Sete foi o número cabalístico deste carnaval. Sete foram as passagens pela avenida entre a noite de sábado (15) e a madrugada de domingo (16). Sete as escolas que brilharam aos olhos da plateia na torcida por seus pavilhões. O Sambão do Povo foi palco de Franciscos, negros, índios, músicos que se juntaram a guris, dom João VI e mágicos em espetáculo de provocar baticuns nos corações.
Com seus Chicos, a Piedade trouxe anjos de luz nascendo em cada primavera para semear paz, arte e resistência de todos os naipes de cores. A Mais Querida espalhou a mensagem de São Francisco de Assis retirando da avenida as pedras do ódio para oferecer flores amorosas e de esperança. E onde havia trevas fez-se a luz.
A Jucutuquara deu voz à sabedoria dos Griots ancestrais, mostrando o sangue vibrante da Mãe África, cuja cultura desenhou o arco mestiço da história do Brasil. A arte e cultura africanas passadas por gerações das Nações pretas às belezas e agruras de Machados, Carolinas, Abdias, Mercedes e Mandelas. O sorriso negro se abriu em arte maior no Sambão do Povo.
Os donos de terras brasilis se apropriaram da avenida com a MUG e seu santuário de lendas indígenas. Os olhos delirantes do holandês invadiram Oby com medo, curiosidade e ambição sobre a terra imaculada de riquezas. Ritos canibais ganharam luzes mais espirituais, pássaros de fogo soltaram chispas sob o céu de trovões e relâmpagos de cintilantes tribos. Um mar de verdes cobriu de belezas a passarela.
A Boa Vista juntou notas musicais, batidas de congo, rock, casacas e tamborins para celebrar a música capixaba provando que nem tudo o que é bom vem de fora. Lá estavam a diva Natércia, o Anjo Preto Papo Furado, os manimais Alex e Amaro Lima, a dama do samba Vera da Matta, a sanfona do Alemão do Forró e mais e mais. O capixaba voltou a ser chique sob aplausos do seu povo no Sambão.
Os guris encheram a passarela do samba de sombras e luzes ao ensinar seus beabá ao bloco dos indiferentes. Com direitos jogados como eles nas ruas, sob as marquises do abandono, a Novo Império deu seu grito em favor da criançada e sua merecida dignidade. Mas teve lugar para o palco da alegria, da brincadeira, palhaços em sorrisos foliões e carrosséis girando à cata de um futuro onde sairá dos livros o direito dos guris à vida.
Dona Maria, a Louca, ganhou a avenida em rodopios delirantes quando a Imperatriz do Forte resolveu reviver a família real singrando mares de tormenta para chegar ao Brasil. Dom João VI travou guerra de tapas com Napoleão antes de se transformar numa índia e conceder-lhe plenos poderes de suas terras. A Rota Imperial cruzou as Gerais das ladeiras de Vila Rica até ocupar as varandas do nosso Palácio Anchieta.
Quando os Portais da Ilusão da São Torquato se abriram junto com o dia, um mundo de magias e sensações ilusórias levou à plateia ao universo dos truques entre trevas e clarões. De vermelho, branco e outras colorações, a escola trouxe à mente os versos do poetinha Vinicius com a grande ilusão do carnaval. Clareou o dia e o astro rei derramou luzes sobre a avenida do samba “por um momento de sonho pra fazer a fantasia”.
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E o cabalístico sete fechou as portas do Sambão quando o relógio mostrou seus ponteiros. Terminavam ali os sete carnavais do calendário inumerável de Momo. Que venham mais sete no próximo ano.
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