Crítico de cinema e colunista de cultura de A Gazeta

"Por Lugares Incríveis", da Netflix, é drama teen levado a sério

Adaptação do sucesso literário de Jennifer Nivel, "Por Lugares Incríveis" é delicado e encantador ao tratar de temas como empatia e saúde mental

Publicado em 02/03/2020 às 14h50
Atualizado em 06/03/2020 às 09h55
Filme "Por Lugares Incríveis". Crédito: Michele K. Short
Filme "Por Lugares Incríveis". Crédito: Michele K. Short

Embalado pelo sucesso literário de livros como "A Culpa é das Estrelas", de John Green, e "Eleanor e Park", de Rainbow Rowell, a literatura para jovens adultos ganhou novos rumos. Os textos deixaram de lado a fantasia de obras como "Harry Potter" e "Jogos Vorazes" para oferecer aos adolescentes histórias mais palpáveis, com as quais poderiam se relacionar ainda mais. Não entenda mal: "Harry Potter" é incrível, mas, no final do dia, Harry ainda excepcional, o escolhido para a jornada do herói clássica.

Green e Park, assim como Stephen Chbosky ("As Vantagens de Ser Invisível") e Jay Asher ("Os 13 Porquês") antes deles, colocaram os holofotes sobre pessoas normais, com dilemas corriqueiros, normalmente "quebradas" e fora dos padrões estabelecidos - e há poucas coisas de que o cinema independente goste mais do que de pessoas que fogem a esses padrões. Não à toa, todas as obras supracitadas ganharam versões para as telonas ("Eleanor e Park" está atualmente em desenvolvimento) ou se transformaram em séries.

Isso também acontece agora com "Por Lugares Incríveis", baseado na obra de 2015 de Jennifer Niven. Levado às telas pela Netflix em forma de filme dirigido por Brett Halley (do ótimo "Coração Batendo Alto"), o texto acompanha Violet (Elle Fanning) e Finch (Justice Smith), dois jovens que vivem mundos distintos no colegial, mas cujos caminhos se cruzam em circunstâncias especiais.

Durante uma de suas corridas matinais pela cidade, Finch se depara com Violet em cima de uma ponte. A jovem perdeu a irmã e ainda não aprendeu a lidar com a ausência. Seus amigos não entendem a duração do luto e a própria Violet prefere se afastar até das atividades escolares. A relação entre ela e Finch se fortalece quando eles precisam fazer um trabalho em dupla sobre os "lugares incríveis" de Indiana.

Filme "Por Lugares Incríveis". Crédito: Michele K. Short
Filme "Por Lugares Incríveis". Crédito: Michele K. Short

A amizade dos dois cresce, Finch quebra a casca criada por Violet para se proteger apenas por saber ouvir e tentar se colocar no lugar dela. "Por Lugares Incríveis" é um filme sobre empatia, sobre se enxergar nos outros, mas também é um filme sobre saúde mental e doenças sociais.

Enquanto Violet é transparente em sua dor, Finch esconde a sua atrás de citações inteligentes e tiradas espertas. Aos poucos vamos, juntamente com Violet, conhecendo o personagem. O contraste entre eles é curioso e confere profundidade à trama. Há, sim, alguns problemas de narrativa - algumas descobertas parecem repentinas, mas talvez seja assim que a vida funcione nesses casos; é aquela velha história de que a depressão não tem rosto e pode estar escondida por trás de sorrisos e piadas.

Narrativa

"Por Lugares Incríveis" tem variações interessantes de ritmo. Enquanto os primeiros 20 minutos são mais ágeis e logo entregam a dinâmica do filme, todo segundo ato é cadenciado para que o espectador possa conhecer seus protagonistas. O envolvimento dos protagonistas encanta (uma sequência é particularmente especial) e as atuações de Elle Fanning e Justice Smith são especiais. O jovem, desde o primeiro momento, mostra que há muito mais em seu personagem do que um sorriso bonito e boas tiradas - há dor em seu olhar. Já Elle cria uma armadura para Violet e permite que o público vá, pouco a pouco, conhecendo suas camadas.

Filme "Por Lugares Incríveis". Crédito: Michele K. Short
Filme "Por Lugares Incríveis". Crédito: Michele K. Short

O filme de Brett Halley é redondinho, pronto para agradar. Apoiado no bom material original, ele segue uma estrutura clássica de três atos bem definidos, mas foge dos dramas convencionais do gênero e das viradas fáceis do roteiro. Autora do livro e corroteirista do filme ao lado de Liz Hannah (do divertido "Casal Improvável"), Jennifer Niven cria ótimos personagens, complexos e encantadores, para mostrar ao mundo que os dramas adolescentes vão além da popularidade na escola e da descoberta sexual.

Com fotografia impecável e trilha sonora moderninha, "Por Lugares Incríveis" é divertido, adorável, mas também é pesado sem se tornar explícito. O filme, assim como o livro, mostra que nunca se sabe pelo que o outro está passando, qual a dor de cada um. A trama perde um pouco a sutileza em seu prólogo, mas a essa altura o texto já conquistou o espectador com sua mensagem e seus personagens.

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