Publicado em 27 de abril de 2021 às 12:21
SÃO PAULO- O acordo do Orçamento, que reduziu as despesas em R$ 29 bilhões após sanção do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), pode ser insuficiente para impedir o rompimento do teto de gastos e para manter a máquina pública funcionando, segundo análise do economista Marcos Mendes, do Insper.>
Para ter recursos suficientes para as despesas obrigatórias (como as aposentadorias), o governo abriu o espaço de R$ 29 bilhões no Orçamento, tanto por meio de vetos quanto de bloqueios (em que a despesa é liberada se houver dinheiro).>
Na avaliação de Mendes, que também é colunista da Folha, o governo pode ter subestimado as despesas com Previdência e abono salarial, por exemplo, o que traria a necessidade de mais bloqueios de despesas e remanejamento de recursos ao longo do ano, para cumprir o teto.>
Ele também prevê um aumento dos gastos por fora do teto, para equacionar gastos a mais com a pandemia, como os de vacinação e com o novo auxílio emergencial.>
>
"Se a despesa vier pior do que a previsão otimista do governo, ele terá de espremer os gastos ainda mais e podem faltar de R$ 16 bilhões a R$ 23 bilhões para mover a máquina", diz o economista.>
Mesmo com a crise sanitária do novo coronavírus, os recursos para a saúde não foram poupados no corte do Orçamento e a pasta perdeu R$ 2,2 bilhões em vetos. Entre outras perdas, o aperto nas verbas atingiu a Educação, colocou em risco o programa Minha Casa, Minha Vida e fez o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) adiar o Censo pelo segundo ano seguido.>
A decisão, Mendes ressalta, foi política. Mesmo depois do corte, o montante que sobra para as emendas parlamentares é de R$ 35,5 bilhões -R$ 18,5 bilhões acima do valor das emendas impositivas.>
"O Congresso se apropriou de uma parte ainda maior do Orçamento", diz ele, que lembra, ainda, que os parlamentares ficaram com um volume a mais de emendas, enquanto os ministérios estão em uma situação difícil, pois há uma distorção causada tanto pela fragilidade do governo Bolsonaro quanto pela pulverização da representação política no Congresso.>
"Haverá pressão dos ministros por flexibilização fiscal para recompor esses gastos, o que é uma novidade deste governo, em que há uma disputa interna visível entre os ministérios. O Ministério da Economia possivelmente conta com a não execução de parte das emendas parlamentares.">
Pelos cálculos de Mendes, o déficit primário (sem contar os juros da dívida) deve superar 4% do PIB (Produto Interno Bruto) deste ano. Esse resultado é quase a metade do déficit recorde do ano passado (9,45%).>
"A dívida bruta ficará em torno de 95% do PIB ao final do ano, sem perspectiva de mudar a trajetória de crescimento, visto que 2022 é ano eleitoral.">
Ele também avalia que, se o ambiente político estivesse equilibrado, o ideal seria negociar um aumento do teto para este ano e uma redução no ano que vem. O cenário atual, de fragmentação e conflagração políticas, no entanto, tornaram essa saída impossível.>
"Este é um governo que não tem capacidade de coordenar a agenda e que governa pelo estímulo à polarização. Tudo isso dificulta qualquer tipo de decisão que olhe para o coletivo antes de olhar para o individual", diz.>
A sanção, com vetos, ao Orçamento de 2021 foi publicada na edição de sexta-feira (23) do Diário Oficial da União.>
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta