Crítico de cinema e apaixonado por cultura pop, Rafael Braz é Jornalista de A Gazeta desde 2008. Além disso é colunista de cultura, comentarista da Rádio CBN Vitória e comanda semanalmente o quadro Em Cartaz

"Vikings: Valhalla", da Netflix, é ótima continuação para "Vikings"

Com trama situada um século após o fim de "Vikings", "Vikings: Valhalla" é um retorno ao universo da cultura viking e da mitologia nórdica durante os anos de sua queda

Vitória
Publicado em 25/02/2022 às 09h13
Série
Vikings: Valhalla. Crédito: BERNARD WALSH/NETFLIX

“Vikings” é um caso curioso. A série originalmente lançada e exibida pelo History Channel agradou desde o início, mas não foi um sucesso imediato. Foi só quando a Netflix a disponibilizou em seu catálogo que a saga de Ragnar Lothbrok, Lagertha, Bjorn, Ivan e tantos outros finalmente se tornou um fenômeno pop. Durante as seis temporadas, a série teve todos os seus 89 episódios escritos por Michael Hirst, algo raro, mas que ajuda na naturalidade de todo o crescimento dos personagens e da história, além de manter a qualidade do texto sempre com o mesmo padrão.

Vendo o sucesso da série em sua plataforma, a Netflix logo adquiriu os direitos dela para as temporadas finais e não demorou a anunciar uma “continuação”, “Vikings: Valhalla”, que chega nesta sexta (25) ao catálogo do serviço.

Em seus oito episódios da primeira temporada, “Vikings: Valhalla” se esforça tanto para se aproximar da série original quanto para se mostrar um produto novo. Assim, os primeiros episódios deixam a sutileza de lado e despejam referências aos personagens importantes daquela história, e não há nada de errado com isso. Porém, a série logo se mostra mais interessada em olhar para o futuro.

Enquanto “Vikings” acompanhava a ascensão nórdica pela Europa, com as navegações e as invasões, “Vikings; Valhalla” traz a violenta queda. A série inicialmente se passa um século após o fim de “Vikings”, que já trazia o crescimento do cristianismo a supressão do culto aos antigos deuses. Os protagonistas da nova série são os irmãos Leif Eriksson (Sam Cortlett) e Freydis Eriksdottir (Frida Gustavsson), nórdicos livres da influência cristã, e do cristão Harald Sigurdsson (Leo Suter), que se aproxima deles, mas se vê um conflito religioso.

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Frida Gustavsson como Freydis e Sam Corlett como em Vikings: Valhalla. Crédito: BERNARD WALSH/NETFLIX

Boa parte da dinâmica da primeira temporada está nesse conflito: Leif e Freydis são visto como párias quando chegam a Kattegat atendendo ao chamado do Rei Canute (Bradley Freegard) em seu desejo de se vingar do rei britânico Aethelred (Bosco Hogan) por um massacre de daneses. Apesar das diferenças religiosas e de costumes, é a vingança que justifica uma grande aliança viking para a ofensiva contra os ingleses.

“Vikings: Valhalla” se distancia de sua antecessora justamente na queda dos costumes da mitologia nórdica. A nova série é bem menos poética e contemplativa, preferindo uma abordagem mais direta que não chega a incomodar, mas torna o desenvolvimento de personagens um pouco mais didático e dependente dos diálogos um tanto expositivos e nada sutis.

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Kenneth Christensen como Jarl Nori em Vikings: Valhalla. Crédito: BERNARD WALSH/NETFLIX

A princípio não há a complexidade de um Ragnar, por exemplo, que sempre foi tratado por Michael Hirst como um violento invasor. Hirst, vale ressaltar, assina como cocriador apenas pelo seu trabalho pregresso - em “Valhala”, é Jeb Stuart quem comanda o show e a sala de roteiros, ou seja, trata-se de um trabalho bem mais convencional, uma linha de produção de dramaturgia, com menos espaço para um estilo mais autoral.

Isso não significa, porém, não haver bons personagens com boas possibilidades de crescimento. Leif viveu a vida toda na Groenlândia, isolado de outras comunidades, e pela primeira vez entra em contato com o que seria sua cultura, justamente no momento em que ela desaparece. Freydis também tem papel central na série, ficando responsável pelo que ainda resta de arcos mais espirituais. Um dos destaques da primeira temporada é o Rei Canute, que tenta seguir os passos de Ragnar e ser mais aberto em relações a outras culturas, uma total contraposição a seu pai - é uma pena que Canute perca importância no final da temporada.

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Frida Gustavsson como Freydis em Vikings: Valhalla. Crédito: BERNARD WALSH/NETFLIX

“Vikings: Valhalla” se destaca mesmo é nos campos de batalha, com muita violência e combates bem filmados. Duas batalhas são grandiosas, com muita ação, mas também com a história se desenvolvendo durante elas, reviravoltas e estratégias. A nova série da Netflix, tal qual sua antecessora, faz bom uso de eventos históricos para criar uma narrativa fictícia sustentadas pelos fatos.

Talvez por já ter um público cativo desde a estreia, “Valhalla” vai direto ao ponto e nunca desacelera. Há de se ressaltar também que as navegações e invasões vikings eram bem mais atrativas do que a morte da cultura. A impressão que a série passa é a de uma história de resistência, com os últimos e heroicos mantenedores de algo outrora tão importante. Com 24 episódios já encomendados pela Netflix (provavelmente três temporadas), a série se permite chegar com tudo no primeiro ato para talvez oferecer um respiro durante seu desenvolvimento e na construção de novos conflitos.

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Leo Suter como em Vikings: Valhalla. Crédito: BERNARD WALSH/NETFLIX

A comparação é inevitável, mas “Vikings: Valhalla” ao menos se esforça para ser um produto novo que pode não ter o impacto do original, mas que talvez seja superior às últimas temporadas dele. Não faria sentido repetir tudo o que já foi feito quando se quer justamente retratar a queda da cultura viking, o fim de uma era. Falta à série algo que prenda o espectador de imediato, mas a ação é excelente e o universo construído pela série é interessante o suficiente para querermos voltar a ele várias vezes.

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