Thalles Contão é terapeuta

Dependência como fonte de desespero

"Acreditando você ou não, o desespero não é um sentimento real e quase sempre ele antecede situações de fracasso que poderiam ser evitadas com simples passos"

Publicado em 16/05/2020 às 07h59
Atualizado em 16/05/2020 às 08h00
Jovem com sinais de depressão. Problema, se não for tratado, pode levar a atitudes extremas como o suicídio
"Quando nos desesperamos, muitas vezes só não queremos lidar com a angústia de perceber que, na verdade, são as escolhas que não são fáceis". Crédito: Shutterstock

Caro leitor, diante das circunstâncias atuais, te proponho mais uma reflexão... Hoje se faz profundamente necessário que reflitamos em consonância com a nossa história enquanto espécie. Volto, mais uma vez em nossa coluna, a lembrar-nos de que somos sobreviventes. O homem foi dotado de uma série de talentos naturais que nos levaram além nos mares e até à lua. Você é parte desta história que está longe de acabar, entretanto você consegue experimentar a plenitude do que somos para encontrar conforto emocional em dias de confusão?

Não é difícil olhar a sua volta e ver uma conexão aparentemente harmoniosa entre todas as coisas na nossa sociedade. A civilização criou este estado de interdependência, que historicamente se provou próspero. Caro leitor, já olhou um grande monumento do passado? Alguns parecem até mágicos e impossíveis, mas traduzem bem esta conexão que tornou, pela associação, possíveis grandes feitos tais como as pirâmides ou a grande muralha da China! Associados e organizados somos capazes de grandes feitos, fazemos mágica... mas isto também poderia ser ruim?

Temo, caro leitor, em dizer, que dias como o nosso podem revelar que toda moeda tem dois lados e que um potencial criador, mal guiado, pode gerar destruição. Você porventura já se sentiu impotente diante das coisas e no mesmo instante foi tomado por desespero? Estamos vivendo uma época em que não está sendo difícil encontrar cenas de desespero no sentido mais preciso desta palavra. Um sentimento de confusão, falta de perspectiva positiva e medo, é um estado de ansiedade agravado que não te deixa pensar direito. Nesse momento não há conforto emocional porque você assumiu que não há saída para um determinada situação ou, nos nossos dias, para o mundo. Nesse momento, meu caro leitor, acredite, você vive muito mais que um constatação de cenário ruim, você assume uma dependência que, ao contrário de nossa associação civilizatória, irá te lançar em uma cegueira de identidade.

Mas há uma boa noticia, meu amigo! Acreditando você ou não, o desespero não é um sentimento real e quase sempre ele antecede situações de fracasso que poderiam ser evitadas com simples passos. Você, em seu momento de preocupação ou desespero atual, já conseguiu fazer um exercício de anamnese? Se não, tente! Seria se desafiar a lembrar de toda sua história neste planeta, desde antes das suas lembranças, se deparando até com fatos narrados por seus pais. Também seria importante, após a anamnese, usar sua mente para fazer analogias a partir de fatos vividos e ver se realmente nunca lidou com problemas tão graves. Mas faça uma analogia “por baixo”, comparando situações similares, não contos de fadas! Ainda mais um passo te recomendaria: imaginar uma solução cogitando o pior cenário. Este é o movimento de resignação do suposto fato.

Caro leitor, estes três passos são ferramentas psicológicas úteis em um momento de desespero, realmente funcionam, mas, para concluir, gostaria de te levar a entender que o desespero pode ser um sintoma de um mal maior do que a situação que te desespera.

Em nosso mundo o desespero advém da nossa fragilização existencial, da maneira como nos tornamos dependentes emocionalmente de tudo e de todos! Esta espécie que fez tão grandes coisas virou uma máquina de produzir indivíduos mimados que a qualquer sinal de dificuldade se desesperam assumindo uma fragilidade patológica. Por isso, não conseguem ter em mente a sua própria história, não conseguem por comparação perceber que já enfrentaram coisas piores e tampouco podem aceitar algo menor que o sucesso absoluto.

Se nossa união promoveu o sucesso civilizatório, este, instalado, está promovendo um câncer que nos torna mais frágeis do que nossos ancestrais caçadores e coletores.

A dependência emocional de pessoas e coisas faz com que acreditemos que tudo se trata de ter e sentir, e assim somos guiados por qualquer noção de perda ou desconforto e não sabemos lidar com situações naturais como a escolha do outro ou mesmo a morte. Quando nos desesperamos, muitas vezes só não queremos lidar com a angústia de perceber que, na verdade, são as escolhas que não são fáceis. Isso nos leva a pensar, erroneamente: afinal, para que escolhermos, se podemos condicionar nossa escolha para fora de nós? Não caia, nem agora e nem jamais na armadilha da dependência, porque na melhor das hipóteses sentira desespero e na pior delas, não será mais o dono da sua própria vida!

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