Assessor e Especialista em investimentos da Valor. MBA pela PUC (RS) em Finanças, Investimentos e Banking

O Capitólio não é Brasília: por aqui, cenário econômico está diferente

Na época da invasão do Congresso norte-americano, houve alta das ações manutenção de uma política expansionista. No Brasil, os juros estão em alta e Real se desvalorizou

Vitória
Publicado em 11/01/2023 às 10h03
Cédulas de real
Após invasões em Brasília, Real se desvalorizou mesmo com o dólar em queda. Crédito: Divulgação

No atual momento, fazer política e instaurar performances são esportes inseparáveis. A percepção de que uma crise institucional pudesse acontecer logo na primeira semana de 2023 sob comando do novo governo foi controlada, apesar do esgarçamento da relação entre políticos e sociedade ainda persistir. Por outro lado, a fissura democrática por meio da invasão aos três poderes da República — o Congresso Nacional, o Supremo Tribunal Federal e o Palácio do Planalto — não ruiu.

A comparação é inevitável. A invasão do Congresso norte-americano no dia 6 de janeiro de 2021 foi repetida à maneira tropical, como farsa. Há quase dois anos, milhares de manifestantes em Washington invadiram o Capitólio, sede do Poder Legislativo americano. No entanto, o Capitólio não é Brasília e vice-versa.

À época, o índice Dow Jones seguia em alta de 2,2%, e apenas cedeu parte dos ganhos, avançando 1,4% no pregão. A alta das ações ocorreu, pois os juros americanos estavam perto de zero, houve também a manutenção de uma política expansionista por parte do Federal Reserve (Fed) — Banco Central americano —, além da perspectiva de melhora nos resultados das empresas em 2021, após a economia ter superado a pior fase da pandemia.

No Brasil, o cenário está diferente. Os juros estão em alta. A edição mais recente do Relatório Focus, divulgada pelo Banco Central (BC), mostra a manutenção das expectativas dos juros em 12,25% ao ano. Só isso é o suficiente para tirar boa parte da tração da renda variável.

No entanto, os ativos locais esboçaram uma leve reação ao longo do pregão na segunda-feira (9/01). Bolsa e juros abandonaram os piores momentos do início do dia e encerraram o pregão em um tom mais positivo. A exceção foi o Real, que se desvalorizou mesmo com o dólar em queda frente a grande maioria das moedas emergentes e desenvolvidas.

Para ilustrar melhor os rendimentos financeiros, segue o retorno acumulado do ano de 2022 para termos algumas métricas para 2023. O Ibovespa acumulou alta de 4,69%. Já na renda fixa o CDI rendeu 12,37%, os pré-fixados (5 anos) renderam 2,63%, os títulos de inflação (5 anos) 6,53% e os fundos de crédito 14,83% (120% do CDI). O câmbio se valorizou no ano em 6,50% e os fundos multimercados tiveram um rendimento no ano de 13,66% (110% do CDI).

Definitivamente, em termos econômicos, o Capitólio não é Brasília. Em termos políticos, o “8 de janeiro” brasileiro poderá ter repercussões com potencial de marcar todo o novo governo Lula. Após a reocupação das sedes do Executivo, Legislativo e Judiciário, haverá um longo processo de identificação, investigação e julgamento dos envolvidos.

É bem provável que o ministro Alexandre de Moraes amplie seu poder nos processos já instaurados para apurar os financiadores das máquinas de “fake news” e dos atos considerados antidemocráticos. Ao que tudo indica, o recém-empossado presidente Lula também ampliará seu capital político mobilizando a cúpula do Congresso e do STF em apoio às suas ações.

Uma fábula antiga, para o tempo atual

Por fim, deixo uma pequena fábula de Esopo, muito pertinente aos fatos ocorridos em Brasília e pelas pessoas que protagonizaram a baderna na Praça dos Três Poderes neste início de ano. Esopo foi escritor à época da Grécia Antiga, autor de inúmeras fábulas populares. Como curiosidade, o termo "fábula" é tomado por equivalente do grego mito, que designava no pensamento aristotélico a “imitação de ações”, “a composição dos atos”, ou seja, a intriga, e também representava o primeiro e o mais importante elemento da tragédia. Segue a fábula:

Surgira uma séria disputa entre o cavalo e o javali; então, o cavalo foi a um caçador e pediu ajuda para se vingar. O caçador concordou, mas disse: "Se deseja derrotar o javali, você deve permitir que eu ponha esta peça de ferro entre as suas mandíbulas, para que possa guiá-lo com estas rédeas, e coloque esta sela nas suas costas, para que possa me manter firme enquanto seguimos o inimigo."

O cavalo aceitou as condições e o caçador logo o selou e bridou. Assim, com a ajuda do caçador, o cavalo logo venceu o javali, e então disse: "Agora, desça e retire essas coisas da minha boca e das minhas costas". "Não tão rápido, amigo", disse o caçador. "E o tenho sob minhas rédeas e esporas e, por enquanto, prefiro mantê-lo assim".

“O javali, o cavalo e o caçador”, Fábulas de Esopo.

A Gazeta integra o

Saiba mais
Bolsa de Valores Taxa de Juros dinheiro Mercado Financeiro

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta.

A Gazeta deseja enviar alertas sobre as principais notícias do Espirito Santo.