Publicado em 15 de junho de 2020 às 10:14
As três maiores companhias aéreas do país - Gol, Latam e Azul - retomaram voos neste mês a oito cidades que haviam deixado de fazer parte da malha aérea desde o início da pandemia. Seis delas ainda estão com a curva ascendente no número de casos de coronavírus. >
O retorno dos voos no atual estágio da pandemia divide a opinião de epidemiologistas consultados pela Folha e ocorre antes de o país atingir o pico da curva epidemiológica.>
Ilhéus (BA), Londrina (PR), Maringá (PR), Porto Seguro (BA), Ribeirão Preto (SP) e Rondonópolis (MT) registram tendência de crescimento no número de casos do vírus, segundo dados do Ministério da Saúde analisados pela Folha.>
Jaguaruna (SC) e Joinville (SC), também na lista de cidades que voltam à malha aérea em junho, apresentam estabilidade no contágio da doença. A reportagem usou como critério de avaliação a média móvel de sete dias de novos casos registrados nas cidades.>
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A redução do número de voos chegou a 95% no início da pandemia. As aéreas tiveram queda drástica de caixa, entraram no vermelho e passaram a negociar um pacote de socorro ao setor com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).>
A holding da Latam, que no Brasil disputa a liderança doméstica com a Gol, pediu recuperação judicial nos Estados Unidos em maio. Para evitar ter de recorrer à recuperação judicial no Brasil, Azul e Gol têm buscado renegociar dívidas com as arrendadoras de aeronaves e o pagamento de empréstimos com bancos.>
A retomada gradual dos voos anunciada pelas companhias aéreas teve início neste mês e deverá ser ampliada até o fim do ano. A projeção das empresas é que em dezembro a operação chegue a algo entre 40% e 80% dos níveis pré-pandemia.>
Neste mês, a Latam foi a empresa que ampliou a malha a mais cidades. Foram 14 novos destinos (alguns deles seguiam atendidos pelos concorrentes), contra 8 da Gol e 4 da Azul. A empresa opera hoje com 9% de sua capacidade.>
Das cidades que voltaram a ser atendidas pela Latam, cinco haviam deixado de ter voos durante a pandemia: Londrina, Porto Seguro, Ribeirão Preto, Jaguaruna e Joinville. As três primeiras registram aumento do número de casos de coronavírus. Ao todo, a aérea voa agora para 39 destinos domésticos.>
Na Gol, 3 das 8 cidades em que a empresa voltou a operar não eram mais rotas de voos: Ilhéus, Maringá e Porto Seguro. As três têm curva ascendente nos casos de coronavírus. A companhia opera agora em 35 cidades brasileiras.>
Já na Azul, que voa a 44 municípios do país neste mês, são três novos destinos: Natal, Ribeirão Preto e Rondonópolis. Os últimos dois haviam parado de receber voos e ainda têm aumento de casos.>
Para o epidemiologista Paulo Lotufo, professor da Faculdade de Medicina da USP, a retomada dos voos nas cidades em que ainda há aumento de casos é problemática.>
"Ter as pessoas saindo de um lugar para outro de avião é realmente pedir para que os casos do vírus se espalhem. A experiência dos outros países foi esperar a redução dos casos, curvas descendentes.">
Lotufo afirma que não há justificativa técnica do ponto de vista da saúde que embase a decisão de retomar os voos em meio à curva ascendente de infecções pelo coronavírus.>
"Do ponto de vista epidemiológico, quem vai pegar o voo em Ribeirão Preto pode ter contatos com o vírus no caminho e ir para sua cidade, que não necessariamente é a do aeroporto. Duas dessas pessoas podem se contaminar no voo e uma pode ir para Uberlândia e outra para Batatais. Isso espalha o vírus.">
Já Marcio Bittencourt, médico do Hospital Universitário da USP, afirma que o número de voos entre cidades com curva ascendente não necessariamente colabora para o aumento do número de casos, desde que sejam tomados cuidados para minimizar a exposição das pessoas a aglomerações.>
"Se por um lado a gente quer evitar o trânsito de pessoas contaminadas, deixar regiões sem voos pode gerar problemas de desabastecimento e dificultar a chegada de profissionais da saúde ou insumos médicos, por exemplo. O transporte em si não é necessariamente um problema", diz.>
"A restrição de voos tem o objetivo de evitar levar o vírus para onde ele ainda não está. Por isso, preocupa mais ter voos para onde não há casos. Entre duas cidades com descontrole da epidemia é ruim, mas o impacto não é muito grande", afirma o especialista.>
Bittencourt diz que o ideal é que não haja fluxo de turistas nas rotas, pelo menos por enquanto, e que haja um mínimo de distanciamento de um metro entre os passageiros no interior das aeronaves. Ele recomenda, ainda, o uso de máscaras e a higienização das mãos.>
"Tudo o que tem que funcionar durante a pandemia deve funcionar de modo planejado e preparado para minimizar riscos de infecção. No setor aéreo, é preciso ter um protocolo de atendimento do passageiro no aeroporto, no avião, no assento. Não pode embarcar passageiro com sintomas como febre, perda de olfato e paladar, não pode transportar alguém que esteve próximo de casos suspeitos ou confirmados nos últimos dez dias.">
Procurada pela reportagem, a Latam disse que "avalia constantemente a sua malha aérea mínima essencial para enfrentar os impactos causados pela Covid-19, sempre com base na demanda de passageiros.">
"A Latam reforça ainda que, desde o início da pandemia, agiu proativamente para assegurar o cuidado com as pessoas. Além de filas transversais, alternadas e espaçadas nos balcões de check-in, distribuição de álcool em gel, obrigatoriedade do uso de máscaras a bordo, adotou novos processos de limpeza e desinfecção profunda das aeronaves", disse a empresa em nota.>
A Gol afirmou que o transporte aéreo é serviço essencial e que a demanda por voos "é parte da importante decisão de oferecer" as rotas.>
"Todos os procedimentos regulares foram reforçados, além dos já rígidos padrões de sanitização da aviação civil estabelecidos pelos órgãos responsáveis", afirmou a empresa também em nota.>
Entre as novas exigências de segurança, está o uso obrigatório de máscaras por clientes e tripulação.>
"Também foram implementadas avançadas medidas adicionais de limpeza e higienização dos aviões durante as paradas em solo e pernoites, com atenção redobrada aos assentos e os braços das poltronas, cintos de segurança, bandejas, piso e paredes. Além disso, foi aprimorado o processo de limpeza noturna com o uso de um desinfetante de grau hospitalar para as galerias de serviço e todas as áreas de uso interno na cabine, incluindo a dos pilotos", diz a nota.>
Já a Azul também afirmou que o presta "um serviço importantíssimo para o transporte de cargas, médicos, equipamentos para combate ao vírus" durante a pandemia, que segue os protocolos de higiene e segurança e que reforçou a limpeza de suas aeronaves a cada voo.>
"A Azul também foi a primeira aérea do país a tornar obrigatório o uso de máscaras por tripulantes e clientes, tanto a bordo quanto em solo. Em outra iniciativa pioneira, a Azul passou a medir a temperatura dos tripulantes a cada início de turno, aumentando a confiança em solo e a bordo e preservando a vida e a segurança de todos", afirma em nota.>
A empresa distribui kits com luvas, álcool em gel e lenço umedecido nos aviões a cada novo voo.>
"A companhia também tem utilizado descontaminantes bactericidas que contam com um princípio ativo que elimina o vírus da Covid-19 em 99,99% dos casos. Com o produto e a limpeza dupla nos assentos, mesinhas, bolsão, banheiros, encosto de cabeça, cinto de segurança, janela, paredes e compartimentos superiores.">
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