Crítico de cinema e apaixonado por cultura pop, Rafael Braz é Jornalista de A Gazeta desde 2008. Além disso é colunista de cultura, comentarista da Rádio CBN Vitória e comanda semanalmente o quadro Em Cartaz

"Thor: Amor e Trovão" é o melhor filme da Fase 4 da Marvel

Novo filme segue o estilo de estética e o humor de "Thor: Ragnarok", mas leva o universo Marvel para as comédias românticas

Vitória
Publicado em 06/07/2022 às 13h06
Filme
Filme "Thor: Amor e Trovão". Crédito: Marvel/Divulgação

A jornada de Thor no Universo Marvel é das mais curiosas. Lançado em 2011, o primeiro filme do herói era (dentro do possível) mais sério, com aspirações shakesperianas sob o comando do grande Kenneth Branagh, mas serve apenas como uma apresentação ao personagem dentro daquele universo. Após o destaque obtido no primeiro “Vingadores”, “Thor: Mundo Sombrio” deveria dar um impulso à carreira solo do filho da Asgard, mas o filme flerta com o desastre. Dirigido por Alan Taylor, um cineasta genérico, o filme tem boa ação, mas um roteiro ruim e um vilão risível - é considerado por muitos o pior filme da Marvel.

A sorte do Deus do Trovão mudou quando suas rédeas foram entregues a Taika Waititi, cineasta autoral que vinha do humor e imprimiu sua assinatura em “Thor: Ragnarok”, um filme que dialogava mais com a ficção científica de “Guardiões da Galáxia” do que com tramas de intrigas e reinos, tudo com o estilo de comédia absurda do cineasta neozelandês. O resultado foi um sucesso absoluto e uma bilheteria de mais de US$ 850 milhões; mesmo não batendo a almejada marca do bilhão, o filme foi considerado um sucesso embalado pelas boas críticas e pela reação do público mundo afora.

Foi o sucesso de “Ragnarok” que possibilitou “Thor: Amor e Trovão”, quarto filme solo do herói asgardiano nos cinemas, mais do que qualquer outro personagm do MCU. Novamente dirigido por Taika Waititi, o filme logo apresenta seu vilão antes de trazer uma narração de Korg (Waititi) para a história de Thor (Chris Hemsworth) - em um texto ótimo, somos lembrados de todos os acontecimentos dos primeiros filmes e também do processo de depressão pelo qual passou após o confronto inicial com Thanos. A introdução também mostra como a parceria com os Guardiões da Galáxia tem ajudado Thor nessa recuperação.

Neste ponto da História da humanidade, é impossível dissociar a imagem de Thor da de Chris Hemsworth, e é por isso que o público compra o drama do personagem, pois o acompanhamos há cerca de 10 anos e já nos sentimos próximos a ele. O Thor de “Amor e Trovão” é um sujeito entre a divindade e a humanidade, entre o etéreo e o palpável, e, por isso, funciona bem como o parte da comédia romântica que é o filme. Sim, “Thor: Amor e Trovão” é uma comédia romântica, e das boas.

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Filme "Thor: Amor e Trovão". Crédito: Marvel/Divulgação

Com 119 minutos de duração, o novo “Thor” é o segundo menor filme da Marvel, apenas um minuto atrás da outra comédia romântica do mesmo universo, “Homem-Formiga e a Vespa”. O texto e a condução de Waititi entendem bem a necessidade por uma agilidade narrativa e a trama demora muito pouco para ser colocada em movimento. Logo após a montagem inicial, Thor precisa abandonar seu novo “trabalho” ao lado dos Guardiões para enfrentar uma nova ameaça, Gorr (Christian Bale), o Carniceiro dos Deuses, que vem fazendo jus ao apelido e dizimando deuses por onde passa.

Não demora, também, para o filme reintroduzir Jane Foster (Natalie Portman) ao universo. Digna de portar o Mjolnir, ela agora é a Poderosa Thor e talvez quem mais se beneficie da abordagem para Waititi no filme. Claro, os poderes ajudam, mas a “nova” Jane Foster protagoniza várias cenas, tem ótimas falas, grandes lutas e é quem tem o melhor e mais satisfatório arco em todo o filme; Jane é o coração de "Thor: Amor e Trovão".

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Filme "Thor: Amor e Trovão". Crédito: Marvel/Divulgação

O tom de texto e a estética de “Ragnarok” continuam presentes em um filme colorido e  sempre em busca da risada. As montagens musicais buscam exageradamente a nostalgia - se "Sweet Child 'O Mine" no trailer te empolgou, se prepare porque o filme usa outras três músicas do clássico "Appetite for Destruction" . As cenas de ação tem ótima coreografias e são excelentes mesmo quando abusam da computação gráfica,  menos tosca que a dos outros filmes da Fase 4 da Marvel nos cinemas, mas ainda parecendo borrões em tela quando ela é dominada pelos capangas de Gorr e com um exagero de cenas noturnas, mas a dessaturação como recurso narrativo é ótima. Com Christian Bale ótimo no papel e protagonizando boas sequências, o vilão se salva da mediocridade de seu arco, quase como um procedural, a ameaça da vez, uma subutilização de Bale.

É interessante como “Thor: Amor e Trovão” às vezes parece intencionalmente descolado do Universo Marvel. Apesar da aparente ousadia, Waititi opera em seu lugar seguro e usando todas as fórmulas e estruturas do MCU, o que muda é apenas a roupagem. O enxuto texto repete arcos de personagens que não dão em nada e desperdiça tempo que seria mais bem aproveitado na construção de uma premissa mais forte - as coisas fazem pouco sentido quando se desenrolam de forma quase boba. O roteiro, se analisado com cuidado, dá a impressão de ser um apanhado de boas ideias e sequências que não necessariamente funcionam bem juntas.

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Filme "Thor: Amor e Trovão". Crédito: Marvel/Divulgação

“Thor: Amor e Trovão” é superdivertido, colorido e está sempre em movimento. Sem o “choque” provocado por “Ragnarok”, no entanto, o filme se torna repetitivo em alguns momentos. Ainda assim, traz soluções inteligentes (o confronto final), boas piadas e bons atores, como a subutilizada Tessa Thompson, e se destaca como o melhor filme da Fase 4 do MCU sem depender de participações, aparições ou do frenesi “Homem-Aranha: Sem Volta Pra Casa” e “Doutor Estranho no Multiverso da Loucura”. Provavelmente terá gente batendo palmas e gritando nos cinemas, mas o filme não tem nessa catarse seu ponto alto, e isso é um grande mérito. Ah... as tradicionais duas cenas pós-créditos são bem satisfatórias, se relacionando tanto com o filme quanto com o futuro dos personagens.

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