Ph.D em Contabilidade, consultora de empresas em Ciência de Dados e negócios, professora da Fucape Business School, jornalista e comentarista da CBN Vitória

Cartão de crédito: acabou a era do 'parcelamento sem juros'?

No comércio, o discurso do “parcelamento sem juros” está quase extinto. E quando há dez ou doze prestações, por exemplo, o juro mensal é bem alto. Saiba como não entrar em uma bola de neve

Vitória
Publicado em 08/07/2022 às 11h45

Até bem pouco tempo, dois anos atrás, ainda no governo Bolsonaro, a taxa de juro básica no Brasil atingia o patamar histórico de 2,2% ao ano. Juros baixos abrem caminho para a expansão da iniciativa privada: o custo do crédito caiu, o dinheiro ficou mais acessível para quem quis tomar risco, empreender, gerar emprego e renda para famílias de trabalhadores.

Houve também uma época, mais de 15 anos atrás, no governo Lula, em que era possível parcelar automóveis populares em até 72 vezes, com juros que beiravam a 1,5% ao mês. Os juros ainda estavam altos, mas a inadimplência e a inflação estavam sob controle ainda, e havia subsídios governamentais para tornar acessível a compra de bens de consumo a famílias de renda mais baixa.

Hoje o cenário está bem diferente: a inflação está em patamares mais altos, sob controle, porém ainda elevados, e a Selic está em 13,25% ao ano, o maior juro básico desde o ano de 2016. Nenhum comerciante está mais disposto a vender automóveis ou qualquer outro bem de consumo em tantas prestações.

 O juro para compras parceladas chega a 6% mensais (quase a rentabilidade anual e nominal da poupança), em algumas simulações de compras do Mercado Livre. Uma compra que saía a R$ 88 à vista por exemplo, se parcelada em duas vezes, seria paga com R$ 8 de juros. Caro, né?

Dado esse contexto econômico, foi me dada a missão de responder à seguinte pergunta: a era dos parcelamentos de 12 vezes sem juros acabou? Antes de responder, vamos a um esclarecimento fundamental. Não existe essa de “parcelamento sem juros”. Todo e qualquer pagamento a prazo embute juros na transação. Então, se o comerciante vier com a conversa de que o preço à vista é o mesmo que a prazo, entenda que ele quer enrolar você: o preço à vista já embute os juros que seriam cobrados caso você comprasse a prazo.

Contas de bancos e cartão de crédito representam 29,70% das dívidas
Contas de bancos e cartão de crédito representam 29,70% das dívidas. Crédito: Avery Evans/Unsplash

No comércio, o discurso do “parcelamento sem juros” está quase extinto. E quando há dez prestações, por exemplo, o juro mensal é alto, como o caso acima do Mercado Livre.

Sob a ótica do consumidor, parcelar parece ser bom, porque a compra cabe no bolso. Mas entenda que a parcela dá uma falsa percepção de que temos mais renda: mês que vem, a sua renda estará menor (e não mais a mesma), e ela continuará assim até que quite a dívida por completo. Bom mesmo é pagar à vista, sempre que possível, com o maior desconto possível.

QUANDO PAGAR A PRAZO VALE A PENA?

Quando não houver diferença entre preço à vista e preço a prazo, aquela enganação sobre a qual falei antes, pague a prazo e antecipe o pagamento das parcelas no cartão.

O Nubank dá 10,9% ao ano de desconto para quem antecipa parcelas no cartão. Assim, você paga a prazo para o lojista e à vista no cartão, com desconto.

Importante: nesse exemplo, vale a pena antecipar o pagamento das parcelas se o seu dinheiro estiver na caderneta de poupança, por exemplo. A poupança rende 6,5% ao ano; o desconto do Nubank é de 10,9% ao ano. O desconto ganha. Agora se o seu dinheiro estiver investido em algo que rende acima de 10,9% ao ano, não vale a pena antecipar o pagamento das parcelas, nessa simulação.

No fim do dia, vale a máxima: compare taxas calculadas na mesma base de tempo, taxas mensais com mensais, anuais com anuais e assim por diante. Aquela que tiver um custo menor é a melhor opção.

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