
O ano eleitoral começa com todos os sinais luminosos apontando para a mesma conclusão: o governador Paulo Hartung (PMDB) fará tudo o que estiver ao seu alcance nos próximos meses para dar maior musculatura política a César Colnago (PSDB) e para maximizar a visibilidade do vice-governador. Tudo a fim de limpar o caminho para Colnago e viabilizar a candidatura dele à sucessão de Hartung como representante do grupo político atualmente na situação.
Juntando todas as peças do quebra-cabeça, aparece muito nítida, hoje, a estratégia definida por Hartung no sentido de pavimentar a estrada eleitoral para seu vice-governador.
A peça mais importante, mas não a única, é a intenção de Hartung, confirmada por membros do alto escalão do governo, de designar Colnago para o posto de “coordenador político” do programa de R$ 1 bilhão de investimentos anunciados para 2018, repetindo o método de “impulsionamento” que o governador deu a seu então vice, Ricardo Ferraço, em 2009/2010. Com esse pacote de bondades nas mãos para distribuir Estado afora, Colnago, até agora um vice discreto, terá todas as condições de se turbinar e chegar minimamente competitivo ao início da campanha eleitoral.
Sem precisar um nome, Hartung informou a todo o secretariado, na reunião realizada em seu gabinete na manhã de terça, sua decisão de escalar um membro da alta cúpula do governo para coordenar o programa de investimentos ao longo de 2018. A secretária de Governo, Angela Silvares, confirma o plano: “Essa é a ideia. Modelo que já aconteceu. Entretanto, ainda não há definição de nome”.
Contudo, não tem para mais ninguém. Respaldada na opinião de outros auxiliares de Hartung consultados sobre o tema, a coluna aposta em Colnago como barbada para ocupar o posto, mesmo porque nenhum nome faz sentido senão o do vice-governador. Vamos às razões:
Em primeiro lugar, é evidente que Hartung vai escalar alguém para essa função única e exclusivamente para “turbinar” politicamente o escolhido. O “coordenador” não será o ordenador de despesas, logo não terá uma função executiva, e sim eminentemente política. Será, simbolicamente, o encarregado das entregas. O cara que vai aparecer bem na fita e nas fotos das inaugurações.
Ora, dentro da equipe de Hartung, quem mais do que Colnago precisa ser turbinado neste momento? O vice é cotadíssimo para assumir o governo e concorrer à cadeira hoje ocupada por Hartung caso este se desligue do cargo no início de abril. No entanto, após passar três anos sem entregas nem grande projeção, Colnago precisa urgentemente adquirir mais visibilidade. Ele e Hartung precisam correr contra o tique-taque do calendário eleitoral. Para recuperar o tempo perdido, que outro modo melhor do que dar ao vice uma centralidade que ele não teve até agora no governo?
Em segundo lugar, Hartung só vai escolher para a função de “referência dos investimentos” alguém que possa ficar no governo (logo, na função) até o fim do ano. É o caso de Colnago, se PH se desincompatibilizar. Outros nomes que em tese poderiam ser designados, como Octaciano Neto e Zé Carlinhos, certamente vão se desincompatibilizar em abril para concorrer a mandatos eletivos.
Além disso, todos os gestos do governador têm um sentido político, o que se torna ainda mais verdadeiro em ano eleitoral. Não é mera casualidade, portanto, que Hartung tenha resolvido tirar férias logo agora, deixando Colnago no comando do Estado pela 11ª vez. Do dia 11 ao dia 22, é ele quem estará no leme. Isso logo após o anúncio dos investimentos, a assinatura do decreto que agiliza os gastos no governo e a abertura do orçamento de 2018, que já pode ser executado (ou seja, gasto) desde o dia 1º. Como dissemos, não há tempo a perder.
Colnago, enfim, precisa tomar um banho a jato... de luz. Ciente disso, PH passa a direcionar todos os holofotes para sua principal aposta caso não concorra à reeleição. É a hora e a vez de Colnago.
Outros sinais
Mencionamos a existência de outros sinais que apontam para a mesma direção, confirmando o projeto de Hartung para dar a César Colnago uma injeção de bomba. Vamos a eles:
Tá liberado!
Na última terça-feira, no mesmo dia em que Hartung revelou a todo o staff do governo seu plano de designar um “coordenador de investimentos”, o Diário Oficial do Estado publicou uma lei complementar e três decretos que, na prática, retiram da estrutura da Vice-Governadoria todos os órgãos que ainda estavam vinculados a ela, deixando Colnago absolutamente liberado para fazer política.
Vem pra cá!
A informação não é oficial, mas fontes palacianas revelam: como parte do esforço para inflar o vice-governador, Hartung cogita até destinar a Colnago um espaço físico dentro do Palácio Anchieta para que o vice possa passar a despachar diariamente da sede do governo.
Proximidade física
Essa atitude, se confirmada, será inédita na Era PH. Até o governo de José Ignácio, o gabinete do vice também ficava no Palácio Anchieta (onde hoje fica o Salão São Tiago). Mas, após a reforma do Anchieta, realizada no 1º governo de Hartung, a estrutura da Vice-Governadoria passou para o Palácio da Fonte Grande, onde até hoje funciona, no 8º andar.
O conselheiro político
Cientista político e experiente analista de cenários, o secretário estadual de Cultura, João Gualberto Vasconcellos, já vem atuando informalmente como um dos conselheiros políticos mais próximos de Colnago. Está mergulhado até o pescoço no projeto para fortalecer o vice-governador e viabilizá-lo como alternativa à sucessão de Paulo Hartung.
Errata
O subsecretário estadual de Trabalho atualmente é Ary Bastos (PTB), e não mais Serjão Magalhães, presidente estadual da mesma sigla, como publicamos ontem de maneira equivocada.
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