O senador Marcos do Val surpreendeu o mundo político capixaba nesta terça-feira (13), com o anúncio da sua decisão de trocar o PPS pelo Podemos. Enquanto a deputada federal Renata Abreu (SP), presidente nacional do Podemos, vibra com a chegada do senador ao partido, o deputado federal Roberto Freire (SP), presidente nacional do PPS, afirma que a direção da sigla respeitava e convivia com posicionamentos pessoais do senador, embora em alguns casos não os aplaudisse.
Segundo Renata Abreu, com a chegada de Do Val ao Podemos (antigo Partido Trabalhista Nacional), “o partido cresce não só na bancada como na qualidade”. “O Marcos é uma referência entre os novos políticos, especialmente numa questão tão sensível quanto é a segurança”, declarou a deputada à coluna.
Por sua vez, o deputado Roberto Freire conta que ficou sabendo da decisão de Do Val por meio do grupo de WhatsApp da Executiva Nacional do PPS (que passará a se chamar Cidadania), onde o prefeito de Vitória, Luciano Rezende, compartilhou a informação com os demais. Freire diz desconhecer as motivações de Do Val – as razões da saída não são especificadas nem na nota oficial do senador à imprensa nem no ofício enviado por ele à direção do PPS, ao qual a coluna teve acesso.
Freire considera, entretanto, “bem plausível” que divergências pessoais de Do Val com o posicionamento político do PPS tenham sido “o elemento mais significativo da saída dele”. A direção do partido, frisa Freire, dava total liberdade a Do Val e aos demais integrantes da bancada, e nem jamais o constrangeu a votar de determinada forma, tampouco ameaçou retaliar o senador por não seguir posições oficiais do comando do PPS.
Mas, em algumas votações no Senado, Do Val se posicionou e votou de modo oposto ao entendimento do partido. Freire cita, por exemplo, os decretos das armas de Bolsonaro. Enquanto o PPS foi contra, Do Val foi um dos principais defensores, no Senado, da manutenção dos decretos.
“Ele tinha algumas posições contrárias ao que o partido defende, por exemplo no caso da política de armas do governo. O partido estava respeitando muitas dessas posições. É claro que não era nada que nós aplaudíssemos... Mas nossa posição sempre foi, historicamente, a de respeitar as posições individuais. Então, mesmo sabendo que as posições individuais dele em alguns pontos não eram as mesmas do partido, nós respeitávamos e convivíamos com isso. Respeitamos as divergências internas e estávamos convivendo sem maior dificuldade.”
OPOSIÇÃO A BOLSONARO
Outro complicador: Freire diz com todas as letras que o PPS hoje se situa na oposição ao governo Bolsonaro e chega a chamar o presidente de “mentecapto” (maluco).
Roberto Freire, presidente nacional do PPS (Cidadania)
Somos oposição. Não há nenhuma dúvida sobre isso. O presidente [Bolsonaro] é um mentecapto. Uma pessoa que, quando não tem nada para destruir, ele inventa
"A única diferença", ressalva Freire, "é que não nos coloquem no mesmo saco dos que fazem uma oposição sistemática. Acho que isso ficou evidenciado quando nós votamos a favor da reforma da Previdência. O PPS sempre votou a favor da reforma, seja no governo FHC, seja nos de Lula e Dilma. E teríamos votado na reforma de Temer, se ela tivesse ido adiante. Simplesmente não somos oposição a tudo e a todos e não somos contra o país.”
Por sua vez, Do Val tem muito mais simpatia pelo atual governo do que tem o próprio partido em que ele estava. E, decididamente, o senador não pratica a oposição ao governo manifestada por Roberto Freire.
Importante, contudo, ponderar que Do Val não mostra atrelamento automático a todas as propostas do governo Bolsonaro. Um exemplo recente é sua posição contrária à indicação de Eduardo Bolsonaro (PSL) para comandar a embaixada do Brasil em Washington – o PPS, por sinal, ingressou com ação no STF contra essa nomeação.
Noves fora, o presidente nacional do PPS afirma receber “com muita tranquilidade” a decisão do senador de migrar para o Podemos.
“Tal como ele entrou, tem o direito de sair. É um problema dele e uma escolha dele. Eu não posso influenciar a vontade de quem quer que seja e tenho que respeitar uma decisão”, diz Freire.
DANÇA DAS CADEIRAS
Com a saída de Do Val, o PPS passa a contar com apenas dois senadores – Eliziane Gama (MA) e Alessandro Vieira (SE), que é delegado da Polícia Civil –, além de oito deputados federais.
Já o Podemos, com a filiação de Do Val, passa a somar nove senadores – entre eles, Alvaro Dias (PR) –, tornando-se assim a segunda maior bancada no Senado, empatada com a do PSD. A maior é a do MDB, com 12 senadores.
Por ter sido eleito em uma disputa majoritária (leva o cargo quem tiver mais votos), o senador que trocar de legenda no meio do mandato não corre o risco de perder o cargo. Esse é o entendimento firmado pelo STF em 2015.
Confira, abaixo, o ofício endereçado por Do Val à direção nacional do PPS (Cidadania) para comunicar sua desfiliação.
Este vídeo pode te interessar
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta.
