Curso de Residência
Eco101
Às margens da BR-101, mãos com as marcas de várias idades moldam sonhos por meio de técnicas tradicionais e até milenares. Em Ibiraçu, idosos convertem arte em renda e autoestima criando peças de cerâmica. Mais adiante, em João Neiva, município vizinho, crianças e adolescentes transformam a madeira em instrumentos musicais, abrindo novas possibilidades para o futuro. Os percursos desses dois projetos, voltados para grupos de faixas etárias tão opostas, têm como ponto de encontro o desafio de transformar vidas em suas mais diferentes fases.
Na jornada para conhecer essas duas ações, a primeira parada é o quilômetro 217 da rodovia federal, onde funciona a Escola Oficina de Cerâmica Kanzeon. O endereço já é bastante conhecido dos capixabas e turistas: a área onde está instalado o “O Grande Buda de Ibiraçu”. A estrutura conta com um ateliê responsável por acolher mais de 75 pessoas, entre homens e mulheres, em situação de vulnerabilidade social. A missão é ensinar a gerar renda por meio da técnica japonesa de produzir cerâmica.
Idealizado pelo Mosteiro Zen, o projeto levou 12 anos para sair do papel, tornando-se realidade em 30 de setembro de 2019, e tem como uma das empresas apoiadoras a Eco101, responsável por gerir mais de 400 quilômetros de via em solo capixaba e a apoiar as comunidades no entorno da BR.
Uma das pessoas que tiveram a vida restaurada pelo projeto foi Alda Dias de Souza, de 78 anos, que fez parte da primeira turma e se mantém atuante na iniciativa até hoje
Cinco anos depois desse ponto de partida, a moradora do bairro Guatemala, em Ibiraçu, compartilha que o vínculo formado entre o pessoal da escola é similar ao de uma família. “Cheguei aqui e continuo aqui e só vou sair quando eles não me quiserem mais.”
Ela também enfatiza a relevância da ação para gerar fonte de renda extra para as famílias, uma vez que a maioria sobrevive da sazonal colheita do café. “Nossa cidade é pequena, não tem emprego para todo mundo, e a colheita de café na nossa região dura três, quatro meses ao ano. Passando disso, as pessoas ficam em casa”, explica.
Dona Alda prepara diferentes peças no ateliê. A cerâmica japonesa exige um processo específico de execução. A argila precisa ser aquecida em fornos de alta temperatura, entre 1.200 a 1.300 ºC. Depois de finalizados, os itens vão para um showroom, onde ficam disponíveis para a compra. No espaço, há produtos com preços que vão de R$ 40 a R$ 300.
Concebido originalmente como meio de profissionalização e geração de renda para a comunidade, o projeto proporciona muitos outros benefícios, como amparar o processo de envelhecimento, sublinha o Monge Kendo Bitti.
A Eco101 foi a primeira organização a ser mantenedora da escola de cerâmica, lembra Polliany Siqueira, diretora-executiva da Associação Amigos da Justiça, um dos parceiros que auxiliaram na criação da instituição.
“A empresa abraçou essa causa e aí foi possível formarmos a primeira turma. Dessa primeira turma, a gente tem mulheres como a Dona Alda. Elas não tinham renda nenhuma, e hoje têm”, conta.
O município de João Neiva é o lar de outro projeto social apoiado pela Eco101, o “Música e Luteria”. Idealizada pelo Instituto Preservarte, a iniciativa ensina crianças e adolescentes a arte e o ofício de criar, reparar e ajustar instrumentos musicais de corda, como violinos e ukuleles.
Com a música como base, o projeto, lançado em 2017, semeia nas crianças e adolescentes, entre 8 e 17 anos, valores para o futuro como respeito, disciplina, harmonia e trabalho em equipe.
“A gente está criando valores que não são só ligados à música, são valores também vinculados à cidadania”, defende a presidente do Instituto Preservarte, Ana Casara.
Em 2022, os alunos passaram a produzir violinos, porém, por se tratar de um processo que exige muita prática e atenção aos detalhes, os instrumentistas ainda estão em fase de aperfeiçoamento. “Mesmo assim, os jovens construíram alguns violinos, mas era em parceria. Então, um fazia uma parte, outro fazia outra, o professor ajudava. Esses três anos são o tempo necessário para o aluno fazer um violino inteiro”, completa.
Nos primeiros anos do “Música e Luteria”, o foco era a produção de ukuleles. As turmas criaram cerca de 70 desses instrumentos. Tanto os violinos quanto os ukuleles, e até alguns móveis do instituto, foram construídos de cedro. Há mais de cinco anos, a Eco101 doou uma madeira suprimida durante as obras de reforma de ampliação da BR 101 para a confecção de instrumentos. E o material vem rendendo.
“A gente ainda tem cedro para alguns anos. Poderemos desenvolver ainda muitos projetos com essa árvore. A empresa deu uma destinação nobre para essa árvore. Ela continuará vivendo na mão de muitos músicos, agora em forma de instrumentos”, observa Ana Casara.
Segundo o coordenador de sustentabilidade da Eco101, Thiago Cardoso, a empresa apoia esses projetos sociais por acreditar que seu papel vai muito além de administrar a rodovia.
“Nós nos destacamos como uma referência em iniciativas ESG [sigla em inglês para ambiental, social e governança] no Espírito Santo, porque acreditamos que estradas conectam pessoas e oportunidades. Ao apoiar iniciativas como a Escola de Cerâmica e o ‘Música e Luteria’, estamos impulsionando, nas comunidades, a geração de renda, o enriquecimento da vida cultural e o bem-estar social. Por meio de ações concretas, a Eco101 reafirma seu compromisso em construir uma sociedade mais equitativa e resiliente”, enfatiza Cardoso.
*Carla Nigro e Jessica Coutinho são alunas do 26º Curso de Residência em Jornalismo da Rede Gazeta. Este conteúdo teve a supervisão da editora do programa, Andréia Pegoretti.
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