardeio vindo do Congresso e do próprio governo no rastro do impasse provocado pela aprovação da lei orçamentária.

As trocas - pelo menos quatro até agora - já estavam sendo planejadas antes do acordo para a sanção do Orçamento, mas foram aceleradas depois da repercussão negativa na Esplanada com o forte bloqueio de despesas em todos os ministérios para manter recursos para emendas parlamentares, verbas destinadas por deputados e senadores aos seus redutos eleitorais. O intuito da dança das cadeiras é melhorar a articulação da equipe econômica.

As principais mudanças vão ocorrer na área fiscal. Guedes vai substituir o secretário especial de Fazenda, Waldery Rodrigues, alvo de críticas dentro do governo e dos líderes governistas no Congresso. Lideranças políticas criticavam o time de Guedes como fraco, depois da "debandada" dos principais nomes, para buscar a divisão do seu ministério.

Para o lugar de Waldery, o escolhido foi o atual secretário do Tesouro, Bruno Funchal, um técnico considerado firme na defesa das regras fiscais, porém, aberto ao diálogo e à maior transparência nas negociações.

"O que está acontecendo é remanejamento da equipe justamente para facilitar negociações com Congresso", disse Guedes na portaria do ministério a jornalistas no fim do dia. Segundo o ministro, Waldery deve assumir o cargo de assessor especial.

Na estrutura do ministério, Funchal era subordinado de Waldery, que pretendia ficar no cargo até o final de junho, mas deve sair antes com a antecipação da reforma na equipe econômica.

Como a área comandada por Waldery foi uma das mais ferrenhas defensoras do ajuste no Orçamento por conta da maquiagem em despesas obrigatórias, a escolha de Funchal, um defensor do rigor das regras fiscais dentro da equipe, procurou sinalizar que não há risco de mudança de rota na política fiscal.

O secretário especial de Fazenda do Ministério da Economia, Waldery Rodrigues
Waldery Rodrigues ocupava o cargo de secretário especial de Fazenda do Ministério da Economia. (Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)

O secretário de Orçamento Federal (SOF), George Soares, também vai deixar o cargo. Ele é subordinado a Waldery. Os dois tiveram vários atritos nos últimos meses. Na crise do Orçamento, o clima piorou. O secretário sofreu desgaste na discussão do Orçamento e pediu para sair do cargo.

Antes mesmo da aprovação do Orçamento com manobras para aumentar as emendas, a cabeça de George já tinha sido pedida por ministros palacianos e lideranças do Centrão, irritados com tantas restrições e regras fiscais apontadas pelo secretário. Soares era um dos principais expoentes do grupo técnico que ameaçava com "apagão de canetas" se as regras fiscais não fossem respeitadas.

Ele será substituído por Ariosto Antunes Culau, um quadro técnico de grande experiência na área orçamentária com passagem em vários postos pela Esplanada, inclusive no mesmo cargo na época que o Ministério do Planejamento existia.

A condução do processo pelo atual secretário foi muito criticada pela ala política, mas o trabalho de Waldery também costumava ser alvo de outras áreas dentro do Ministério da Economia, que reclamam que as decisões importantes "travam" na Fazenda.

CARTÃO VERMELHO

O atual secretário especial de Fazenda já esteve na mira do presidente Jair Bolsonaro no ano passado, quando defendeu congelar aposentadorias e mexer no seguro-desemprego para liberar recursos ao Renda Brasil, como era chamada a proposta de reformulação dos programas sociais. Na época, Bolsonaro ameaçou dar "cartão vermelho" a Waldery e já chegou a pedir a cabeça do secretário. Desde aquela época, o secretário silenciou e evitou polêmicas.

Para o lugar de Funchal no Tesouro, Guedes pode buscar um nome dentro da própria pasta. Jeferson Bittencourt, assessor especial de Relações Institucionais, é cotado para assumir o cargo. Bittencourt é servidor de carreira do Tesouro e um dos principais especialistas na área fiscal do Ministério.

A troca no Tesouro e na Fazenda não é a única dentro do Ministério da Economia. A secretária especial do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI), Martha Seillier, também deve deixar o comando da área nos próximos dias. Ela deve assumir um cargo no Banco Mundial e o PPI voltará a ser vinculado ao Palácio do Planalto - hoje, ele está dentro da estrutura do Ministério da Economia.

A assessora especial para reforma tributária, Vanessa Canado, vai deixar a equipe de Guedes. O economista Isaías Coelho vai assumir o lugar de Vanessa. Ele já vinha participando dos debates das propostas na área tributária na Economia.

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Ainda está de saída a secretária especial adjunta de Comércio Exterior do Ministério da Economia, Yana Dumaresq. Ela deve ser substituída pelo atual subsecretário adjunto de Negociações Internacionais da pasta, João Rossi. De acordo com fontes, Yana comunicou a equipe que deixaria o governo para seguir para a iniciativa privada.

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